Blog do Flavio Gomes
F-1

JEDDAH ON FIRE (5)

SÃO PAULO (palpite certeiro) – Max Verstappen venceu com enorme categoria o GP da Arábia Saudita em Jedá. Deixou para atacar o líder Charles Leclerc nas últimas voltas da corrida e o fez com maestria e precisão. Levou a Red Bull à primeira vitória no ano. Foi a 21ª da carreira do piloto holandês, atual […]

Max: vitória cerebral em Jedá

SÃO PAULO (palpite certeiro) – Max Verstappen venceu com enorme categoria o GP da Arábia Saudita em Jedá. Deixou para atacar o líder Charles Leclerc nas últimas voltas da corrida e o fez com maestria e precisão. Levou a Red Bull à primeira vitória no ano. Foi a 21ª da carreira do piloto holandês, atual campeão do mundo. Carlos Sainz, com a outra Ferrari, ficou em terceiro. O time italiano, em duas corridas, já levou quatro taças para a sede em Maranello. Lidera o Mundial com 78 pontos, contra 38 da Mercedes, a segunda (e apagada) colocada. O pole Sergio Pérez terminou em quarto, depois de liderar a primeira parte da prova. Deu azar no pit stop, feito uma volta antes da única entrada do safety-car. Perdeu a ponta e apagou.

Leclerc, com a segunda colocação, foi a 45 pontos na classificação. Saiz tem 33 e é o vice-líder. Verstappen tem 25 e é seguido por Russell, com 22, e Hamilton, com 16. Os dois pilotos da Mercedes terminaram a prova, respectivamente, em quinto e décimo.

Tsunoda nem largou: quebra da AlphaTauri

O primeiro drama da noite saudita aconteceu já quando os carros saíam dos boxes para alinhar. Yuki Tsunoda teve um problema no motor, avisou pelo rádio e recebeu a resposta: “Acabou, meu querido. Pode sair do carro e vem ver a corrida com a gente aqui na garagem”. O japonês já não tinha feito a classificação ontem. No Bahrein, o carro de Gasly pegou fogo. E os dois pilotos da Red Bull abandonaram com problemas de alimentação de combustível. Se alguém quiser colocar em dúvida a gestão dos motores dos dois times após a saída oficial da Honda, fique à vontade.

Depois de cogitar largar dos boxes, Hamilton decidiu começar a corrida de sua posição original, o 15º no grid, confiando que, com o carro mais pesado, tanque cheio, conseguiria fazer alguma coisa. Optou por largar com pneus duros, assim como Magnussen e Hülkenberg. Os demais, com médios.

Pérez saltou bem na largada, sustentando a ponta. Verstappen conseguiu passar Sainz ainda na primeira volta para se colocar em terceiro, com Leclerc em segundo. No fundão, onde criança chora e a mãe não escuta, Hamilton ganhou uma posição e pulou para 14º. Foi um início de prova dos mais civilizados, sem incidentes.

Já na quarta volta Lewis começou a reclamar da falta de aderência dos seus pneus. Se o carro já era indomável com macios na classificação, pode-se imaginar a dificuldade para se manter minimamente equilibrado com os duros. A Mercedes assumira um erro na configuração do #44 para a classificação. Tentou algo diferente também na escolha de pneus. Não acertou em nada.

Alpine x Alpine: briga perigosa

Um duelo pouco agradável aos olhos da Alpine marcou as primeiras voltas da corrida. Ocon, em sexto, deu algumas trancadas em Alonso, o sétimo, para desespero da chefia do time francês. O espanhol finalmente passou na sétima volta. Na seguinte, Esteban deu o troco, mas devolveu a posição logo depois porque passara por fora dos limites da pista. Nos boxes, os mecânicos da Alpine coçavam a cabeça, preocupados. Bottas e Magnussen chegaram para a festa e colaram nos dois carros rosa.

Lá na frente, Pérez abria uma distância segura de mais de 2s para cima de Leclerc, que por sua vez tinha mais de 4s sobre Verstappen. Sainz vinha 7s atrás. Hamilton, remando em águas turvas, era o 12º e tentava escalar o pelotão para, pelo menos, entrar nos pontos. Aos poucos, ia conseguindo. Na 12ª volta, passou Norris e foi para 11º.

Alonso e Ocon seguiam trocando tinta perigosamente. Até que na 14ª volta alguém entrou no rádio do francês e pediu para ele maneirar. Foi o tempo de o piloto bufar e dizer “merde” e perder a posição para Bottas, que pulou para sétimo.

Hamilton entrou nos pontos ao passar Gasly na volta 15. E começaram os pit stops do pessoal que lutava na ponta. Pérez foi o primeiro a parar e colocou pneus duros, chamado às pressas pela Red Bull porque, pelo rádio, a Ferrari blefou ao convocar Leclerc para a parada — e ele não parou. O mexicano mal saiu dos boxes e Latifi bateu. O safety-car virtual foi acionado e quem não tinha parado correu para os boxes. Poucos segundos depois, o safety-car de verdade foi para a pista, claro. Quem se deu mal? O pobre Checo, que convocou seus mariachis internos para choramingar o azar desgraçado de ter parado uma volta antes da batida do canadense da Williams.

Batida de Latifi: azar do mexicano que largou na pole

Leclerc assumiu a ponta, com Verstappen em segundo e Checo em terceiro. Sainz, Russell, Magnussen e Hamilton vinham logo depois. Kevin e Lewis não tinham trocado pneus. Os demais, sim. Carlos, o espanhol da Ferrari, reclamou que Pérez o havia passado, na saída dos boxes, após a linha do safety-car

A prova até que não demorou para ser retomada. No fim da volta 20, o Mercedão vermelho apagou o giroflex, recolheu para os boxes e o reinício foi autorizado. Leclerc, na ponta, puxou o freio de mão para relargar do jeito que achasse melhor. Quase parou no grid, deixando Verstappen irritado. O monegasco, na dele, partiu bem quando a bandeira verde foi mostrada e se segurou na frente. Pérez devolveu o terceiro lugar a Sainz, orientado pela Red Bull, e a vida seguiu em seu ritmo normal. O mexicano murchou e se encostou em quarto.

A diversão nas primeiras voltas pós-safety-car ficou por conta de Magnussen e Hamilton. Na volta 24, o inglês passou o dinamarquês. Alguns metros à frente, o dinamarquês passou o inglês. Na 25, o inglês passou o dinamarquês. E assim foi, com asa móvel aqui, asa móvel ali, e quem diria que veríamos, ainda neste século, um carro da Mercedes batendo roda com um da Haas… E sofrendo. Mas Lewis, por fim, ganhou a sexta posição. E, depois, disse pelo rádio que seus pneus estavam… OK! Lewis, o reclamador oficial da borracha na F-1, elogiou seus pneus!

Pérez bem no começo, azar no pit stop: terminou em quarto

Pudera. Se trocasse naquela hora, o pit stop significaria a perda de sete ou oito posições. Sua esperança era um novo safety-car. Mas uma hora os pneus teriam de ser substituídos. Magnussen, que como ele largou de pneus duros, foi perdendo rendimento e na volta 35 perdeu o sétimo lugar para Alonso, que já tinha trocado os seus. Pena que, na volta seguinte, Fernandinho quebrou. Seu motor abriu o bico. Logo depois, quebrou Ricciardo. Expectativa no autódromo: se um dos dois não chegasse nos boxes, o safety-car poderia ser acionado de novo. E isso aconteceu com o #3 da McLaren, que parou na entrada no pitlane. Alonso, da mesma forma, não alcançou seu destino. Bottas também abandonou, mas já estava na porta da garagem da Alfa Romeo.

O safety-car virtual foi acionado, mas a entrada dos boxes foi fechada e Hamilton não pôde entrar. Magnussen, pouco antes, conseguiu trocar seus pneus e caiu para 12º. Lewis se estrepou. Não podia trocar seus pneus enquanto o portão dos boxes não fosse destrancado. “Cadê o porteiro, cacete!”, gritava.

Lewis só pôde parar quando o período de safety-car virtual terminou. Colocou pneus médios e voltou em 11º, atrás de Magnussen. Na real, não era um protagonista dessa corrida. Pode até ter tentado. Mas o carro não ajudou.

Max persegue Leclerc: duelo nas voltas finais

Corte da câmera para a ponta de novo. Na volta 42, tínhamos finalmente uma corrida. Verstappen, orientado algumas voltas antes a atacar Leclerc apenas no fim, atacou. Partiu para cima da Ferrari #16 com apetite e asa aberta. Passou. Na reta seguinte, abrindo a volta 43, foi Charlinho quem abriu a asa e retomou a ponta. O duelo se desenhava muito parecido com o do Bahrein. Mas com dois pilotos que, agora, sabiam que não poderiam oferecer a asa móvel ao outro na reta dos boxes. Na volta 44, ambos meteram o pé no freio para ficar atrás na linha de abertura do DRS, evitando, assim, se tornarem presas fáceis na reta seguinte. Fritaram pneus. Leclerc conseguiu se manter na frente.

“Calma, Max, calma”, cantarolava o engenheiro de Verstappen no ritmo de “Betty frígida”. Na volta 46, o holandês rascunhou a ultrapassagem. Fez uma volta redondinha e preparou o bote para a volta seguinte. Conseguiu passar atrás na última linha de DRS com o carro equilibrado e tracionando direitinho, embutiu em Leclerc, abriu a asa, passou e foi embora.

Pero no mucho. Leclerc ainda tinha duas voltas para tentar dar o troco. Até se aproximou e ensaiou uma nova manobra. Mas não conseguiu. Max, com a frieza que lhe é peculiar, prendeu a respiração e foi. Ficou na frente. Não se apavorou com o carro vermelho no retrovisor. E conquistou uma vitória cerebral e impecável. Recebeu a quadriculada 0s549 à frente do monegasco.

Bandeirada para Verstappen e Leclerc: decisão nas últimas voltas

Verstappen, Leclerc e Sainz fizeram o pódio. Pérez, Russell, Ocon, Norris, Gasly, Magnussen e Hamilton fecharam os dez primeiros. Lewis, ao receber a bandeirada, foi informado da posição em que chegou. “Isso aí dá algum ponto?”, perguntou a Bono, seu eterno engenheiro. Dá sim, um. Unzinho. O inglês ainda conseguiu salvar alguma coisa do péssimo fim de semana em Jedá. Mas pouco, muito pouco para a equipe que tem e o piloto que é.

Max fez seus primeiros 25 pontos no ano, já que tinha zerado no Bahrein. “Comecei meu campeonato”, disse. Depois, elogiou o duelo com Leclerc, recebendo os cumprimentos de volta. Os dois se abraçaram e mostraram que, por enquanto, não há animosidade alguma na rivalidade, bem diferente do ano passado quando os embates do holandês se davam com Hamilton. “Temos respeito um pelo outro”, falou Charlinho.

O cumprimento dos protagonistas: sem hostilidades

A próxima etapa acontece daqui a duas semanas na Austrália. Até lá, a Mercedes tem muita coisa para resolver. Ferrari e Red Bull, por sua vez, terão dias mais tranquilos. E às 19h estaremos no YouTube para falar de tudo isso!