Blog do Flavio Gomes
F-1

ALPINE A522

SÃO PAULO (falta uma) – É quase irresistível a tentação de brincar com a cretina da ministra e a histórica frase “agora meninas vestem rosa e meninos vestem azul”, declamada em estado anímico que se assemelhava a um orgasmo em praça pública — um dos primeiros atos dessa coisa que chamam de governo brasileiro. Mas […]

SÃO PAULO (falta uma) – É quase irresistível a tentação de brincar com a cretina da ministra e a histórica frase “agora meninas vestem rosa e meninos vestem azul”, declamada em estado anímico que se assemelhava a um orgasmo em praça pública — um dos primeiros atos dessa coisa que chamam de governo brasileiro. Mas essa mulher é tão asquerosa, nociva e perigosa que não consigo misturar humor com tamanha desgraceira que se abateu sobre nós. Seria como normalizar sua existência, quase legitimá-la, tratando o que sai daquela mente de esgoto com alguma leveza e graça.

Assim, fiquemos apenas nas informações disponíveis. A BWT, especializada em tratamento de água, filtros caseiros e industriais, passa a ser a principal patrocinadora da Alpine, que apresentou seu carro novo hoje em Paris. A empresa austríaca introduziu o rosa na F-1 em 2017, quando passou a patrocinar a Force India — e foi até o fim da equipe, já rebatizada como Racing Point. No ano passado, estampou seu logotipo, em tamanho menor, nos carros verdes da Aston Martin — sucessora da Racing Point. Agora, vai para o time francês.

O A522 será totalmente rosa nas duas primeiras etapas do campeonato, no Bahrein e na Arábia Saudita. Como na imagem abaixo.

Rosa nas primeiras duas corridas do ano: agrado à BWT

Depois, a Alpine reassume o azul como cor predominante, mas com laterais e asas em rosa, como nas fotos lá do alto, na galeria que abre este texto.

Na apresentação de hoje, mais do que os pilotos — Alonso e Ocon — a estrela do dia foi Otmar Szafnauer, recém-chegado da Aston Martin. Romeno de 57 anos criado nos EUA, Szafnauer começou na BAR em 1998, quase trabalhou na Jaguar (Bobby Rahal o contratou, mas foi mandado embora e ele nem recebeu crachá da equipe), foi para a Honda, ficou lá até 2008 e em outubro de 2009 desembarcou na Force India. Lá ficou até o ano passado, primeiro ano da equipe sob nova direção e nome, Aston Martin.

“Sei o quanto essa equipe é boa e quanto ela pode ser de novo”, disse Szafnauer. E tem razão. A gente tende a desprezar a Renault (acho que todo mundo sabe que a Alpine é a Renault, né? Alpine é uma divisão esportiva da montadora francesa com largo histórico nas pistas desde sempre) pelos resultados pífios dos últimos anos, mas não se pode ignorar um currículo de 12 títulos mundiais de Construtores e 11 de pilotos. Alguns desses com equipe própria, outros com times parceiros como Benetton, Williams e Red Bull.

No ano passado, o time venceu uma corrida com Ocon na Hungria, uma zebra do tamanho do mundo. A Alpine tropeçou muito, talvez por montar uma estrutura pouco convencional com muito cacique e pouco índio. Dividida entre a fábrica de Viry-Châtillon, na França, onde são feitos os motores, e Enstone, na Inglaterra, de onde saem os carros, ninguém sabia direito a quem pedir as coisas. “Quem encomenda o roquefort?”, perguntava um funcionário. “Pede pro Prost”, respondia alguém. “E as baguetes?” “Liga pro Pat Fry!” Era uma zona que a chegada de Szafnauer pretende organizar.

Alonso, que conseguiu um pódio no ano passado com o terceiro lugar no GP do Catar, era o mais animado hoje no lançamento do carro. Aos 40 anos, o espanhol disse que decidiu voltar à F-1 por causa dos novos carros e do novo regulamento. Para ele, é a chance de alguma surpresa acontecer na atual relação de forças da categoria, que só viu pilotos de duas equipes conquistando títulos nos últimos 12 anos — Mercedes e Red Bull. Pode ser? Pode. É provável? Não muito.

O A522 tem laterais com fendas como os carros da Ferrari e da Aston Martin e um cofre do motor menos bojudo que no ano passado. Os componentes internos foram rearranjados no espaço disponível e a configuração do turbo é parecida com a da Mercedes. Ninguém admite, mas há um certo temor com possíveis quebras. Saberemos se isso vai acontecer a partir de quarta-feira em Barcelona.

Sim, sei que vocês vão perguntar o que quer dizer esse código A522. Consta que Szafnauer, assim que chegou à fábrica, encontrou Alonso e perguntou qual carro ele tinha alugado no aeroporto para vir à primeira reunião com a chefia. “Um Audi”, respondeu Fernandinho. “Qual modelo?” “A5.” “Que ano?” — o chefe é muito detalhista. “22”, falou o piloto.