Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SÃO PAULO (tinha melhores) – Não sei se fiz a melhor escolha de foto para representar o GP da Inglaterra. Mais significativa seria, claro, uma do acidente. Verstappen no muro todo grogue, por exemplo. Mas usei ontem. Vai essa mesmo. Para servir como gancho para a primeira informação relevante deste rescaldão. Estão vendo a única […]

Hamilton com a bandeira: vitória suada e polêmica

SÃO PAULO (tinha melhores) – Não sei se fiz a melhor escolha de foto para representar o GP da Inglaterra. Mais significativa seria, claro, uma do acidente. Verstappen no muro todo grogue, por exemplo. Mas usei ontem. Vai essa mesmo. Para servir como gancho para a primeira informação relevante deste rescaldão.

Estão vendo a única roda que aparece na imagem aí em cima? Pois é. A Mercedes informou hoje que se não fosse a bandeira vermelha depois da batida de Max, Hamilton também teria de abandonar a corrida. Porque a roda dianteira esquerda, no choque com a traseira direita da Red Bull, quebrou. Como é permitido mexer em algumas coisas nos carros enquanto a prova não recomeça, a equipe pôde trocar pneus e rodas. E salvou a corrida do heptacampeão.

É o que eu disse ontem… Numa situação como a da primeira volta em Silverstone, em que nenhum dos dois tira o pé, o resultado é sempre o mesmo: acaba batendo. As consequências dessas batidas é que variam. Às vezes, os dois se dão mal — Hamilton e Rosberg em Barcelona/2016. Em outras, apenas um — Verstappen ontem. Mas o detalhe da roda de Lewis não pode ser desprezado. Se Max tivesse apenas atolado na brita e a barreira de pneus não tivesse de ser reconstruída, teríamos tido bandeira amarela, safety-car, e Hamilton não poderia trocar a roda. Abandonaria, ou faria uma parada que acabaria com suas chances. E os dois teriam se dado mal.

Tudo para dizer que é exagero alguém imaginar que o inglês calculou precisamente o que iria acontecer se mantendo um pouco mais no meio da pista na Copse. Não dá para prever o desfecho exato de uma refrega como aquela. Sigo com minha avaliação inicial: incidente de corrida provocado por uma disputa um pouquinho acima do tom. E os dois pilotos subiram o timbre. Não foi só Hamilton, não.

Senna em Detroit: desagravo após eliminação do Brasil na Copa

Vou me apropriar, na cara dura, de duas postagens feitas por colegas nas redes sociais, começando com a da minha querida Alessandra Alves, hoje comentarista da BandNews FM. Ao se referir ao desfile de Hamilton com a bandeira inglesa depois de ganhar a corrida, ela lembrou uma curiosa coincidência. Quando Senna fez isso pela primeira vez, ao vencer o GP dos EUA de 1986 em Detroit, o Brasil havia sido eliminado na véspera da Copa do México pela França, nos pênaltis. Os engenheiros da Renault passaram o dia enchendo seu saco. Agora, Lewis repetiu o gesto também depois de uma derrota traumática da seleção de seu país. Uma semana antes, a Inglaterra perdeu a Eurocopa para a Itália em Wembley.

A outra postagem é do meu amigo Cássio Cortes, ex-Acelerados. Ele escreveu que a rivalidade entre Hamilton e Verstappen, depois do que aconteceu domingo, nunca mais será a mesma. Os encontros na pista ganham novo tempero. Foi um divisor de águas, motivado pela reação irada do holandês e de sua equipe. Lembra, de certa forma, de episódios que elevaram outras rivalidades para um patamar bem pouco civilizado. Como entre Senna e Prost, a partir do momento em que o brasileiro espremeu o francês no muro no Estoril, em 1988. Ou Vettel x Webber depois do acidente entre ambos na Turquia em 2010. Ou ainda Hamilton x Rosberg no já mencionado GP da Espanha de 2016. E também Verstappen x Ricciardo depois de Baku/2018 — o australiano, no fim do ano, pegou a mala e foi embora.

Tem toda razão, o Cássio. Nada será como antes entre esses dois. Podemos esperar os próximos capítulos. É só preparar o saquinho de pipoca.

Hamilton: alvo de racismo em redes sociais

Uma das consequências da divisão de opiniões sobre o acidente da primeira volta foi o indecente ataque que Hamilton passou a sofrer nas redes sociais por parte de torcedores de Verstappen ou simplesmente de seus “haters”. Como sempre acontece nesses casos, as ofensas derivaram para o racismo. Aqui no Brasil, Max vai ganhando uma legião de fãs que não por acaso, em muitos momentos, se identifica com o saco de bosta do Planalto. Talvez porque ele seja namorado da filha de um bolsonarista empedernido que se revelou tristemente em suas últimas entrevistas e declarações.

Não falha nunca.

SILVERSTONE BY MASILI

E nosso cartunista oficial Marcelo Masili se refere ao tema em sua magnífica charge de hoje. Como sempre, olhar arguto sobre algo que a gente não pode nunca, mas nunca mesmo, ignorar.

Verstappen e Hamilton já se encontraram outras vezes na pista nesta temporada, e nas três ocasiões, apesar da potencial fricção, ninguém saiu xingando ninguém. No Bahrein, Lewis venceu a corrida ao armar uma arapuca para que o holandês o ultrapassasse fora dos limites da pista. Max caiu que nem um patinho, foi punido, terminou em segundo e engoliu o choro.

Em Ímola e Barcelona, Hamilton teve de tirar o pé mais de uma vez para evitar batidas diante do assédio agressivo do piloto da Red Bull. Era o tal negócio. Estava liderando o campeonato, tinha mais a perder. Melhor dar uma recolhida do que acabar no muro. Mas o jogo virou, e agora os ventos sopram pró-Verstappen. Quem não tem muito a perder é o piloto da Mercedes. E isso explica o que fez ontem. Cabe a Max virar a chavinha e entender que agora a caça é ele. E quem está sendo caçado precisa ser esperto, não pode se expor tanto. Pelo menos é o que acho. Vamos ver como será na próxima corrida. Os ânimos estarão exaltados. Mas teremos vingança?

Abaixo, uma pista.

A FRASE DA INGLATERRA

“Não vamos nos rebaixar ao nível da Mercedes”

Helmut Marko

Uia!

Está dado o recado pelo guru da Red Bull. Segundo ele, Max já está de volta a Mônaco, onde mora, e levou na bagagem seu fisioterapeuta e massagista. Sente algumas dores, mas nada de muito dramático. A pancada foi violenta. O Alexandre Neves me mandou o vídeo abaixo, tomado pelo celular de um torcedor nas arquibancadas de Silverstone. Dá uma boa ideia do impacto de Verstappen nos pneus. Ainda bem que ele saiu ileso.

E já que inovamos com videozinho no meio do “Sobre ontem…”, mais um. Vocês viram Sebastian Vettel ajudando o pessoal da limpeza a recolher o lixo das arquibancadas em Silverstone? Não? Ah, perderam! F1/status/1417031960992567297?s=20" target="_blank" rel="noreferrer noopener">Cliquem aqui e suspirem com a fofura do gesto do alemão, que é um dos caras mais legais da F-1. O mais legal, acho.

O NÚMERO DE SILVERSTONE

16

…GPs seguidos nos pontos completou Lando Norris ontem. Ele é o único que pontuou nas dez etapas desta temporada. E também marcou nas últimas seis corridas de 2020. Desde o GP da Emilia-Romagna do ano passado o inglês da McLaren termina todas as provas entre os dez primeiros colocados.

Norris: 16 corridas seguidas nos pontos com a McLaren

A Bandeirantes teve média de 4.1 pontos no Ibope (que agora não chama mais Ibope, mas vocês sabiam que o acrônimo que dava nome ao instituto de pesquisas se tornou tão popular que a palavra “ibope” consta até no Michaelis, como gilete e lambreta?), com pico de 5.3. Tem sido assim desde o começo do ano, mais ou menos metade do que dava na Globo. Já reclamei do pódio ontem, então deixa pra lá. Mas registre-se a divertida derrapada do Reginaldo Leme, que ao cumprimentar os telespectadores num dos programas do canal mandou um “boa tarde amigo da Globo”. Não perdeu o rebolado. Até porque os amigos da Globo que o viam lá, hoje o veem na nova casa. Não deixaram de ser amigos. Grande Regi!

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

Stroll: bom oitavo lugar com a Aston Martin

GOSTAMOS da oitava colocação de Lance Stroll (acima), num dia em que seu companheiro Vettel rodou sozinho e terminou fora da zona de pontos. O canadense começou mal o fim de semana, mas foi perseverante e salvou uns pontinhos importantes para a Aston Martin.

NÃO GOSTAMOS da atuação pífia de Sergio Pérez (abaixo), que jogou o fim de semana no lixo ao rodar na Sprint, sábado, tendo de largar em último. O mexicano precisa urgentemente melhorar seu desempenho em classificações. E a Red Bull não pode se dar ao luxo de zerar com um de seus carros num ano em que disputa o título de Construtores com uma equipe tão forte quando a Mercedes. Checo, apesar da vitória em Baku, ainda está devendo.

Pérez: fez a melhor volta e mais nada