Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE DOMINGO DE MANHÃ

RIO (continue) – Talvez eu pudesse ter escolhido outras imagens para lembrar para todo o sempre o GP da Toscana, como alguma relargada, acidentes, até o pódio inédito de Alexander O Bom. Mas fiquemos com Hamilton e sua cruzada pela justiça. A FIA ameaçou “investigar” o uso da camiseta no pódio. Lewis respondeu: vou continuar […]

RIO (continue) – Talvez eu pudesse ter escolhido outras imagens para lembrar para todo o sempre o GP da Toscana, como alguma relargada, acidentes, até o pódio inédito de Alexander O Bom. Mas fiquemos com Hamilton e sua cruzada pela justiça. A FIA ameaçou “investigar” o uso da camiseta no pódio. Lewis respondeu: vou continuar fazendo. A FIA desistiu de sequer cogitar uma punição ao inglês.

Abriu-se um precedente? Alguém poderia fazer campanha para algum candidato a prefeito em sua cidade? Pregar o nazismo? Gente, sejamos sensatos. Há causas justas, há oportunismo, há estupidez. O que Hamilton defende é uma causa justa. Ponto, parágrafo.

Masili: sim, politizamos tudo, e daí?

Falando em estupidez, adorei a leitura da corrida na pena de nosso cartunista oficial Marcelo Masili em tempos de caça aos comunistas, destruição da Amazônia e do Pantanal com estímulo e entusiasmo do governo federal, negacionismo da pandemia e campanhas anti-vacina. O idiota-mor da nação deve ter visto o GP da Toscana assim, mesmo. Tomando, evidentemente, suco de laranja.

Sigamos.

Domingo deixei passar (de propósito, para usar hoje) evento dos mais emocionantes em Mugello: Mick Schumacher, agora líder da F-2, dando umas voltas com a Ferrari de 2004 que deu ao seu pai o sétimo e último título mundial. “Foi uma honra”, disse o filho de Michael. Pena que as arquibancadas estavam praticamente vazias.

Mick no carro de Michael: Schumáqueres em Mugello

Chamei a corrida de 3 em 1 pelas três largadas pelo preço de uma, mas no fim das contas a mais espetaculosa de todas foi atrás do safety-car, logo no início da prova. O acelera-breca-acelera de novo-breca pra não bater-ih, fodeu tirou quatro carros da corrida. E levou o sempre sereno Romain Grosjean a proferir…

A FRASE DE MUGELLO

Grosjean: o menino maluquinho surtou

Que estupidez de quem está na frente, seja quem for! Querem nos matar a todos? É a pior coisa que vi na vida!

Nada menos do que 12 pilotos foram advertidos pela confusão depois de os comissários analisarem o vídeo por todos os ângulos possíveis: Albon, Norris, Ricciardo, Sainz, Giovinazzi, Pérez, Stroll, Russell, Latifi, Ocon, Magnussen e Kvyat. Como se vê, nenhum dos que estavam na frente foi arrolado na peça acusatória. Portanto, a FIA isentou Bottas, Hamilton e Leclerc, os três primeiros da que deveria ser uma fila indiana para o reinício da prova.

O fato é que todos demonstraram algum desconhecimento das regras e se atrapalharam. Bottas, na dele, deixou para acelerar na linha de chegada, que em Mugello fica lá na frente. Podia ter feito isso antes, mas é prerrogativa do líder do pelotão estabelecer o ritmo até a dita linha de chegada. Certamente as bandeiras verdes e as luzes nos painéis eletrônicos ajudaram a confundir a turma que vinha atrás. É algo que precisa ser conversado entre todos. Poderia ter sido um acidente muito grave.

O NÚMERO DA TOSCANA

Senna em paz: ufa!

…menção a Ayrton Senna foi feita na transmissão do GP da Toscana pela TV Globo, que teve a estreia de Everaldo Marques como narrador. Creio que tenha sido algo inédito desde 1984, quando o brasileiro estreou na F-1.

Alguém haverá de dizer que persigo Senna, que não gosto dele, que não respeito sua história, que não sou patriota, que ele é o maior do mundo, que eu tenho de lavar a boca para falar do nosso Ayrton e das nossas manhãs de domingo, que isso, que aquilo, mas foi só uma observação que considero pertinente.

Já disse — e escrevi — várias vezes que a insistência em usar Senna como referência para tudo que acontece numa corrida é, antes de mais nada, um equívoco jornalístico. Ele morreu há 26 anos, corria numa época muito diferente, e quase nada do que fazia se aplica à F-1 de hoje, do ponto de vista técnico.

Do ponto de vista histórico, OK. É claro que não se podem ignorar seus feitos e conquistas — e erros e acertos –, às vezes cabe um caso aqui e outro ali, mas ele foi o único brasileiro a conseguir algo notável nas pistas? Narradores e comentaristas nunca tiveram chance de falar nada sobre Piquet, Emerson, Massa, Barrichello e tantos outros?

Não sei se foi proposital. Só sei que foi assim. Um alívio.

Mercedes: rumores dão conta de venda para a Ineos

No noticiário da semana, surgiu a informação a partir de comentários de Eddie Jordan de que a Ineos, uma multinacional do ramo petroquímico com sede na Inglaterra, estaria prestes a comprar 70% da Mercedes. Todos os lados desmentiram. Mas é bom ficarmos espertos com essas notícias bombásticas. A Ineos passou a patrocinar a equipe neste ano.

E já que estamos falando de notícias bombásticas, vocês devem estar se perguntando por onde anda Gola Profonda, meu informante na Ferrari que no domingo simplesmente desapareceu. O que me causou estranheza, porque a equipe, no fim das contas, conseguiu pelo menos terminar a corrida com seus dois carros nos pontos.

A gente se falou ontem. Gola estava deprimido. Por causa do salame e do Lambrusco?, perguntei. Me referia à festa fajuta dos mil GPs da equipe, que nem uns canapés providenciou para funcionários e convidados. “Não, até que o salaminho estava gostoso, e Lambrusco geladinho vai bem. O problema é que parece que vão adotar essa cor aí da corrida até o fim do ano. E você sabe, eu gosto de vermelho, sou de Xangô. Essa cor aí vai dar ruim.” Eu não sabia que Gola era de Xangô, e achava que marrom era de Xangô, mas não sou versado nas coisas da umbanda e preferi não esticar o assunto dado meu total desconhecimento sobre o tema. Optei por ficar nos aspectos técnicos. Vão manter a cor, mas e o carro?, perguntei. “Já mandamos pra Sochi. Acabaram de enviar a foto. Ideia do Seb. Ciao, vou tomar um passe. Sou de Xangô, essa cor aí vai dar ruim.”

Chegou a foto.

A Ferrari para o GP da Rússia: cor definida, aerodinâmica refinada

Confesso que gostei muito, especialmente das linhas aerodinâmicas, que devem favorecer a equipe no traçado usado para o GP da Rússia.

Ops, já estava esquecendo do “gostamos” e “não gostamos”. Vamos lá, para fechar o boteco toscano:

GOSTAMOS

Albon: um pódio, finalmente

…de ver Alexander Albon >>> finalmente no pódio. Ele é bom piloto, tinha batido na trave em Interlagos no ano passado e não merece ser triturado pelo moedor de carne da Red Bull. Não é fácil ser companheiro de Verstappen, convenhamos. Fez uma corrida muito decente, terminou em terceiro e garantiu a sobrevida até o fim da temporada, pelo menos.

NÃO GOSTAMOS

Gasly: abandono precoce

…de ver <<< Pierre Gasly fora da prova logo na primeira volta, depois de um sanduíche que o deixou sem ação. É muito ruim ganhar uma corrida e na seguinte abandonar sem chance de mostrar nada. Kvyat chegou em sétimo, o que me faz pensar que Pierre poderia, numa prova tão acidentada como essa, marcar uns pontinhos interessantes para a AlphaTauri.