Blog do Flavio Gomes
F-1

EMILIA, EMILIA, EMILIA (3)

SÃO PAULO (chuva, como gostamos de você!) – Se ficar falando aqui como o GP da Emilia-Romagna foi espetacular, sensacional, emocionante, bonito e marcante vocês vão ficar de saco cheio, né? Bom, então está dito, foi tudo isso mesmo. Max Verstappen (Verstappinho, para quem odeia meus apelidos infantis) venceu a primeira no ano e Hamilton […]

Verstappen: 11ª vitória numa corrida sensacional

SÃO PAULO (chuva, como gostamos de você!) – Se ficar falando aqui como o GP da Emilia-Romagna foi espetacular, sensacional, emocionante, bonito e marcante vocês vão ficar de saco cheio, né? Bom, então está dito, foi tudo isso mesmo.

Max Verstappen (Verstappinho, para quem odeia meus apelidos infantis) venceu a primeira no ano e Hamilton chegou em segundo. Inverteram o resultado do Bahrein. Mas o inglês está na frente por um ponto porque fez a melhor volta hoje, e acho que ele faz essas coisas de sacanagem. Não é possível. Depois de tanta coisa que aconteceu na corrida, incluindo um erro bobo — e raro –, o cara ainda tem a petulância de fazer a melhor volta no fim só para não dar o gostinho a Max de liderar o campeonato. Que piloto, esse cara. Coisa incrível.

Para começar a contar a história da prova de hoje em Ímola é preciso falar da largada. Ontem, dizíamos aqui que a Red Bull iria partir para cima de Hamilton, o pole, como hienas famintas com seus dois pilotos — Pérez em segundo no grid, Verstappen em terceiro.

Foi mais ou menos assim. Lewis não largou muito bem, e Checo também não fez nada demais. Quem partiu com ganas de resolver logo a parada foi mesmo o holandês, que chegou à primeira chicane, na Tamburello, batendo roda com a Mercedes #44. Levou a ponta.

Chuva marota: ideal para uma grande corrida

A chuva que caiu na região preparou o terreno para a corridaça de Ímola. Fazia frio, 9°C, e os problemas para os mais desavisados começaram antes mesmo da largada, como Alonso rodando a caminho do grid, Leclerc escapando na volta de apresentação, Vettel tendo de partir dos boxes, Stroll com os freios pegando fogo.

Quase todos largaram de pneus intermediários — exceções foram os dois da Haas, mais Ocon e Gasly.

Pérez perdeu a posição para Leclerc logo na primeira volta e a Red Bull perdeu uma de suas hienas famintas. Mas como a outra já havia jantado, estava tudo bem.

A primeira panca do dia aconteceu logo de cara, quando Latifi se enroscou em Mazepin e provocou a primeira entrada do safety-car na prova. A favor do russo, que fique registrado: não teve culpa alguma no sinistro.

A permanência do safety-car na pista se alongou um pouco porque Schumaquinho bateu na entrada dos boxes, sozinho, enquanto aquecia pneus. Perdeu o bico, que ficou estendido no meio do asfalto enquanto não aparecia ninguém para retirar.

A relargada, ainda com muita água na pista, veio na volta 7. Sem spray na cara, Max foi abrindo. No fim da volta, tinha 3s3 sobre Hamilton. Como é um piloto bom de água, muito bom, transformou-se instantaneamente em favorito à vitória. OK, acabou acontecendo. Mas não foi fácil. E veio com alguns sustos.

Pérez: trapalhadas impediram o mexicano de entrar na briga

Até a volta 22, com Verstappen na frente e Hamilton a uma distância segura, o GP emílio-românico viveu um breve período de paz. Aconteceram algumas coisas, é verdade. Na volta 12, por exemplo, o desafortunado Pérez foi avisado que teria de pagar um stop & go de 10 segundos porque, durante o safety-car, rodou e perdeu duas posições. Em vez de ficar onde estava, ultrapassou Ricciardo e Gasly de novo, e não podia.

Um pouco mais atrás, Sainz não conseguia ficar na pista direito e dava seus passeios na brita, embora sem grandes consequências. Gasly, na volta 15, percebeu que a aposta numa chuva mais forte tinha sido furada e, depois de perder 200 posições, foi aos boxes trocar seus pneus “wet” para intermediários.

E na volta 17 a McLaren, sabiamente, pediu com delicadeza a Ricardão que deixasse Landinho passar, porque o inglês estava bem mais rápido. Daniel fez isso sem resmungar. Norris passou e foi embora. O terceiro lugar do garoto ao final da prova mostrou que todos estavam certíssimos. (Inclusive eu ontem, quando disse que a McLaren teria de dar essa ordem logo de cara, porque Lando seria seu principal piloto na prova, diante do visível desconforto de Ricciardo, ainda, com o carro da nova equipe.)

Ali pela 20ª volta a pista começava a secar e todo mundo esperava alguém arriscar os pneus para piso seco. Ninguém queria passar vergonha sozinho. Vettel, lá atrás, sem nada a perder, foi o primeiro a parar, na volta 22. Colocou pneus médios e foi à luta. Suas três ou quatro primeiras voltas não foram grande coisa — ainda tomou um stop & go porque a equipe perdeu o prazo de montar os pneus ainda no grid –, mas estava claro que no traçado ideal o asfalto já havia secado e os intermediários de todos estavam acabando.

Hamilton chegando: começo eletrizante

No seco, Hamilton começou a se aproximar de Verstappen. A distância, que era de 5s na volta 23, caiu para 2s na 27ª. A Red Bull, então, chamou o menino para os boxes na volta 28. A parada foi rápida, 2s2, e como o líder fez aquilo, todo mundo começou a fazer igual. Na volta 29, Hamilton parou. A Mercedes fez um pit stop meia-boca, em 4s, e ele voltou 5s8 atrás de Max. Mas começou a tirar a diferença. Na volta 31, ela caiu para 2s3. E, então, Lewis errou.

Não é muito comum, o cara tem feito corridas impecáveis desde a Era Paleozoica, mas se precipitou para passar Russell, retardatário, e colocou o carro num pedaço de pista molhada. Perdeu a freada, foi na brita e bateu de leve na barreira de pneus. Parecia fim de prova para ele. Todo mundo foi passando, e Hamilton só conseguiu se desvencilhar do enrosco em que se meteu colocando a marcha-à-ré para voltar à pista em sétimo, com o carro todo estropiado.

Aí veio seu momento de sorte. Enquanto parava nos boxes para trocar bico, para-choque, palheta do limpador de para-brisa, dar uma olhada no óleo e na água (o mecânico até ofereceu um aditivo, que Hamilton aceitou porque já não tinha mais nada a fazer na corrida), Russell fez uma tremenda cagada e a prova teve de ser interrompida.

Russell reclama com Bottas: culpa do inglês da Williams

Foi assim: Jorginho lutava pelo glorioso nono lugar com o apagadíssimo Bottas, entrou na reta, abriu a asa, jogou o carro para a direita, mas foi um pouco mais da conta — Bottas deu aquela puxadinha “psicológica” só para assustar, mas deixou espaço à vontade para o piloto da Williams — e colocou uma roda na grama molhada. O carro apontou para a esquerda e acertou Valtteri em cheio.

Foi uma batida muito violenta, os dois a mais de 300 km/h, e Russell saiu do carro furioso e foi tirar satisfações com o finlandês ainda grogue. “Você queria nos matar?” E deu um tapa no capacete do colega.

Beleza, a gente entende a raiva e o momento. Mas George estava errado. E não admitiu isso pelo menos até a hora em que escrevo este texto. Bottas ficou mais puto ainda e nas entrevistas que deu soltou o cães sobre o menino que, no fundo, quer seu lugar na equipe — Russell é piloto contratado da Mercedes, como se sabe.

Com pedaço de carro espalhado por todos os lados, a direção de prova meteu uma bandeira vermelha na volta 34 e parou a corrida. Hamilton, àquela altura, era nono colocado. Max liderava, seguido por Leclerc, Norris, Pérez, Sainz, Ricciardo, Stroll e Raikkonen. Tsunoda estava em décimo. Foi todo mundo para os boxes e Hamilton, assim que saiu do carro, se agachou, colocou as mãos na cabeça e disse para si mesmo: “Que merda que eu fui fazer?”.

Hamilton nos boxes: dando um reset na barbeiragem

Meia hora depois, sem chuva, todos de slick, a prova foi reiniciada com o pelotão atrás do safety-car em largada lançada — pelo que entendi, lembrando o que aconteceu em Mugello no ano passado, essa decisão de relargar andando ou parado é prerrogativa do diretor de prova. Hamilton era o oitavo da fila, porque Kimi também escapou atrás do safety-car. Verstappen tomou um susto danado no fim da volta de realinhamento, quase escapando também. Na volta 35 o safety-car saiu da frente e a corrida foi retomada.

Como Norris tinha pneus macios, passou fácil por Leclerc e insinuou um ataque a Verstappen. Mas Max nem deu bola e se mandou. A partir daí, com quase meia prova pela frente, as atenções se voltaram a Hamilton. Em oitavo, Lewis tinha carro para passar todo mundo, mas passar em Ímola é duro, e com trechos ainda úmidos, mais ainda.

E é nessas horas que aparece um campeão. Primeiro, subiu para sétimo na volta 38 graças a uma rodada besta de Pérez — que estava num péssimo dia. Depois, na 39ª, passou Stroll. Na 42ª, Ricciardo. Não perca a conta!, como diz Léo Batista. Ao ganhar a posição do australiano, Hamilton já era o quinto colocado, tendo à frente, pela ordem, Sainz, Leclerc e Norris para conseguir pelo menos o segundo lugar. Passou o espanhol na volta 50; levou a outra Ferrari na 55; e, finalmente, depois de sofrer um pouquinho, ganhou a segunda posição de Lando na volta 60ª. Aí, para humilhar o povo, fez a melhor volta da prova e colocou mais um pontinho no bolso.

Vitória da Red Bull e da Honda: 30 anos depois de Senna com o motor japonês

Verstappen recebeu a quadriculada com 22s cravados de vantagem sobre Hamilton e ganhou um GP pela 11ª vez na carreira — igualando pilotos como Barrichello, Massa e Jacques Villeneuve. Norris fechou o pódio, ganhando uma taça pela segunda vez na carreira. Leclerc, Sainz, Ricciardo, Gasly, Stroll (punido por ultrapassar fora dos limites da pista acabou perdendo uma posição, caindo de sétimo para oitavo), Ocon e Alonso fecharam a zona de pontos. Raikkonen tinha chegado em nono, mas caiu para 13º após punição de 30s por passar sob bandeira amarela. Vettel parou na última volta com problemas no câmbio. Pérez, que fizera uma ótima corrida de recuperação no Bahrein, desta vez pegou recuperação com um horroroso 12º lugar.

Foi a primeira vez que dois ingleses foram ao pódio juntos desde o GP da China de 2012, que teve Button e Hamilton, ambos da McLaren, atrás do vencedor Nico Rosberg, da Mercedes. E a Honda voltou a vencer em Ímola depois de 30 anos — a última fora com Senna em 1991, na McLaren.

Norris e a selfie: grande corrida do jovenzinho da McLaren

Na tabela, Hamilton foi a 44 pontos, contra 43 de Max. Norris, com 27, é o terceiro colocado. Na segunda corrida do ano, já está muito claro que o campeonato é de um dos dois, e que Bottas e Pérez, querendo ou não, diante da perspectiva de uma disputa muito apertada, terão de trabalhar para os companheiros o ano todo.

Amanhã faço um balanção das declarações pós-corrida (a melhor foi de Pebolim Wolff sobre Russell, o chefe ficou pistola da vida, disse que Goerge sabe que se trabalhar bem tem chance de correr na Mercedes, mas que se fizer merda vai acabar na Copa Clio, falou isso mesmo, Copa Clio). De noite, às 19h, tem “live ao vivo” no meu canal no YouTube. É só entrar aqui para a gente conversar sobre a corrida.

Bom domingo a todos.