RIO (lindo) – Vamos falar de Mugello. É a primeira vez que a F-1 corre lá, e qualquer coisa que a F-1 fizer na Itália é pouco. Adorei a ideia de três corridas no país neste ano. Depois dessa ainda tem Imola. Eu amo a Itália, se pudesse teria ido a essas três provas.
Na foto acima dá para ver que pela primeira vez tem público num GP. Limitadíssimo. São 2.880 pessoas convidadas da Ferrari, basicamente. A equipe comemora seu milésimo GP, como todos sabem.
Vai ser um fracasso, o carro não anda nada, não andou nada de novo no segundo treino livre hoje, mas o que vale é a festa, creio. Abaixo, os tempos. Como se vê, 1s5 para o líder é uma tristeza.
Mas depois falo da Ferrari. Voltemos a Mugello.
Mugello não é nome de cidade, nem de algum molho para macarrão, não sei direito o que é. Sei que é como chamam a região, a 35 km de Florença, e que desde 1914 a italianada corre de carro por ali. No início havia um enorme circuito de estrada de 66,2 km de extensão e mais de 400 curvas ligando pequenas cidades, aldeias e vilarejos. Imaginem como se matavam naqueles tempos numa pista tão grande. Devia ser bem divertido.
A última corrida stradale aconteceu em 1970. Em 1974 construíram o autódromo e batizaram de Mugello. São 5.245 m de extensão, nove curvas para a direita, seis para a esquerda e um traçado imutável desde a inauguração. Em 1988 a Ferrari comprou a pista para fazer testes e estrepolias com proprietários ricos de carros vermelhos e amarelos. A MotoGP também corre lá e é um evento exuberante e alegre. Aliás, falando nela, ano passado Dovisioso chegou a 356,7 km/h na reta dos boxes com sua Ducati. Os F-1 não chegarão a tanto.
A freada depois dessa reta dá na curva San Donato, único ponto propício para ultrapassagens no circuito. No mais, é uma sequência de curvas rápidas de raio longo que os pilotos adoram — mas que não necessariamente produzirão uma corrida espetacular, e espero que eu esteja errado.
Uma das coisas legais de Mugello é que as curvas têm nome, e não números. Foram batizadas com nomes de antigas fazendas e casas da região, ou mesmo de velhos pilotos dos tempos em que a nonna fazia molho de tomate sem tirar a casca e as sementes — como Materassi e Biondetti. O trecho mais bacana é a sequência das curvas Arrabbiata 1 e 2, que começa descendo e termina subindo, com o pé embaixo e o fiofó fechado. O nome vem de uma antiga estrada que dá acesso ao circuito.
Outra coisa marcante de Mugello é que foi lá que Kimi Raikkonen, exatamente 20 anos atrás, sentou num carro F-1 pela primeira vez. E, na prática, da mesma equipe. Ele fez um teste pela Sauber, que hoje é a Alfa Romeo. Muita gente da época ainda trabalha no time. Kimi, em 2000, tinha meras 23 corridas de automóveis no currículo, e a coisa mais veloz que pilotara até então fora um F-Renault.
No fim do primeiro dia, com dores no pescoço, pediu para parar, caso contrário não conseguiria continuar no dia seguinte. Continuou no dia seguinte. Foi contratado imediatamente, fenômeno que sempre foi — eu acho Raikkonen um fenômeno em tudo. Aliás, subam lá nos tempos. Ele ficou em nono, hoje. O melhor carro com motor Ferrari da sexta-feira.
Kimi é um fenômeno e pronto.
A Renault virou bem hoje com Ricardão em quinto e L’Ocon em sexto, a Mercedes fez 1-2, normal, e a Red Bull cravou 3-4. Pela ordem, com Bottas-Hamilton e Verstappen-Albon. Tudo normal, normal e normal.
Inclusive a Ferrari se arrastando lá atrás, com sua linda pintura grená para lembrar a cor usada nas primeiras corridas do time, em 1950. Vettel, inclusive, teve algum problema de motor que ainda não sei qual foi — talvez sua própria existência…
De manhã, Leclerc chegou a dar alguma esperança aos mais desavisados com um terceiro lugar no primeiro treino livre, mas tudo não passou de ilusionismo.
E para fechar com as notícias do dia, vamos por itens:
- Fez calor pacas hoje, com a temperatura chegando a 29°C. Os pneus, por consequência, estão sofrendo. Mas os pilotos, muito mais. Todos, sem exceção, reclamaram que terão dores no pescoço domingo à noite por causa das características do traçado, com suas curvas longas e rápidas.
- Pérez deu uma barbeirada na saída dos boxes e bateu em Raikkonen. Acabou sendo punido e vai perder uma posição no grid.
- O recorde de Mugello para um carro de F-1, até hoje, pertencia a Rubens Barrichello: 1min18s704 em testes privados da Ferrari em 2004. Já caiu.
- E a última aparição oficial da F-1 em Mugello data de 2012. Fizeram uma sessão coletiva de testes que teve Grosjean, na então Lotus preta (que hoje é a Renault), com o primeiro tempo: 1min21s035.
- A McLaren colocou à venda suas instalações em Woking por 200 milhões de libras. Mas quer ficar por lá mesmo. O negócio que foi apresentado ao mercado é: alguém compra e aluga pra gente. O grupo precisa se capitalizar.
- Por fim, notícia que enche este escriba de orgulho. O GP da Toscana será narrado, na TV Globo, por Everaldo Marques. Evê começou a carreira comigo no Fórmula Jovem Pan, programa que eu tinha na ex-rádio paulistana, e depois foi um dos primeiros redatores do Grande Prêmio lá pelos idos de 2000. Ficou uns três anos no site. Finalmente dominamos a emissora do Jardim Botânico!
Sei que vocês querem notícias de meu informante Gola Profonda, mas calma, calma! Ele só costuma aparecer aos sábados e domingos. Agora vamos aproveitar a sexta-feira.