Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE DOMINGO DE MANHÃ

SÃO PAULO (sorry, guys) – Normalmente eu tento surpreender minha meia-dúzia de leitores quando escolho a foto mais importante de um fim de semana de GP, mas hoje não vai dar. Tem outra? O clique de Andrej Isakovic, da agência “France Presse”, é impressionante e quero aqui dar um “viva!” ao jornalismo profissional. Mesmo em […]

Foto de Andrej Isakovic, da “France Presse”: viva o jornalismo!

SÃO PAULO (sorry, guys) – Normalmente eu tento surpreender minha meia-dúzia de leitores quando escolho a foto mais importante de um fim de semana de GP, mas hoje não vai dar. Tem outra? O clique de Andrej Isakovic, da agência “France Presse”, é impressionante e quero aqui dar um “viva!” ao jornalismo profissional. Mesmo em tempos de celulares fotografando todas as irrelevâncias possíveis ao redor do mundo — e tudo devidamente postado, curtido, compartilhado e esquecido um segundo depois –, é o trabalho de um repórter fotográfico de verdade que entra para a história. Porque essa imagem é histórica.

Poderia ter sido uma tragédia horrorosa. Tão impactante quanto a relatada pelo nosso colunista e amigo Américo Teixeira Jr. em seu mais recente livro, “Monza ’61”, que está em pré-venda no site da editora Gulliver, com autógrafo e pôster da corrida. Corram, porque está quase esgotado!

Sim, aquela de 1961 teve consequências gigantescas, com a morte de muita gente nas arquibancadas. Mas imaginem o tamanho de uma tragédia como a morte de Hamilton amassado por um carro em cima dele… Não gosto nem de pensar. Por isso, viva o Halo, que escrevo em maiúscula — nem eu mesmo sei por quê. Depois dessa, e da do Grosjean, virou gente, o Halo. Nosso herói.

O novo livro do Américo: indispensável

Domingo comecei com o acidente, hoje vamos priorizar os vencedores. De cara, uma galeria cheia de abraços e sorrisos, com algumas fotos repetidas de anteontem. Mas não tem problema. São imagens gostosas de ver e que vão permanecer para sempre no coração daqueles que torcem para a McLaren — e os há, que ninguém ache que só a Ferrari tem torcida no mundo.

Todos os números relativos à vitória da equipe papaia já foram destrinchados, mas não custa lembrar: sua primeira vitória desde 2012 (Button, Brasil; 3.213 dias de jejum), primeira dobradinha desde 2010 (Hamilton & Button, Canadá), 183ª vitória na história (só perde nas estatísticas para as 238 da Ferrari), oitava de Ricciardo (primeira desde Mônaco/2018) e primeira dobradinha de uma equipe nesta temporada (nem Red Bull e Mercedes conseguiram).

E é das dobradinhas que vem…

O NÚMERO DA ITÁLIA

…dobradinha “não-Mercedes” na F-1 desde o início da “era híbrida”, em 2014, de total domínio da equipe alemã.

É isso mesmo. Desde 2014, incluindo o GP da Itália de domingo, foram registradas 58 dobradinhas na F-1. De todas elas, 53 (91,4%) foram da Mercedes. Hamilton & Rosberg, não necessariamente nessa ordem, foram responsáveis por 31 (11 em 2014, 12 em 2015 e oito em 2016). Bottas & Hamilton, também não nessa ordem, fizeram 22 (quatro em 2017, quatro em 2018, nove em 2019 e cinco no ano passado).

A McLaren, portanto, fez a quinta desse período, juntando suas migalhas às três da Ferrari (Mônaco e Hungria/2017, com Vettel & Raikkonen, e Singapura/2019, com Vettel & Leclerc) e à única da Red Bull (Malásia/2016 com Ricciardo & Verstappen). Essa dificuldade de bater a Mercedes com dois carros nos últimos oito anos dá bem a medida do tamanho do feito de Ricciardo e Norris.

Só para registrar, as cinco equipes que mais fizeram dobradinhas na história são Ferrari (84), Mercedes (58), McLaren (48), Williams (33) e Red Bull (17).

ITÁLIA BY MASILI

Marcelo Masili, nosso cartunista oficial e genial (e que não recebe dos meus amigos leitores os devidos elogios!), foi buscar referências na nossa memória afetiva (ou quase isso; torcedores de Barrichello nunca tiveram muito afeto pelo episódio) para, com pouquíssimas palavras e um traço brilhante, desenhar sua corrida de Monza. Lembrando que no ano passado a equipe laranja quase venceu, com Carlos Sainz recebendo a bandeirada 0s415 atrás de Pierre Gasly, um “hoje não” que o espanhol sente até hoje por aquele GP não ter tido mais uma voltinha…

Antes do rescaldão do acidente, deixa eu registrar algumas coisinhas aqui que passaram batidas no textão de domingo, começando com a AlphaTauri. Afinal, a equipe venceu o GP da Itália do ano passado e simplesmente não apareceu para a corrida deste ano.

Gasly, vencedor de Monza/2020, começou bem o fim de semana, foi sexto na classificação na sexta-feira, mas as coisas começaram a ruir na Sprint. Bateu em Ricciardo na primeira volta, perdeu a asa dianteira, foi parar nos pneus. Seu sexto no grid evaporou com o abandono. Teria de largar da última fila. Domingo, quando levava o carro para o grid, reportou um problema no acelerador. Voltou aos boxes. Largou. Mas deu só três voltas porque o piripaque eletrônico era insolúvel.

Já Tsunoda nem largou. Também quando se encaminhava para o grid teve uma pane no sistema de freios. A equipe puxou o carro para os boxes, mas não deu para consertar. Lá ficou.

Foi isso, da AlphaTauri.

Alonso: oitavo lugar, pontos importantes

Faltou também uma palavrinha para a Alpine, que voltou a pontuar com seus dois pilotos — Alonso em oitavo, Ocon em décimo. Como a AlphaTauri zerou, na briga pelo honroso quinto lugar entre as equipes os franceses ampliaram sua diferença sobre os italianos para 11 pontos: 95 x 84. Não é nada, não é nada, pode parecer nada mesmo. Mas vocês não têm ideia, porque isso TV nenhuma mostra, como é ferrenha essa briga dos construtores, especialmente entre os integrantes que põem a mão na massa. Estou falando de mecânicos, técnicos, engenheiros, assessores, cozinheiros. Os caras se pegam o ano todo por pontinhos.

Por fim, a Williams. Ao alcançar a marca de 22 pontos, a equipe já tem, disparado, seu melhor desempenho desde 2017, quando anotou 83. Em 2018 foram 7, em 2019 apenas 1 e no ano passado, nadica de nada: zero. O time renasceu. E por mais que a gente torça o nariz para a chegada de investidores americanos para o lugar da família garagista, é fato que a Williams, se não fosse isso, talvez nem existisse mais.

A FRASE DE MONZA

“Se Christian e Helmut não o acusaram, é porque sabem que Max estava errado, já que tentam culpar Lewis por qualquer coisa em qualquer oportunidade.”

Andrew Shovlin, diretor da Mercedes
Verstappen sobre Hamilton: perigo e farpas

Errado não está, como se diz. Aliás, escrevi isso domingo. Quando Horner mandou um “fifty-fifty” ao falar do acidente, é porque sabia que seu piloto tinha exagerado. Foi essa a interpretação dos comissários. Que, insisto, não seria a minha. Eu tendo mais para o “incidente de corrida”, embora reconhecendo que não tomar nenhuma atitude nessas horas pode trazer uma sensação indesejada de impunidade. Hamilton também foi punido em Silverstone num acidente bem diferente na dinâmica e na origem, mas semelhante na, digamos, necessidade de atribuir culpa a alguém. Empatados, pois.

Quanto à gritaria de muita gente no mundo inteiro em redes sociais de que “Verstappen quase matou Lewis, como pode receber uma punição tão branda?”, é preciso dizer que Max não teve nenhuma intenção de decolar para aterrissar sobre Hamilton. O acidente aconteceu em baixa velocidade e batidas assim não geram imagens muito impactantes, embora costumem tirar seus protagonistas da corrida. Foi absolutamente casual o fato de a Red Bull dar um salto e cair com a roda justamente sobre o Halo. Aliás, vejam este vídeo das câmeras de 360° postado pelo site da F-1. Dá até medo.

Por isso, mais uma vez, e todas que forem necessárias: viva o Halo!

Hamilton no MetGala em Nova York: tudo bem com ele

Hamilton disse que ficou “surpreso” com a atitude de Verstappen de não ter procurado saber como ele estava dentro do cockpit, depois do pouso sobre sua cabeça. “Normalmente, a primeira coisa que um piloto vai ver, independentemente de como foi o acidente, é como está o outro cara envolvido.” Mas Max, a TV mostrou, nem tchuns. Pegou o caminho dos boxes a pé e sequer olhou para trás. Depois, explicou: “Ele engatou a ré para tentar voltar à corrida. Quem engata a ré nessa hora é porque está bem”.

Errado não está, como se diz. Mas um pouquinho de empatia não faria mal a ninguém.

Sem esticar muito o assunto, Lewis voou para Nova York, onde ontem à noite mesmo participou do MetGala, o maior evento de moda do mundo (acho que é isso; se não for, fica sendo). E comprou uma mesa exclusiva para levar seus amigos designers, inserindo a turma num espaço que, segundo ele, sempre opôs obstáculos aos profissionais pretos nessa área. Mais um gesto para aplaudir de pé e dizer, em alto e bom som: o cara é foda, mesmo.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

Latifi: talvez seja melhor do que imaginamos

GOSTAMOS de ver Nicholas Latifi largando pela primeira vez na vida na frente de George Russell, já que terminou a Sprint na frente do inglês. O canadense terminou a corrida em 11º e Russell foi o nono colocado, mas recebeu elogios de todo mundo no time. “A diferença dele para George não é tão grande quanto as pessoas pensam”, falou. “Ele tem feito um grande trabalho e merece continuar aqui, era para ter pontuado hoje”, emendou Russell, de saída para a Mercedes. Veremos no ano que vem, na comparação com Albon, quem é, afinal, o simpático e milionário Latifi.

Mecânico teve de usar a pistola duas vezes: “erro humano”

NÃO GOSTAMOS do pit stop que tirou Verstappen da luta pela vitória, numa rara trapalhada da Red Bull definida como “erro humano” por Christian Horner. O que aconteceu? A FIA proibiu, desde o GP da Bélgica, o uso de sensores nas pistolas pneumáticas que indicam que o pneu está colocado — eram eles que comandavam a luz verde que orienta o piloto, liberando o carro da parada. Esse sensores eram automáticos. Com a porca apertada, eles já enviavam a “informação” ao pequeno semáforo. Quando os sinais das quatro rodas tinham sido enviados automaticamente, a luz verde acendia e o piloto acelerava sem olhar para os lados. Aquela luz é seu único guia em pit stops. Ele fixa a vista ali e quando acende o verde vai embora mesmo se sua avó estiver parada de bengala na frente do carro. Agora, o envio desse sinal para o semáforo é manual. O mecânico tem de fixar a roda e “liberar” seu pneu apertando um botão na pistola. Aparentemente, o rapaz da roda direita dianteira não apertou e teve de colocar a pistola na roda de novo para poder fazê-lo. Resultado: mesmo com a roda colocada, a luz verde não acendeu e Max ficou 11s parado nos boxes. O vídeo deste momento pode ser visto aqui.