Blog do Flavio Gomes
F-1

TURQUINHAS (3)

SÃO PAULO (pobrezinho) – Coitado do Bottas. No dia em que faz uma das melhores corridas de sua vida, vence pela décima vez na carreira — desde a Rússia no ano passado não ganhava uma prova –, tem um desempenho impecável, a gente vai ficar aqui falando da troca de pneus de Hamilton no GP […]

Bottas vence fácil: favoritismo confirmado

SÃO PAULO (pobrezinho) – Coitado do Bottas. No dia em que faz uma das melhores corridas de sua vida, vence pela décima vez na carreira — desde a Rússia no ano passado não ganhava uma prova –, tem um desempenho impecável, a gente vai ficar aqui falando da troca de pneus de Hamilton no GP da Turquia. Devia ter parado? Não devia?

Mas é a vida, Valtteri. Afinal, o título está sendo disputado por outros. Mas para não deixá-lo triste, vamos lá. Parabéns, garoto! Corridão! Largou bem depois de herdar a pole com a punição a Hamilton (são 18 no total; ao lado de René Arnoux, o não-campeão com mais poles na história), controlou o ritmo, cuidou dos pneus, não cometeu nenhum erro na pista molhada e depois úmida de Istambul, parou na hora certa, recuperou a liderança na pista e recebeu a quadriculada com mais de 14s de vantagem sobre Verstappen, o segundo colocado.

Abra um sorriso, Valtteri!

Sorriso do finlandês: triunfo merecido

Até porque pode ter sido a última. Bottas, o bom companheiro, está de saída da Mercedes no ano que vem. E nas seis etapas que ainda temos pela frente neste ano, dificilmente terá a chance de lutar por uma vitória com Lewis na pista — porque Lewis é melhor e porque é quem está na luta pelo título, o que significa que em qualquer situação terá de dar passagem ao parceiro se, por algum motivo, estiver na frente dele.

Mas falemos da corrida de hoje, que tinha enorme potencial para ser maravilhosa, mas foi apenas mais ou menos.

Choveu de manhã em Istambul e a pista ficou molhada o tempo inteiro, ainda que não tenha chovido durante a corrida. Como estava frio e muito úmido, o asfalto simplesmente não secou. Corrida com pista molhada é sempre divertida, mas incrivelmente não aconteceu nada rocambolesco nas 58 voltas da prova. Os 20 pilotos que largaram terminaram. Rodadas? Duas, ambas com Alonso como protagonista Na largada, um toque com Gasly e o fim das pretensões para o espanhol, que era quinto no grid e sonhava com um pódio. Despencou lá para o fundão e tocou em Mick Schumacher, que rodou e continuou. Gasly foi punido com 5 segundos pelo toque em Alonso e Alonso foi punido com 5 segundos pelo toque em Schumacher. Fernandinho paz & amor disse, depois da prova, que Gasly não merecia ser punido e foi pedir desculpas a Schumacher. A idade faz bem.

Alonso abraça Mick: pedido de desculpas

Fora estes pequenos incidentes, a corrida foi um jogo de expectativas sobre as condições dos pneus intermediários, usados por todos desde o início. O único que tentou slicks no final foi Vettel, que não tinha nada a perder, colocou médios, deu uma volta horrorosa e voltou aos boxes para trocar de novo.

O desgaste dos intermediários determinou o resultado final de Hamilton, que largou em 11º com a missão de escalar o pelotão para tentar minimizar o prejuízo da punição pela troca de motor. Essa escalada teve dois obstáculos. Em nono na segunda volta, empacou atrás de Tsunoda, da filial da Red Bull, que conseguiu segurar bem o inglês por seis voltas. Só na oitava ele conseguiu a ultrapassagem. Enquanto isso, Bottas, Verstappen e Leclerc, os três primeiros, sumiram na frente. O segundo obstáculo viria mais tarde e atendia pelo nome de Sergio Pérez.

Largada com pista bem molhada: poucos incidentes

Quando assumiu a oitava colocação, Hamilton já estava 17s atrás de Verstappen. Na volta 9, passou Stroll. Na 11ª, superou Norris. Na 15ª, a vítima foi Gasly. O alvo seguinte seria Pérez, que estava bem distante, já. Só na 31ª volta Lewis alcançou o mexicano e a única tentativa real de ultrapassagem aconteceu na volta 35. Checo se defendeu lindamente e só cedeu a posição na volta 38, quando foi para os boxes e colocou novos pneus intermediários.

Pouco antes, na 37ª, Verstappen tinha feito o mesmo. Bottas veio na volta seguinte. E sobraram três carros na pista sem pit stops: os de Leclerc, líder, de Hamilton, quarto, e de Ocon, lá atrás. Na volta 42, a Mercedes chamou Hamilton. O inglês não quis parar e começou a cogitar a possibilidade de ir até o final sem trocar. Leclerc discutia a mesma opção pelo rádio com a Ferrari. Só que os pneus de ambos começaram a perder muito rendimento.

Bottas recuperou a ponta na volta 47. Charlinho, então, se rendeu às evidências e parou. A dez voltas do final, Valtteri liderava com boa vantagem de 6s5 para Verstappen, que por sua vez tinha 5s3 de diferença para Hamilton. O quarto colocado, Leclerc, vinha 12s atrás.

Pérez passa Leclerc: pódio importante

A situação era a seguinte: se parasse, Hamilton perderia duas posições, para Leclerc e Pérez. Se ficasse na pista, tinha a chance de terminar em terceiro. Faltando sete voltas, porém, ele acabou acatando as ordens da Mercedes e trocou os pneus. Voltou em quinto, e lá terminou. Mas reclamou bastante. Achou que dava para ir até o final.

Depois da corrida, a equipe admitiu que cometeu um erro: o de não parar Hamilton antes. “O estado dos pneus dele era assustador”, disse o chefe Toto Wolff. “Mas naquele momento pensamos: podemos não parar para tentar chegar em terceiro, e se um trilho seco aparecesse a gente talvez parasse para colocar um jogo de pneus macios. A dúvida era parar como todo mundo fez, de um jeito mais conservador, e lutar com Pérez e Leclerc pelo terceiro lugar na pista. Ou, numa aposta calculada, não colocar um novo jogo de intermediários para tentar vencer com slicks, ou chegar em terceiro. Quando o ritmo do Leclerc com pneus usados caiu muito, de repente, Lewis também teve esse problema e percebemos que não ia dar para chegar até o final. Naquele momento, ele estava perdendo 1s5 para Pérez e Gasly. Era questão de tempo eles chegarem para ganhar a posição. Então nos conformamos com o quinto lugar e estou satisfeito com o que fizemos.

Lewis concordou que houve um erro. “Ou parava bem antes, ou não parava”, resumiu. “Os pneus ficaram carecas e a gente nunca sabe quanto vai perder de performance de repente nessa situação. A equipe tem mais informações sobre isso e a gente tem de confiar no time. Ganhamos e perdemos juntos.” Não parecia muito convencido, no entanto. Assim que acabou a corrida, sem nem tirar o capacete, foi até o fundo dos boxes da Mercedes para ver como estavam seus pneus velhos. E viu isso aí embaixo:

Os pneus de Hamilton: carecas e perigosos

Continuou na dúvida, que vai carregar até o fim da vida. Pelo tom de suas declarações, não deveria ter parado. “O Ocon foi até o final sem trocar e chegou. Não dá para saber, faltavam sete voltas, sei lá.” De fato, Ocon foi o único que terminou a prova com os mesmos pneus com que largou. Acabou em décimo. Mas com a borracha no talo.

Wolff procurou diminuir o impacto da perda do pódio: “Tem duas maneiras de analisar o que aconteceu hoje. Uma visão relativa e uma absoluta. A relativa é que na última corrida a Red Bull ficou feliz da vida de perder só sete pontos numa prova em que teve de pagar uma punição [Hamilton venceu e Verstappen ficou em segundo na Rússia]. Hoje perdemos oito em relação a Max [que chegou em segundo e marcou 18 pontos, contra os dez do quinto de Hamilton], então não é o fim do mundo. A absoluta é que poderíamos ter feito três, quatro ou cinco pontos a mais do que fizemos. Mas está tudo bem, o campeonato está aberto e a luta continua”.

Bottas, Verstappen, Pérez, Leclerc, Hamilton, Gasly, Norris, Sainz, Stroll e Ocon foram os dez primeiros, com o espanhol da Ferrari ganhando o prêmio de “Piloto do Dia” do amigo internauta por ter largado em último e terminado em oitavo, depois de fazer centenas de ultrapassagens bonitas e seguras. “Foi minha melhor corrida pela Ferrari”, comemorou. Com Leclerc em quarto, a equipe fez bons pontos e se reaproximou da McLaren na luta pelo terceiro lugar entre as equipes: 240 x 232,5 para o time laranja, que só pontuou com Norris — Ricciardo fez uma corrida apagadíssima.

Charlinho, a exemplo de Hamilton, concluiu que deveria ter parado antes em vez de tentar chegar ao final da prova sem trocar pneus. “Perdi o pódio”, falou. “Mas não temos de nos arrepender de nada. Nas últimas voltas, o nosso desempenho caiu muito porque os pneus começaram a granular. Aí não tem jeito. Se tivesse parado antes, acho que terminaria no pódio. Mas acontece, não deu certo, paciência.”

Sainz, o “Piloto do Dia”: muitas ultrpassagens

Com o segundo lugar na Turquia, Verstappen voltou à liderança do campeonato. Chegou a Istambul dois pontos atrás de Hamilton, saiu seis à frente: 262,5 x 256,5. Com o pódio duplo, a Red Bull foi a 397,5 pontos no Mundial de Construtores, contra 433,5 da Mercedes, que graças à vitória de Bottas ampliou um tiquinho a diferença.

“Eles encontraram um bom ritmo nestas últimas corridas e nós vamos ter de buscar alguma coisa extra”, atestou Max. “Precisamos de mais velocidade, porque seis pontos não representam nada nessa altura do campeonato.” Realista, o holandês. Faltam seis provas para o final da temporada e algumas delas, como a de Austin, são francamente favoráveis à Mercedes. A disputa está totalmente aberta, essa é a verdade. Clichê danado, mas é a verdade.

Max e Checo: pódio duplo para a Red Bull

O que ficou claro hoje é como os segundos pilotos de Mercedes e Red Bull serão importantes na reta final do campeonato. Ambos cumpriram seus papéis com louvor. Bottas não deixou Verstappen vencer e Pérez ajudou a implodir as pretensões de pódio de Hamilton. O mexicano, que andava apartado dessa briga, mostrou que pode ser útil, finalmente. Mas precisa se classificar melhor. Suas posições de grid têm sido muito ruins.

À Mercedes, resta juntar os cacos de um resultado não esperado — mesmo largando em 11º, um pódio para Hamilton era a meta. E estudar direitinho o que aconteceu na Turquia para não se repetir. Se em Sóchi o time falou grosso e acertou na mosca ao chamar Lewis para um pit stop no final, quando a chuva chegou, hoje o time e o piloto hesitaram. A assertividade da Rússia no chamamento aos boxes não se repetiu em Istambul, e Hamilton também não teve muita convicção para dizer “não” nas últimas sete voltas e acabou parando. O resultado foi um quinto lugar que pode ter peso lá na frente.

Hoje no “Fórmula Gomes” vamos falar de tudo isso ao vivo, espero vocês lá no canal!