Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SÃO PAULO (haja) – Depois de uma corrida modorrenta em Mônaco, onde foi difícil até encontrar uma imagem legal para que lembrássemos daquele GP para sempre, Baku nos ofereceu fartura. De fatos & fotos. Assim, pouco me lixando para a tradição desta seção de publicar apenas uma foto como “imagem da corrida”, resolvi partir para […]

Imagem da corrida 1: Verstappen, de canhota, chuta o pneu

SÃO PAULO (haja) – Depois de uma corrida modorrenta em Mônaco, onde foi difícil até encontrar uma imagem legal para que lembrássemos daquele GP para sempre, Baku nos ofereceu fartura. De fatos & fotos. Assim, pouco me lixando para a tradição desta seção de publicar apenas uma foto como “imagem da corrida”, resolvi partir para três logo de uma vez.

A primeira é essa aí em cima: o bico de Verstappen no pneu que tirou dele a terceira vitória no ano e uma liderança mais folgada do Mundial em cima de Hamilton. Chute merecido, embora o pneu, coitado, não tenha tanta culpa assim. Pneus furam. Quem anda de carro sabe. A Pirelli disse que o que causou o furo foram detritos na pista, possivelmente restos da batida de Stroll. E que quando foi dada a bandeira vermelha, encontrou um rasgo no pneu traseiro esquerdo de Hamilton, também. Mas, por sorte, o pneu de Lewis não perdeu pressão.

A segunda está aqui embaixo:

Imagem da corrida 2: Hamilton passa direto na segunda largada

Trata-se da presepada de Hamilton, que arrancou muito bem na segunda largada, mas sem querer — é o que disse — deixou acionado o “botão mágico” que esquenta os freios e joga toda a carga de frenagem para a roda dianteira. É um sistema, como expliquei ontem, usado antes de largadas ou atrás do safety-car. Mas deve ser desativado em ritmo normal de corrida.

O resultado é que ele ficou praticamente sem breque atrás (alguém ainda fala breque?), passou reto, deixou de garantir um segundo lugar tranquilo e viu escaparem entre seus dedos 18 pontos que, no final do campeonato, serão muito lamentados se ele perder o título. Porque duvido que tenhamos mais de 18 pontos separando campeão e vice no fim do ano.

Além disso, Hamilton interrompeu uma inacreditável sequência de 54 GPs nos pontos — claro que não incluímos aqui uma corrida que não disputou, o GP do Sakhir do ano passado por conta da Covid-19. A última vez que Lewis saiu zerado de uma prova em que esteve presente foi no dia 1º de julho de 2018 — abandono na Áustria. A Mercedes, por tabela, também vê essa marca (no caso, de 55 GPs) como equipe descontinuada — já que Bottas terminou a prova de ontem em 12º e também zerou. Aliás, desde o início da era híbrida da F-1, em 2014, foi a primeira vez que a Mercedes, tendo terminado um GP com os dois carros, saiu dele sem pontuar.

E mais: desde o GP da Espanha de 2013 que Hamilton não via uma bandeira quadriculada sem somar pontos numa prova. Naquela ocasião, terminou em 12º. Era seu ano de estreia pela equipe. Depois disso, em todas as corridas que terminou com o carro andando o inglês chegou entre os dez primeiros. Ontem, foi 15º. Atrás do Mazepin.

Imagem da corrida 3: Vettel e Pérez, os mais felizes do dia

Agora, a terceira foto que para mim conta bem a história dessa corrida em Baku: o abraço fraternal de Vettel, segundo colocado, no vencedor Pérez. Bom ver esses não tão meninos assim sorrindo. O mexicano venceu pela segunda vez na carreira. Sebastian deu à Aston Martin o primeiro pódio da história da equipe com este nome.

São dois dos três renegados do pódio no Azerbaijão. Vettel, chutado pela Ferrari; Pérez, pela Racing Point que virou Aston Martin; Gasly, pela Red Bull que o mandou de volta para o time B. E estavam felizes como ninguém mais. Aliás, Tião anda tão engraçado nestes anos em que deixou de ser protagonista do Mundial, que ontem, pelo rádio, ao pedir para quem o entrevistava para dar os parabéns ao colega pela vitória disse “mande felicidades para ele, ou Feliz Navidad, não sei direito o que se diz nessa hora”.

Feliz Navidad é Feliz Natal em espanhol.

Seb para Checo: “Mande um Feliz Navidad pra ele!”

Falando em cumprimentos públicos, não fui só eu que notei o tuíte da Mercedes para Gasly chamando o menino pelo primeiro nome.

OK, a Mercedes também cumprimentou Checo pelo Twitter (mandou um “felicitaciones”) e a Aston Martin pelo segundo lugar de Vettel, já que o alemão não sua redes sociais (no que faz muito bem).

De qualquer maneira, entendi a mensagem para Pierre, como a Mercedes o trata na maior intimidade. E que fique registrado porque se daqui a alguns meses os caras derem um pé no Bottas e trouxerem o garoto, ninguém ficará surpreso:

O NÚMERO DO AZERBAIJÃO

5

…vencedores diferentes registram as corridas de Baku. O circuito foi usado pela primeira vez em 2016, incluído no calendário como GP da Europa (vitória de Nico Rosberg, da Mercedes). A prova passou a se chamar GP do Azerbaijão em 2017 e foi vencida por Daniel Ricciardo, então na Red Bull. Em 2018, foi a vez de Lewis Hamilton, com a Mercedes. No ano seguinte, seu companheiro Valtteri Bottas ganhou. No ano passado a prova não foi realizada, por causa da pandemia. Pérez, ontem, foi o quinto vencedor.

Já escrevi ontem que Vettel não liderava um GP desde a corrida do Brasil de 2019, mas não custa reforçar. Ele não foi ao pódio naquela prova — Leclerc bateu nele –, mas Interlagos guarda uma coincidência com Baku ontem: os três primeiros levavam o carimbo da Red Bull.

No Brasil, o pódio foi de Verstappen e os ex-rubro-taurinos Gasly e Sainz. No Azerbaijão aconteceu a mesma coisa: Pérez, atualmente da Red Bull, Vettel, tetracampeão pela equipe, e o francesinho que o time austríaco mandou para a AlphaTauri. Alíás, Pérez é o primeiro piloto “não-Verstappen” a vencer pela Red Bull desde Daniel Ricciardo em Mônaco/2018.

DNA da Red Bull no pódio: como no Brasil em 2019

Pela primeira vez desde o GP da Espanha de 2016, líder e vice-líder do Mundial não pontuaram numa corrida. Naquela, de Barcelona, Rosberg e Hamilton fizeram o favor à Mercedes de baterem, abrindo caminho para a primeira vitória de Verstappen na F-1. Era a estreia do holandês na Red Bull.

Max fez a gentileza de abraçar Pérez depois da vitória. Que veio sob tensão porque o mexicano tinha problemas hidráulicos no carro e esteve perto de abandonar a prova, segundo a equipe. E por que será que a direção de prova resolveu parar a corrida quando Verstappen furou o pneu e não fez a mesma coisa quando Stroll bateu de forma semelhante?

Stroll bate: bandeira amarela e safety-car, porque havia tempo para limpar a sujeira

A explicação vem de Michael Masi, o diretor da corrida: “Quando Lance bateu, estávamos no meio da prova. Havia tempo para limpar a pista direito. Quando Max bateu, faltavam poucas voltas e não estávamos confiantes de que seria possível tirar todos os detritos em tempo hábil. Então, no melhor interesse do esporte, achei melhor suspender tudo e recomeçar quando a pista estivesse realmente limpa”.

Faz sentido. Claro que ele poderia colocar o safety-car na frente do pelotão e dar a quadriculada com todo mundo em fila indiana atrás dele. Mas seria um anticlímax danado. Ainda bem que diretor tem autonomia para fazer o que é melhor para o espetáculo, sem acrobacias que firam o espírito do esporte. O regulamento é flexível nesses casos, o que acho ótimo.

Abraços a granel: alegria nas ruas de Baku

E acredito que já estou me estendendo neste rescaldão. Ia colocar uma pequena galeria de imagens com abraços pós-corrida, no Parque Fechado, porque achei muito bacana ver todo mundo cumprimentando Vettel, principalmente, pelo segundo lugar. Mas essa pequena montagem aí em cima cumpre a função de registrar amplexos (é muito ridículo usar “amplexo” só para não repetir “abraço”, coisa meio pedante, mas já está feito e não vou apagar).

Ainda faltam algumas coisinhas, porém. Como a…

FRASE DE BAKU

“Sabemos o nível que é necessário para ganhar títulos, e não estamos nesse nível agora. Temos a equipe, o carro e os pilotos para vencer, mas teremos de ser duros e honestos conosco nos próximos dias.”

Andrew Shovlin, engenheiro-chefe da Mercedes

O resultado de Baku levou Pérez ao terceiro lugar na classificação com 69 pontos, que é o que a Red Bull espera dele. Verstappen segue líder com 105, contra 101 de Hamilton. Max faria 26 e Lewis, 15, se a prova terminasse antes da batida do holandês. E ele ampliaria a diferença para 15. O inglês, por sua vez, poderia terminar em segundo se não tivesse passado reto na curva 1, e teria marcado 18, voltando à ponta com 14 de vantagem sobre o jovem rival.

Entre os construtores, a Red Bull abriu: 174 x 148. Ferrari, com 94, e McLaren, com 92, seguem brigando ponto a ponto pelo terceiro lugar. AlphaTauri e Aston Martin lutam pelo quinto: 39 a 37 para a equipe italiana.

E, agora, o famoso…

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

Alonso: quem é rei não perde a majestade

GOSTAMOS muito de ver Fernando Alonso (acima) dando um show na “corrida de duas voltas”, como ele chamou o fim da prova. Estava em décimo no grid da segunda largada e terminou em sexto. O espanhol está em forma. O carro não ajuda muito, mas se ele conseguir nos oferecer um ou outro espetáculo parecido nessa volta à F-1, está de bom tamanho.

NÃO GOSTAMOS nadica de nada da performance patética de Valteri Bottas (abaixo), que largou em décimo e chegou em 12º. Considerando que 16 carros terminaram a prova andando, ele só chegou à frente da dupla da Haas (até eu a pé consigo), de Hamilton (que rodou e caiu para último) e de Latifi (vale o mesmo que escrevi sobre a Haas). Seu futuro na Mercedes é incerto. Aliás, corrijo: é certíssimo. Com atuações assim, ele não fica em 2022.

Bottas: futuro na Mercedes em dúvida

AZERBAIJÃO BY MASILI

Para fechar, passamos a régua com a leitura precisa de nosso cartunista oficial Marcelo Masili sobre a sexta etapa do Mundial. Não sei se Bottas vai gostar…