Blog do Flavio Gomes
Autódromos

VITÓRIA PARCIAL

RIO (certo alívio) – Há uma enorme insistência dos, hum…, “empreendedores” que querem fazer um autódromo em Deodoro em derrubar a Floresta do Camboatá. Nas últimas semanas, eles sofreram uma derrota com a apresentação do parecer desfavorável do INEA (Instituto Estadual do Meio-Ambiente), apontando diversos buracos e imperfeições — para não dizer irregularidades — no […]

RIO (certo alívio) – Há uma enorme insistência dos, hum…, “empreendedores” que querem fazer um autódromo em Deodoro em derrubar a Floresta do Camboatá. Nas últimas semanas, eles sofreram uma derrota com a apresentação do parecer desfavorável do INEA (Instituto Estadual do Meio-Ambiente), apontando diversos buracos e imperfeições — para não dizer irregularidades — no estudo de impacto ambiental encomendado pelo consórcio Rio Motorpark. O Ministério Público do Rio de Janeiro também já se manifestou contra o evidente crime ambiental que representaria derrubar uma floresta com mais de 200 mil árvores, solicitando que a CECA (Comissão Estadual de Controle Ambiental) indefira o pedido de licença para a construção do que quer que seja no local.

Há componentes políticos aí, no entanto, que não podem ser ignorados. O relatório do INEA sobre o estudo de impacto ambiental foi exemplar. Elaborado por técnicos comprometidos com suas funções, explicitou com dados e informações muito claras e baseadas na ciência as inconsistências do estudo. Mas em suas conclusões finais, não foi explícito ao recomendar, pura e simplesmente, que a licença não seja concedida. Segundo informações apuradas pelo Grande Prêmio, essa solicitação de indeferimento do pedido fazia parte do texto original, mas o trecho foi suprimido na versão final por pressões políticas de gente do governo fluminense que ocupa posições de comando no instituto.

Assim, caberia à CECA analisar o relatório e decidir pela negativa da licença. Só que a reunião do órgão, ontem, tinha cartas marcadas. Por 10 votos a 3, decidiu-se pelo reenvio do processo ao consórcio de, hum…, “empreendedores” para que sejam respondidos os pontos que o INEA apontou como irregulares e determinantes para que a licença não seja concedida. Os votos pelo indeferimento — que sepultaria de vez essa loucura — foram do Ministério Público, do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) e da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). São órgãos independentes e cientes do potencial de destruição que o, hum…, “empreendimento” apresenta. Os outros membros da comissão, escolhidos a dedo pelo governo do Estado sabe-se lá com qual preparo para analisar a questão, determinaram que novo estudo seja feito.

Assim, a vitória celebrada a partir do extenso relatório feito pelos técnicos do INEA acabou sendo apenas parcial, já que os, hum…, “empreendedores” vão insistir em liberar a área do Camboatá para suas estripulias imobiliárias. Como diz o André Buriti, que na época da demolição de Jacarepaguá se transformou no principal defensor do velho autódromo, o placar foi de 10 a 3 “pela procrastinação” do caso — aliás, recomendo firmemente a leitura de seu último artigo, neste link.

Vamos ver até onde essa gente esquisita vai insistir com o tema, ainda mais depois das pancadas que levou — como a perda dos direitos de TV da F-1, estranhamente “vendidos” pela Liberty ao consórcio, e a renovação do contrato da categoria com Interlagos por mais cinco anos. O mais importante, agora, é saber que a floresta, pelo menos por enquanto, está salva.