Blog do Flavio Gomes
F-1

CHINA IN BOX

ITACARÉ (“sobre ontem” mais tarde!) – Mais do que esperada, foi anunciada agora há pouco pela Alfa Romeo a contratação de Guanyu Zhou para o lugar de Antonio Giovinazzi em 2022. Ele será o primeiro chinês a disputar o Mundial de F-1. Antes de mais nada, seu currículo nada desprezível: 22 anos, vice-campeão italiano de […]

Zhou, o primeiro chinês: currículo robusto

ITACARÉ (“sobre ontem” mais tarde!) – Mais do que esperada, foi anunciada agora há pouco pela Alfa Romeo a contratação de Guanyu Zhou para o lugar de Antonio Giovinazzi em 2022. Ele será o primeiro chinês a disputar o Mundial de F-1.

Antes de mais nada, seu currículo nada desprezível: 22 anos, vice-campeão italiano de F-4 em 2015, disputou o Europeu de F-3 em 2016, 2017 e 2018 (13 pódios e duas vitórias em três temporadas), pulou para a F-2 em 2019 pela UNI-Virtuosi (sua equipe até hoje) subindo ao pódio cinco vezes no primeiro ano e mais seis em 2020 (com uma vitória). Atualmente é o vice-líder da categoria com 142 pontos, três vitórias e 36 pontos de desvantagem para Oscar Piastri, o líder. Faltam duas rodadas triplas para o encerramento do campeonato, junto com a F-1 na Arábia Saudita e em Abu Dhabi.

Na F-1, sua experiência limita-se a um dia de testes com a Renault em 2020 e a um treino livre este ano na Áustria com a Alpine, equipe que o manteve como piloto de sua academia de jovens talentos nas últimas duas temporadas. Tem algumas boas horas de simulador e agora se desliga do time francês para ser companheiro de Valtteri Bottas na única equipe que troca sua dupla para 2022, já que Kimi Raikkonen se aposenta no fim do ano. Piastri também foi anunciado oficialmente como piloto reserva da Alpine a partir da próxima temporada.

Giovinazzi fez postagens em tom chororo nas suas redes sociais, na linha “da força da grana que ergue e destrói coisas belas”, que o dinheiro fala mais alto, que a vida é cruel etc. Entende-se a chateação. São três anos na equipe e o sonho da F-1 desfeito. Mas ninguém precisa ficar morrendo de pena do simpático cabeludo. Horas depois do anúncio de sua saída da Alfa Romeo, o próprio revelou que já assinou com a Dragorn/Penske para correr na Fórmula E na próxima temporada, como companheiro do brasileiro Sérgio Sette Câmara.

Não se deve demonizar Zhou só porque chega como piloto pagante, “com patrocinadores de seu país” que vão pingar pelo menos US$ 25 milhões nos cofres da Sauber/Alfa Romeo. Posso citar aqui uma boa dúzia de pilotos, bons e ruins, que chegaram à F-1 graças a “patrocinadores de seu país”, lembrando que “patrocinadores de seu país” podem viabilizar a existência de uma equipe pequena ou oferecer enorme vantagem ao patrocinado numa disputa por vaga contra quem não consegue levantar dinheiro — para times menores, pilotos patrocinados são interessantes porque pelo menos com salários não precisam se preocupar.

Assim, tiveram apoio de “patrocinadores de seu país” pilotos como Alonso (Minardi, Telefónica), Senna (Toleman & Lotus, Banco Nacional & outros), Schumacher (Jordan, Mercedes), Barrichello (Jordan, Arisco), Nasr (Sauber, Banco do Brasil), Kubica (Williams e Alfa Romeo, Orlen), Mazepin (Haas, papai bilionário), Stroll (Williams, papai milionário), Latifi (Williams, papai riquíssimo), Diniz (Forti Corse, papai bem de vida), Sirotkin (Williams, banco SMP), Maldonado (Williams, PDVSA)… A lista pode ser completada por vocês com os nomes que lembrarem.

Alguns desses vingaram e foram bem longe na carreira, outros tiveram passagens menos glamorosas e/ou duradouras, e sucumbiram à implacável necessidade de unir a grana ao talento e a resultados. Em geral, situações consideradas injustas não resistem a um escrutínio frio e objetivo dos números. É o caso de Giovinazzi, vice-campeão da GP2 em 2016, vinculado à Ferrari desde 2017 e alocado na Haas, primeiro, e na Alfa Romeo, logo depois — ambas equipes clientes dos motores fabricados em Maranello. Também teve ajuda de “patrocinadores de seu país”, no caso a própria Ferrari, italianíssima como ele. Titular da Alfa desde 2019, tem um quinto lugar no Brasil como melhor resultado até hoje, no ano em que estreou pelo time. Em 59 GPs disputados, soma meros 19 pontos (Leclerc fez 39 em sua única temporada com o time, em 2018) e três sétimos lugares em grid como melhores posições de largada. Glória efêmera, liderou quatro voltas no GP de Singapura de 2019.

Antonio está, pois, longe de ser um virtuose de quem a F-1 sentirá muita falta. Não é ruim, mas não é nada de excepcional. Não ser ruim não basta na categoria.

Quanto a Zhou, a Liberty, dona da categoria, deve estar comemorando bastante neste momento. A China tem quase 1,5 bilhão de habitantes e sob qualquer ângulo que se analise é o maior mercado do mundo para tudo. A F-1 colocou um pé no país em 2004 com a realização de seu primeiro GP no magnífico autódromo de Xangai — tão belo e suntuoso quanto sem alma, mas isso é opinião pessoal minha muito particular; se tem algo com que a F-1 não se preocupa é com conceitos abstratos como “alma”. Agora, os chineses terão um piloto para acompanhar. A corrida não está incluída no calendário do ano que vem, mas volta em 2023. Não se espantem se anteciparem o retorno.

O grid para 2022, com a chegada de Zhou, está completo. Sete das dez equipes seguem com as duplas deste ano, a saber: Ferrari (Leclerc/Sainz), Red Bull (Verstappen/Pérez), McLaren (Norris/Ricciardo), AlphaTauri (Gasly/Tsunoda), Alpine (Alonso/Ocon), Haas (Schumacher/Mazepin) e Aston Martin (Vettel/Stroll). A Alfa Romeo, como já mencionado, troca os dois e vai de Bottas/Zhou. Hamilton terá como novo companheiro da Mercedes George Russell. Para seu lugar, a Williams trouxe de volta à categoria o tailandês Alexander Albon, ex-Red Bull. Ele dividirá o teto da equipe com Latifi.

E é isso aí. Boa sorte a Zhou, boa sorte a Giovinazzi, boa sorte pra todo mundo.