Blog do Flavio Gomes
F-1

JEDDAH ON FIRE (2)

SÃO PAULO (brincando com fogo) – Não me considero um fatalista/alarmista, mas julgo absurdo o prosseguimento das atividades em Jedá depois de ler o comunicado acima, dos organizadores do GP da Arábia Saudita. O texto fala literalmente em ataque às instalações da Aramco. É um texto oficial. Mesmo assumindo que houve um atentado — as […]

Comunicado dos organizadores: “ataque”, diz o texto

SÃO PAULO (brincando com fogo) – Não me considero um fatalista/alarmista, mas julgo absurdo o prosseguimento das atividades em Jedá depois de ler o comunicado acima, dos organizadores do GP da Arábia Saudita. O texto fala literalmente em ataque às instalações da Aramco. É um texto oficial. Mesmo assumindo que houve um atentado — as versões disponíveis falam em drones e mísseis –, a F-1 decidiu seguir o jogo, confiando nas autoridades sauditas.

Outro comunicado, este da categoria em si, diz: “A F-1 está em contato com as autoridades relevantes depois da situação verificada hoje. As autoridades confirmaram que o evento pode continuar conforme o planejado, permanecerão em contato com as equipes e seguirão monitorando a situação de perto”.

Notem que a F-1 não usa a palavra “ataque”. Prefere “situação”. A situação é que a menos de 20 km do circuito bombeiros, neste momento, tentam apagar o incêndio em tanques de petróleo supostamente atacados por rebeldes houthis que lutam no Iêmen contra a Arábia Saudita. Enquanto isso, na pista, 20 carros participaram do segundo treino livre para a segunda etapa do Mundial.

Tempos em Jedá: Ferrari na frente

Eis o resultado, com a Ferrari voltando a andar na frente, como fizera na primeira sessão, ainda com a luz do dia. Charles Leclerc foi o mais rápido com 1min30s074, mesmo tendo perdido quase meia hora de treino depois de tocar o muro com a roda dianteira esquerda de seu carro. O parceiro Carlos Sainz também lambeu o muro e andou pouco. Ficou em terceiro. Entre os dois, Max Verstappen, 0s140 mais lento que o monegasco.

Foram apenas alguns dos incidentes do segundo treino livre, que teve também uma quebra de Kevin Magnussen e outra de Yuki Tsunoda. Para o dinamarquês da Haas, o prejuízo foi maior. Ele não conseguiu fechar volta no primeiro treino e andou pouco no segundo. Como não correu em Jedá no ano passado, terá pouco tempo de pista para se adaptar a um circuito tinhoso por ter média de velocidade muito alta, curvas à farta — 27 — e muros muito próximos.

Leclerc: melhor tempo, mas beijou o muro

A sessão noturna começou com atraso de 15 minutos porque os chefes de equipe se reuniram com a direção da F-1 para entender direito o que estava acontecendo no depósito da Aramco. A fumaça negra do incêndio foi sentida por todos no paddock. Stefano Domenicali, CEO da Liberty, disse que as atividades estavam mantidas. “Nos sentimos seguros”, falou.

Nem todo mundo tinha a mesma percepção. Sergio Pérez, segundo relatos, era um dos mais preocupados com a situação. O guru da Red Bull Helmut Marko, com toda fineza que lhe é peculiar, fez troça. “Não sei por que Checo está nervoso. No México não é muito mais seguro do que aqui”, disse o austríaco do olho de vidro e cara de mau.

A Mercedes voltou a ficar atrás das duas equipes mais fortes deste início de temporada, com Hamilton em quinto, 0s439 atrás de Leclerc, e Russell em sexto, a 0s590. Seus carros continuam saltitando na pista, vítimas do efeito “porpoising” — a interrupção do fluxo de ar sob o assoalho por frações de segundo porque batem muito no asfalto.

A equipe está usando em Jedá uma asa traseira menos carregada, para reduzir o arrasto aerodinâmico. Melhorou um pouco, mas não muito. Lewis e George seguem com dificuldades para acompanhar as duplas de Ferrari e Red Bull, que são as favoritas à pole amanhã e à vitória no domingo. Hamilton pediu até a troca de seu banco no meio da segunda sessão, para tentar melhorar a posição no cockpit.

Hamilton, quinto: asa menor do que no Bahrein

É provável que nada aconteça nos próximos dois dias que possa colocar as vidas de todos no autódromo em risco. Tomara. Medidas extras de segurança, óbvio, estão sendo tomadas pelas autoridades sauditas. Mas o simples fato de ter havido um ataque tão próximo ao local do evento na abertura dos trabalhos deveria ser levado mais a sério pela F-1.

Após o treino, todos os pilotos foram à direção da F-1 para conversar sobre o assunto e discutir quais medidas poderão ser tomadas a partir da evolução do quadro de tensão. As entrevistas do final da noite foram canceladas.

Incêndio e autódromo: menos de 20 km

O presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem falou que “o alvo deles é a infraestrutura, não civis ou, claro, o autódromo”. “Checamos todos os fatos e recebemos a garantia de que este é um lugar seguro. Vamos correr”, determinou o dirigente, nascido nos Emirados Árabes Unidos.

Será? O próprio presidente da FIA, praticamente um local, assume que está fazendo um GP numa zona de conflito militar. Faz sentido?

É sobre isso que vamos conversar mais tarde, às 19h, no “Fórmula Gomes” em nosso canal no YouTube. Espero todos lá!