Blog do Flavio Gomes
F-1

Ó, PÁ (3)

SÃO PAULO (mais ou menos…) – Olha, de cara, é bom que se diga: não foi uma corrida boa, essa de Portugal. Faltaram brigas e dramas. Sobrou o talento — de Hamilton, de novo. E, também, alguns muxoxos. Afinal, Verstappinho perdeu a pole, ontem, e o ponto extra de melhor volta, hoje, por conta dos […]

Hamilton: 97 vitórias e liderança ampliada

SÃO PAULO (mais ou menos…) – Olha, de cara, é bom que se diga: não foi uma corrida boa, essa de Portugal. Faltaram brigas e dramas. Sobrou o talento — de Hamilton, de novo. E, também, alguns muxoxos. Afinal, Verstappinho perdeu a pole, ontem, e o ponto extra de melhor volta, hoje, por conta dos limites de pista. É meio chato, isso. Mas regras são regras. Max também perdeu a corrida do Bahrein pelo mesmo motivo. Ele que aprenda a andar dentro da pista. Ah, mas a regra é besta? Pode até ser, mas existe. Então, não encham.

Hamilton ganhou a corrida fazendo duas ultrapassagens na pista, sem precisar de undercuts, overcuts ou ordens de equipe. Deu uma bobeada no início, perdendo a segunda posição para Verstappen, mas foi buscar. São 97 vitórias na carreira, duas neste ano, e a diferença que era de um ponto a favor na liderança do campeonato sobre Max subiu para 8. Há quem diga — quase todo mundo — que a Red Bull tem o melhor carro do ano. Começo a achar que não é assim tão simples, não. Se alguém duvidava da capacidade de reação da Mercedes, que fez uma pré-temporada ruim e começou o ano com um automóvel instável e imprevisível, é melhor não duvidar mais. O carro pode não ser mais tão melhor que o de sua principal adversária. Mas é bom o bastante para vencer corridas, ainda mais com um piloto como Hamilton ao volante.

Verstappen, segundo: pontos perdidos além dos limites das pistas

O GP de Portugal começou tranquilo, com Bottas se mantendo na frente depois da pole de ontem e Hamilton em seu encalço sem arriscar nada até o primeiro (e único) safety-car do dia, causado por uma barbeiragem inacreditável de Kimi Raikkonen no fim da primeira volta. Lá no pelotão da merda, na reta dos boxes, tentou passar Giovinazzi, errou o cálculo, tocou no pneu do companheiro, quebrou a asa, abandonou e encheu a pista de detritos.

Quando aconteceu a relargada, na volta 7, Verstappen aproveitou uma ligeira bobeada de Hamilton e assumiu a segunda colocação. Um pouco mais atrás, Pérez passou Sainz, que o tinha ultrapassado na largada, mas foi superado por Norris (me pareceu por fora dos limites da pista, mas os comissários nada disseram).

Em terceiro, Lewis respirou fundo e foi atrás de sua presa. Verstappinho fazia o que podia para tentar alcançar uma Mercedes, do líder Bottas, e fugir de outra, de Hamilton. Prensado entre os dois carros negros, acabou cometendo um errinho na volta 11 e dessa vez quem deu o bote foi o inglês, retomando o segundo lugar.

Lewis recupera o segundo lugar: na pista, sem undercut ou overcut ou cut-que-pariu

Bottas, Hamilton, Verstappen e Pérez eram os quatro primeiros na volta 16, quando o mexicano foi para cima de Landinho e recuperou a posição perdida na relargada. Paciente, Lewis seguia na cola do companheiro sabendo que mais cedo ou mais tarde tomaria dele a liderança. Porque a Mercedes ia mandar? Não, porque é melhor.

E, na volta 20, o heptacampeão abriu a asa, viu a chance e jantou o parceiro sem dificuldade. De terceiro para primeiro, com duas ultrapassagens na pista. Dali em diante, era só não cometer nenhum erro, parar na hora certa e levantar mais um troféu.

Na volta 22 começaram os pit stops. Para todo mundo a estratégia-padrão seria colocar pneus duros na parada única, mas a Ferrari não achou isso e no carro de Sainz, que largara de macios, espetou os médios. O espanhol terminaria a corrida se arrastando, sendo ultrapassado até por que tinha se empanturrado de bacalhau com batatas ao murro na véspera. Na hora da troca, Carlos era o sexto colocado. Receberia a quadriculada em 11º.

Leclerc, sexto: com ele, a Ferrari acertou nos pneus

Charlinho, seu companheiro, escolheu os pneus certos e acabou a prova n’Algarve em sexto. Mas nem sei por que falei dele, já que não foi um protagonista do domingo ensolarado no sul da terrinha. Acho que só para justificar a foto acima.

Voltemos ao que interessa.

Quase todo mundo do meio do pelotão para trás já tinha trocado pneus quando Verstappen foi para seu pit stop na volta 36. A ideia era dar um drible estratégico em Bottas para, pelo menos, ganhar a segunda posição. Valtteri foi chamado na volta seguinte e conseguiu sair dos boxes à frente. Mas como todo bom banana finlandês, não resistiu ao primeiro ataque — coitados dos finlandeses, eles não são bananas, mas achei a frase boa. Max aproveitou uma rabeada de Sapattos, tracionou melhor numa saída de curva, foi para cima e passou.

Aí a corrida meio que acabou. O líder, na volta 40, era Pérez. Mas ainda não tinha trocado pneus. O mexicano, desde os tempos dos astecas, é um dos melhores gestores de borracha da F-1. Receio, inclusive, que quando ele se for desta para a melhor daqui a uns 90 anos seu perfil na Wikipedia trará a informação: “Sergio Pérez foi um dos melhores gestores de borracha das primeiras décadas do século 21 e também piloto de corridas”. Um bom gestor de borracha só troca pneu num GP porque é obrigado. Se não fosse, iria até o fim com um único jogo e ainda disputaria a etapa seguinte com os mesmos pneus.

Hamilton voltaria à liderança antes mesmo da parada de Pérez, na volta 51, passando o segundo carro da Red Bull na pista, mais uma vez. Checo só foi para os boxes na 52. Voltou em quarto, e lá ficou.

Ocon, sétimo: bons pontos para a Alpine, que ainda teve Alonso em oitavo

Pérez colocou pneus macios porque faltava pouco para o fim e ele poderia ganhar o pontinho extra da melhor volta. Naquela altura, o mais legal da corrida era a escalada de Alonso por pontos, o que acabou conseguindo depois de passar uma Ferrari (de Sainz) e uma McLaren (de Ricciardo) para terminar em oitavo. Foi legal, a Alpine deu uma melhorada.

Na volta 64, a duas do final, a Mercedes chamou Bottas para colocar pneus macios e buscar o ponto extra — ele estava léguas à frente do mexicano e não perderia a posição com a parada. Na seguinte, a Red Bull fez o mesmo com Verstappen, já que Hamilton era inalcançável e Bottas estava bem atrás. Valtteri fez a parte dele: 1min19s865 na volta 65. Max, na última, cravou 1min19s849 e deu o troco. Mas, na hora, deu para ver que tinha saído dos limites da pista na curva 14. Durante a corrida, a direção até tolerou algumas escapadas. Mas quando essas saídas resultam em alguma vantagem para o piloto — uma ultrapassagem ou, no caso em questão, um ponto extra –, ou se pune, ou se cancela a volta. Foi o que aconteceu com Max.

33 + 44 = 77: pódio matemático em Portimão

O holandês foi informado da perda do pontinho por Paul Di Resta, que fez as entrevistas antes do pódio. Ficou com cara de cu. Feio, isso, né? Cara de cu. Mas é o tipo de expressão que não encontra equivalência em nenhuma outra de nosso rico idioma. Como estava sem máscara, deu para notar a cara de cu.

Depois de três etapas, Hamilton lidera o Mundial com 69 pontos, contra 61 de Verstappen. Depois vêm Norris (37), Bottas (32), Leclerc (28) e Pérez (22). Faltou registrar o resultado da corrida, então vamos lá: nos pontos, Hamilton, Verstappen, Bottas, Pérez, Norris, Leclerc, Ocon, Alonso, Ricciardo e Gasly.

A prova teve muita gente apagada, é bom que se diga. A dupla da Aston Martin, por exemplo, com Vettel em 13º e Stroll em 14º — a equipe é, sem dúvida, a maior decepção do começo do campeonato. Outros que não andaram nada no fim de semana: Gasly (décimo) e Tsunoda (15º), da AlphaTauri. E Ricciardo, imerso num oceano de discrição em nono enquanto Landinho, lá na frente, busca os pontos que a McLaren precisa.

Semana que vem tem mais, em Barcelona. E hoje à noite tem “Fórmula Gomes” no meu canal no YouTube, analisando a corrida numa “live ao vivo” a partir das 19h. Apareçam!