Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE DOMINGO À TARDE

ITACARÉ (tá quase!) – Brake-testou ou não brake-testou? É um canalha ou um malandrinho agulha? Um gênio ou um monstro? Nas rodas de conversa no café da firma, nos bares, nas mesas de dominó, nas bancas de revista, nos balcões das padarias, só se falou disso ontem, segunda-feira. Max Verstappen enfiou o pé na frente […]

A batida mais louca: brake-test?

ITACARÉ (tá quase!) – Brake-testou ou não brake-testou? É um canalha ou um malandrinho agulha? Um gênio ou um monstro?

Nas rodas de conversa no café da firma, nos bares, nas mesas de dominó, nas bancas de revista, nos balcões das padarias, só se falou disso ontem, segunda-feira. Max Verstappen enfiou o pé na frente de Lewis Hamilton de propósito? Ou entregou a posição e o inglês não quis passar? E se foi assim, por que Lewis não passou? Ele também quis fugir da linha do DRS, a famigerada asa móvel?

É mentira que só se falou nisso ontem nas firmas, bares, padarias, bancas e dominós, estou apenas fantasiando. Mas no nosso mundinho aqui, sim. A discussão foi essa. E minha conclusão: não, não foi um brake-test clássico, daqueles em que, no meio da reta, o filho da puta da frente dá aquela beliscadinha no freio para o de trás encher sua traseira e levar a culpa, ou se assustar e perder o controle do carro.

Sim, filho da puta porque quem faz brake-test é isso, sem meias-palavras. É o tipo de canalhice que o código de ética não escrito do automobilismo não admite.

Duelos intensos: quem é vilão e quem é mocinho?

Não acho que Verstappen seja um bandido, embora seu comportamento seja dos mais antipáticos e, na pista, ele opere numa perigosíssima fronteira entre a malícia e a deslealdade. É um piloto duro. Muito inteligente. A ponto de, quando orientado a entregar a posição a Hamilton “estrategicamente”, tenha orquestrado a manobra em questão de segundos: vou deixar o cara me passar antes da linha do DRS, colo no rabo dele, abro a asa e passo de novo.

O problema é que para o ardil funcionar, Max acabou freando mais do que devia e de uma forma repentina, como faz qualquer filho da puta quando aplica um brake-test em quem vem atrás. Matei, mas não tinha a intenção, queria só dar um susto, o lance é que a bala acertou no meio da cabeça dele… Em outras palavras, foi sem querer.

O benefício da dúvida foi dado a ele. Os comissários acharam “compreensível” que nenhum dos dois quisesse passar na linha da asa móvel antes que o adversário. Lewis está meio sem entender até agora. Ou talvez já tenha entendido tudo.

Sei que muita gente aqui queria que eu cravasse uma opinião menos, digamos, ponderada. No Brasil, o raciocínio reinante é binário e as pessoas exigem isso de todo mundo. Ou é um escroto, ou não é. Mas vou tentar manter o equilíbrio. Não simpatizo com Verstappen, suas atitudes, declarações, o jeito marrento. Mas considero o moleque o maior talento precoce da história, um verdadeiro fenômeno como piloto. E entendo as nuances dessa disputa de 2021, uma das maiores de todos os tempos. Vejo, de um lado, um bostinha arrogante que guia pra cacete e não se abala com nada. De outro, um portento com sete títulos nas costas, recordista de tudo, no auge da sabedoria, da experiência, da sensatez e, sobretudo, da pilotagem. Cada um com suas armas. Há argumentos para defender — ou atacar — ambos. Fartos. Desde o início da temporada.

A História, dizem os historiadores, só pode ser compreendida em sua plenitude depois de anos, décadas, séculos. O jornalismo, disse alguém, é o rascunho dela. Não tenho a presunção de escrever a História agora fazendo julgamentos definitivos sobre o caráter de um pirralho de 24 anos. Nem sobre a castidade de seu adversário. Fico no rascunho, olhando de longe e com uma preferência por um dos dois que não preciso dizer qual é, pois que irrelevante.

JEDDAH BY MASILI

A referência de nosso cartunista oficial Marcelo Masili é joguinho que nem todos conhecem. Sugiro aos mais jovens que procurem no Google.

O Mundial está empatado em 369,5 pontos. É incrível. Seja quem for o perdedor, vai lamentar Baku. Ou questionar Spa. Entre as equipes, acho que está tudo decidido. A Mercedes abriu 28 pontos da Red Bull e só perde a taça se alguma catástrofe acontecer. A Ferrari também praticamente garantiu o terceiro lugar, com 38,5 pontos de vantagem sobre a McLaren. Da mesma forma, a Alpine descolou da AlphaTauri e, com 29 pontos de frente, não perde mais o quinto lugar.

Leclerc passou Norris com o sétimo lugar em Jeddah e assumiu a quinta posição entre os pilotos: 158 x 154. Gasly chegou a 100 pontos pela primeira vez numa temporada. Sainz bateu na casa de 521,5 pontos acumulados na carreira e se tornou o piloto com maior pontuação na história sem ter vencido uma corrida sequer — passou Hülkenberg, que marcou 521. Mas não vem daí o nosso…

NÚMERO DA ARÁBIA SAUDITA

17

…pódios tem Verstappen em 2021, igualando o recorde de pódios na mesma temporada que hoje tem Schumacher (2002), Vettel (2011) e Hamilton (2015, 2016, 2018 e 2019) liderando tal estatística. Pode, portanto, se tornar o primeiro colocado isolado se chegar entre os três primeiros em Abu Dhabi. Schumacher, no entanto, é o único que subiu ao pódio em todas as corridas de um Mundial — em 2002, o campeonato teve 17 etapas.

O pódio high-tech de Jeddah: Max pela 17ª vez no ano

Uma das almas mais felizes de Jeddah domingo era Toto Wolff, que vem sendo alfinetado por Christian Horner dia sim, outro também. E por Helmut Marko e por quem mais fale em nome da Red Bull. A batalha psicológica é outra atração desta temporada.

O chefe da Mercedes falou na noite árabe que teme que o campeonato seja decidido numa batida estúpida em Abu Dhabi. “As emoções estão muito, muito carregadas. Mas só vou dizer que esta foi uma grande temporada se tivermos na última corrida uma disputa limpa entre dois pilotos”, falou. Sobre suas reações intempestivas dentro dos boxes da equipe, como arrancar o fone de ouvido e tacá-lo no chão quando Hamilton bateu em Verstappen, foi assertivo:

A FRASE DE JEDDAH

“Talvez a gente dê risada disso daqui a algum tempo. Mas hoje, não.”

Toto Wolff

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS do nono lugar de Antonio Giovinazzi, que voltou a pontuar depois de 15 corridas de jejum. Foi sua segunda vez entre os dez primeiros nesta temporada — fora décimo em Mônaco. Está demitido, vai correr na Fórmula E, mas se despede da categoria com grande dignidade.

NÃO GOSTAMOS da hesitação do diretor de prova Michael Masi, confuso até para montar o grid da terceira largada. No fim das contas, ele acertou em todas suas decisões. Mas sua insegurança é visível. De qualquer forma, ninguém deve colocá-lo numa cruz. Tem sido uma temporada que exige decisões muito difíceis. E as equipes perturbam o cara a corrida inteira.