Blog do Flavio Gomes
F-1

VAI TER VAR

SÃO PAULO (Ferrari em instantes) – A transcrição do discurso de Mohammed Ben Sulayem, novo presidente da FIA, deixa tudo claro. Foi divulgada hoje na mesma hora em que a Ferrari apresentava seu carro em Maranello. Segue um resumo, com nossas caixinhas coloridas. Depois delas, um comentário geral para não dizer que não falei das […]

SÃO PAULO (Ferrari em instantes) – A transcrição do discurso de Mohammed Ben Sulayem, novo presidente da FIA, deixa tudo claro. Foi divulgada hoje na mesma hora em que a Ferrari apresentava seu carro em Maranello. Segue um resumo, com nossas caixinhas coloridas. Depois delas, um comentário geral para não dizer que não falei das flores…

Michael Masi não é mais diretor de prova da F-1. O australiano será substituído pela dupla Eduardo Freitas (português, ex-WEC) e Niels Wittich (alemão, ex-DTM), que vão se revezar nas corridas. Eles começam a trabalhar daqui a seis dias nos testes de Barcelona.

Paralelamente, será montada uma Sala de Controle Virtual das Corridas, que o presidente Salaminho compara sem vergonha nenhuma ao VAR do futebol. Isso para ajudar o diretor que estiver no autódromo e evitar que o pobre coitado seja pressionado até a loucura, como aconteceu várias vezes com Masi.

Herbie Blash, ex-chefe da Brabham, amigo do peito de Bernie Ecclestone, que de 1995 a 2016 trabalhou na FIA junto a Charlie Whiting (diretor de prova até 2019, quando morreu de repente na véspera da abertura do Mundial), foi chamado para ser uma espécie de conselheiro permanente dos dois novos diretores.

A comunicação entre as equipes e o diretor de prova durante as corridas não será mais levada ao ar pela TV. E o pessoal dos boxes não vai mais poder pressionar o infeliz que estiver no comando. “O diretor tem de tomar suas decisões em paz”, falou Salaminho. Só perguntas básicas poderão ser feitas. Tipo: “Senhor diretor, a que horas começa a corrida?”. Ou: “Senhor diretor, podemos tomar café no pitwall? Em caso positivo, pode ser com leite e açúcar?”.

Os procedimentos de safety-car serão redefinidos no que se refere aos carros que já tomaram voltas e se colocam no pelotão na condição de retardatários. Detalhes ainda serão revelados.

Masi receberá uma oferta de trabalho ainda na FIA, para ocupar alguma outra função. Especula-se que seja como operador da máquina de xerox.

Tudo isso significa que Salaminho e a FIA admitem que Masi fez muita cagada no GP de Abu Dhabi, tirando o título de Lewis Hamilton. Por isso o cara perdeu o emprego e por isso a regra do safety-car será reescrita. E, também, que foi vergonhosa a atuação do agora ex-diretor diante das “instruções” passadas pela turma da Red Bull pelo rádio. Jonathan Wheatley, diretor-esportivo da equipe, praticamente definiu quem poderia passar o safety-car, para sair da frente de Verstappen, e quem deveria permanecer onde estava para não atrasar o reinício da porfia. Um áudio divulgado recentemente mostra como Masi foi subserviente às sugestões rubro-taurinas que mais pareciam ordens.

O VAR da F-1 vai ser útil nesses casos extremos e agudos. Com todas as câmeras disponíveis, gente mais tranquila para analisar as imagens e o livro de regras aberto na página certa, quem sabe as decisões sejam menos estapafúrdias. Não ficou claro se na sala do VAR teremos também comissários desportivos como os que ficam na torre de controle julgando os acontecimentos durante um GP. Não gosto muito dessa configuração atual, com um pessoal que não vai a todas as provas e nem sempre está atualizada sobre a realidade da F-1. Colocar um cara como o Roberto Moreno, por exemplo, para analisar um incidente de corrida em 2021 não tem cabimento. É outro esporte, outra F-1, muito diferente daquela em que ele correu. Citei o Moreno porque foi de quem lembrei agora. Para não acharem que estou pegando no pé só porque é brasileiro e tal, citem outros comissários que trabalharam no ano passado cujas escalações não fazem muito sentido. Deve ter gente muito pior que o Baixo.

A saída de Masi atende à demanda da Mercedes, que chegou a protestar o resultado da última corrida do ano, mas depois retirou a queixa diante da promessa de que a entidade rifaria o diretor. Há quem acredite que até o silêncio de Hamilton nas redes sociais depois daquela prova — rompido apenas dias atrás com uma singela fotografia no Instagram — tenha sido condicionado pela espera por uma decisão da FIA.

Masi é página virada, pois. Amanhã, na apresentação do novo carro da Mercedes, teremos as primeiras declarações oficiais de Hamilton. Duvido que ele toque no assunto, até porque esses eventos não contam mais com a presença de jornalistas e não há entrevistas para a imprensa. Serão divulgadas o que a gente chama de aspas em tom ameno e neutro, para que ninguém se comprometa. O que é uma pena.

(E tem gente que demoniza a imprensa profissional para louvar as novas formas de “comunicação direta” entre celebridades de todas as áreas e seu público, inauguradas pelas redes sociais, “sem intermediários”. Tal comunicação nada mais é do que “eu falo o que bem entendo e não preciso me preocupar com perguntas indiscretas”. Acabou o contraditório. Cessaram os questionamentos. Terminaram as saias justas. Precisa ser muito otário para ler, sei lá, uma postagem da Anitta e achar que ela está falando diretamente com você. Mas foda-se. Se o povo quer essa papagaiada chapa-branca, que fique com ela.)

Volto em instantes para falar dos números de audiência da F-1 e da Ferrari nova. Não me apressem.