Blog do Flavio Gomes
F-1

N’EMILIA-ROMAGNA (3)

SÃO PAULO (valeu, sim) – Mais uma dobradinha, de novo com Hamilton na frente e Bottas em segundo no GP da Emilia-Romagna. Imola nos ofereceu uma corrida legal, nessa sua volta ao calendário depois de 14 anos. E a Mercedes, com o resultado, assegurou seu sétimo título seguido de construtores, batendo o recorde da Ferrari […]

SÃO PAULO (valeu, sim) – Mais uma dobradinha, de novo com Hamilton na frente e Bottas em segundo no GP da Emilia-Romagna. Imola nos ofereceu uma corrida legal, nessa sua volta ao calendário depois de 14 anos. E a Mercedes, com o resultado, assegurou seu sétimo título seguido de construtores, batendo o recorde da Ferrari — campeã por seis anos consecutivos entre 1999 e 2004. Na foto acima, não sei se vocês perceberam, Toto Wolff está com um velho boné de Niki Lauda, ainda dos tempos da Parmalat. Que homenagem mais linda, putz…

Na largada da 100ª corrida de F-1 disputada na Itália na história da F-1, Bottas foi bem e Verstappen, mais ainda. Partiu feito um foguete no rastro do finlandês e Hamilton, quando olhou para o lado, viu a Red Bull passando alegremente. Cair para terceiro na primeira volta não estava nos planos do líder do Mundial. Mais atrás, Giovinazzi ganhava o título de “el gran largador”, saindo de 20º para 14º. Inventei o título agora. E Vettel, de “el pequeño”, ao se enroscar no pobre Magnussen. Deixando alguns pedaços de carro na pista, que acabariam tendo uma importância desmedida, como veremos depois.

Pedaços do carro de Vettel afetaram Bottas: desde a segunda volta, finlandês teve problemas

Bottas, Max e Hamilton dispararam na frente à razão de 1s por volta em cima dos outros. Na sétima volta, Valtteri já tinha 9s4 sobre Ricardão, o quarto colocado. O trenzinho previsto por Lewis se desenhou. Apesar do charme, da velocidade e do prazer de dirigir, Imola não oferece grandes chances de ultrapassagem. E parecia que a prova seria assim, sem graça até o fim.

Qual o quê. Aconteceu foi muita coisa.

Na volta 9, Gasly foi chamado aos boxes para abandonar. Estava em quinto quando o engenheiro da AlphaTauri entrou no rádio e avisou, em tom solene, que o carro tinha “um problema terminal” — antes mesmo da largada, o time identificou algo no sistema de circulação de água, que poderia levar ao superaquecimento e a fundir o motor, no popular. Motivo oficial para o abandono: radiador. Cinco voltas depois, para a turma da frente, abriu-se a janela de pit stops. Leclerc foi o primeiro a parar e colocou pneus duros. Caiu de quinto para 13º. Na 15ª, vieram ao mesmo tempo Ricciardo, Albon e Kvyat.

Leclerc: quinto lugar, boa corrida e participação digna em casa

Verstappen foi aos boxes na volta 19. Estava pouco mais de 2s atrás de Bottas, que não escapava, mas também não permitia uma aproximação mais perigosa. Bottas veio na volta seguinte. Nessa hora, Hamilton avisou pelo rádio: “Não me parem!”. Assumiu a ponta e foi atrás da única coisa que podia fazer para tentar ganhar a corrida: acelerar feito um louco até seu pit stop, para voltar dos boxes na frente de Bottas e Verstappen.

Daria?

O suspense durou até a volta 31, quando Lewis, finalmente, parou. Valtteri, àquela altura, preocupava-se mais com Max atrás dele do que com a posição de seu companheiro na hora da parada, porque o holandês resolveu pressionar. Se tivesse tempo de olhar para o cronômetro, ficaria arrepiado. O inglês começou a empilhar volta mais rápida atrás de volta mais rápida, para fazer o conhecido “overcut” — que, numa tradução livre, seria algo como “dar um pedal no rival desavisado parando depois dele”.

Hamilton leva mais uma: acelerou quando precisava e venceu seu 93ºGP

Essa diferença de 11 voltas entre a parada de Bottas e a de Hamilton decidiu a corrida. Lewis, mais uma vez nesta temporada, administrou bem melhor o desgaste de sua borracha e com isso anulou os efeitos da largada ruim, para desespero de Bottas. E ainda deu muita sorte porque Ocon abandonou, o safety-car virtual foi acionado e foi nesse momento, com todos mais lentos na pista, que a Mercedes chamou sua estrela para os boxes. Ele trocou os pneus e voltou 3s8 à frente do desafortunado parceiro.

Esticando o primeiro stint e adiando o pit stop até o limite do aceitável, Vettel, Raikkonen e Latifi (!) eram os três que vinham depois do trio Hamilton-Bottas-Verstappen na altura da volta 35, num fugaz momento de glória para quem tinha largado lá atrás. Foi quando o canadense endinheirado parou e desfez o conto de fadas, sendo seguido depois pelos dois veteranos. A parada de Vettel, na volta 40, foi desastrosa, em 13s. Perdeu-se tempo quando o mecânico perguntou se ele queria dar uma olhada na água e no óleo, e Sebastian disse que sim. Depois, o cartão não passou. Era débito, e o mecânico selecionou crédito na maquininha. Kimi só iria parar na volta 49, caindo de quarto para 12º.

Ricciardo, terceiro: feliz da vida quando Pérez parou sem precisar

Na volta 37, Verstappen grudou em Bottas, que deu uma ligeira escapada e foi avisado, pelo rádio, que desde a segunda volta tinha um problema no assoalho do carro. Segundo a Mercedes, teria sido causado por algum detrito na curva 7, a Tosa — vocês viram na foto lá no alto os danos causados por pedaços da Ferrari de Vettel. Com isso, Hamilton desapareceu na frente, abrindo mais de 10s de vantagem. Minha aposta em Valtteri, feita ontem com grande autoridade, foi para o espaço.

Bottas resistiu em segundo até a volta 43, quando foi para a brita na Rivazza, espalhou pedriscos por todos os lados e permitiu que Verstappen chegasse de vez. A ultrapassagem aconteceu na freada para a Tamburello — Max não perde tempo nessas horas. Pista antiga é assim, não perdoa erros. Fosse a área de escape asfaltada, como nos circuitos modernos, as consequências do erro de Valtteri não seriam tão drásticas.

A partir daí, seria só esperar pela quadriculada, sem maiores surpresas. Mas que nada… Na volta 51, na aproximação para a chicane Villeneuve, estourou o pneu traseiro direito de Verstappen e ele saiu rodando até atolar na brita. O safety-car foi acionado e Bottas foi esperto, parando nos boxes para colocar pneus macios. Hamilton teve uma volta inteira para fazer o mesmo e quase perdeu a posição. Mas deu tempo de trocar e voltar em primeiro. Quem perdeu com a parada foi Pérez, caindo de terceiro para sexto. Ainda com o safety-car na pista — atrás dele, na verdade –, Russell rodou sozinho e bateu. O inglês se martirizou nas redes sociais. Mas contou com o apoio dos colegas, como Hamilton e Grosjean.

A relargada veio na volta 58. E foi alucinante. Pérez caiu para sétimo, mas passou Albon na marra imediatamente reassumindo o sexto lugar. Kvyat fez ainda melhor, e como um foguete passou três carros — Leclerc foi o último deles — para ganhar a quarta colocação e foi ao ataque para cima do terceiro, Ricciardo — valia a última posição no pódio e o russo tinha pneus macios novos. O mexicano, também com macios novos, partiu para cima de Charlinho.

Mas não deu tempo nem para Pérez, nem para Kvyat, embora o russo não tivesse do que reclamar. Fez sua melhor corrida no ano e conseguiu terminar em quarto, um resultado excepcional.

Kvyat em quarto: melhor atuação na temporada

Leclerc e Ricciardo se seguraram e terminaram na frente dos que os atacavam. Hamilton venceu pela 93ª vez na carreira, com Bottas em segundo e Ricciardo levando um troféu pela segunda vez no ano. Kvyat, Leclerc, Pérez, Sainz, Norris, Raikkonen e Giovinazzi fecharam a zona de pontos — palmas para a Alfa Romeo, com os dois entre os dez primeiros em casa.

Giovinazzi, décimo: a Alfa colocou os dois nos pontos

Valeu a volta, Imola. O melhor time da história merecia levantar a taça num lugar igualmente histórico. E que essas imagens se eternizem, porque não sei quando a gente vai ver de novo uma equipe tão dominante assim. E nem se Hamilton estará nela em 2021. Porque depois da corrida, o inglês falou que não sabe ainda se vai continuar na F-1. “Quero estar aqui no ano que vem, mas ainda não há nenhuma garantia de que isso vá acontecer”, disse o inglês.

Será? Apostem vocês. Eu já não duvido de nada nesta vida.