Blog do Flavio Gomes
F-1

PARQUE DO ALBERTO (4)

SÃO PAULO (bom dia) – Foi uma daquelas vitórias clássicas e raras, com pole, melhor volta e todas elas em primeiro lugar, da largada à bandeirada. O tal do Grand Chelem. Pois Charles Leclerc fez isso em Melbourne e com a vitória no GP da Austrália, terceira etapa do campeonato, disparou na liderança do Mundial […]

Leclerc nos braços da Ferrari: vitória incontestável

SÃO PAULO (bom dia) – Foi uma daquelas vitórias clássicas e raras, com pole, melhor volta e todas elas em primeiro lugar, da largada à bandeirada. O tal do Grand Chelem. Pois Charles Leclerc fez isso em Melbourne e com a vitória no GP da Austrália, terceira etapa do campeonato, disparou na liderança do Mundial com 71 pontos. Foi sua segunda vitória no ano e quarta na carreira. Como Max Verstappen, seu teórico principal adversário, abandonou pela segunda vez no ano, a folga na tabela é gigantesca: 46 pontos de vantagem sobre o holandês, que está apenas em sexto na classificação.

A prova no renovado circuito de Albert Park não foi tão movimentada quanto se esperava com as três zonas de asas móveis disponíveis e carros que podem andar perto uns dos outros. Não houve tantas ultrapassagens e as disputas por posição na frente se resumiram às ações de Sergio Pérez sobre Lewis Hamilton e George Russell, da Mercedes. O mexicano da Red Bull terminou a corrida em segundo, 20s524 atrás de Leclerc. Jorginho foi o terceiro e Comandante Aamilton, o quarto. Fecharam os pontos os mclarianos Lando Norris e Daniel Ricciardo em quinto e sexto, seguidos por Esteban Ocon, da Alpine, Valtteri Bottas, da Alfa Romeo, Pierre Gasly, da AlphaTauri, e Alexander Albon, da Williams.

Leclerc começou bem a prova, mantendo a liderança nas primeiras voltas sem nenhuma dificuldade. A largada também foi boa para Hamilton, pulando de quinto para terceiro. Ruim mesmo foi a partida de Carlos Sainz, companheiro ferrarista de Charlinho, que optou por começar a corrida com pneus duros — a maioria foi de médios — e despencou de nono para 14º na primeira volta. E como desgraça pouca é bobagem, o espanhol escapou na pista na terceira volta ao tentar passar Mick Schumacher. Foi na grama, atravessou a pista e acabou atolado na caixa de brita. Um desastre.

O safety-car foi acionado e na sétima volta a relargada foi autorizada, sem grandes alterações. Foi só na décima volta que Pérez conseguiu passar Hamilton, que não tinha muitos meios de resistir. Lá na frente, Leclerc já abria mais de 4s sobre Verstappen, que não conseguia imprimir um ritmo nem parecido com o da Ferrari.

Pérez: boas ultrapassagens e segundo lugar no fim

Na volta 18 começaram os pit stops com Ocon, que colocou pneus duros e ficou muito claro que seria corrida de apenas uma parada como estratégia-padrão. Verstappen foi aos boxes na 19ª, voltando em sétimo. Na 23ª pararam Leclerc, Pérez e Hamilton, com o inglês conseguindo retomar a posição do piloto da Red Bull. Na mesma hora Sebastian Vettel bateu sozinho e o safety-car foi acionado de novo. Sorte de Russell, que correu para os boxes, trocou seus pneus e voltou em terceiro, na frente do companheiro.

A relargada aconteceu na volta 27 e Leclerc teve seu único susto na corrida, quando Verstappen insinuou um ataque. Ficou no ensaio. O monegasco se aprumou no fim da reta dos boxes e foi embora de novo. Naquela altura da prova, três “outsiders” apareciam entre os dez primeiros: Alonso em quarto, Magnussen em sétimo e Albon em décimo. Todos tinham largado de pneus duros e, por isso, ainda não haviam feito seus pit stops.

Vettel parado depois de nova batida: péssimo fim de semana

A farra de Fernandinho não durou muito e na volta 30 ele foi ultrapassado por Pérez. Na 31ª foi a vez de Hamilton deixar o espanhol da Alpine para trás. O mexicano, então, partiu para cima de Russell e na volta 36 assumiu o terceiro lugar. A Mercedes, pelo rádio, orientou seu piloto a não resistir muito para “administrar os pneus”. “Não é o tipo de mensagem que eu queria receber”, reclamou o inglês.

A corrida perdeu um pouco o encanto com a turma da frente bem espalhada, até que na volta 39 um “ooooh!” se ouviu nas arquibancadas do circuito australiano — que receberam, em três dias de evento, nada menos do que 419.114 pessoas, um recorde. Era Max Verstappen parando no acostamento e avisando pelo rádio que sentia um cheiro esquisito “de algum fluido” e que estava “tudo cagado” (as palavras são dele, sorry pela vulgaridade) em seu carro.

Foi o segundo abandono do holandês em três corridas. No Bahrein, a Red Bull disse que ele teve um problema no sistema de alimentação de combustível — mesmo motivo para o abandono de Pérez na abertura do Mundial. Agora, a informação oficial foi a de que houve um vazamento de combustível. Max saiu de Melbourne cuspindo marimbondos. “Quem quer lutar pelo campeonato não pode ter esse tipo de problema. É frustrante e inaceitável”, disse.

Verstappen abandona o GP: “inaceitável”

Desta vez não foi preciso safety-car, apenas o virtual, e nesse momento Alonso e Magnussen aproveitaram para, finalmente, trocar seus pneus. Só ficou Albon na pista com a mesma borracha da largada. A corrida foi rapidamente retomada e nada de mais relevante aconteceu até o final. Pode-se dizer que o trenzinho puxado por Stroll, da Aston Martin, foi divertido. O canadense fez zigue-zague, foi punido, xingado e terminou fora dos pontos. Mas foram lances do meio para trás do pelotão, sem grande importância.

Nas últimas voltas, Hamilton chegou perto de Russell, mas não tentou nada porque seu motor estava superaquecendo e poderia quebrar. As posições se acomodaram. Restava saber qual seria o destino do tailandês da Williams, que só fez sua troca obrigatória de pneus na volta 56, a duas do final. Estava em sétimo, caiu para décimo. E fez um pontinho quase milagroso, porque tinha largado em último. Leclerc à parte, foi o nome da prova.

Albon, décimo: façanha com a fraca Williams

Charlinho, no final, perguntou pelo rádio se era o caso de buscar o ponto extra da melhor volta colocando pneus macios novos. Recebeu um sonoro “não” na fuça, “porque você já fez a melhor volta e ninguém vai superar seu tempo” — como explicou com seu sotaque macarrônico o engenheiro da Ferrari. Não precisava mesmo, mas por via das dúvidas na última ele cravou a volta mais rápida da corrida.

“Foi a primeira vez que consegui controlar uma prova do começo ao fim”, disse Leclerc. Sobre o favoritismo precoce ao título, já que Red Bull e Mercedes têm mais problemas que pontos, o garoto pobre criado nas comunidades dos morros de Monte Carlo procurou conter a euforia: “O campeonato é longo, mas é claro que se as coisas continuarem assim, pode ser que a gente tenha o que comemorar no final. A gente passou por temporadas muito difíceis nos últimos anos. Temos de manter os pés no chão. Por enquanto tudo está correndo bem”.

Os dez primeiros em Melbourne: vitória tranquila

Com 104 pontos em três corridas, a Ferrari lidera o Mundial de Construtores — que não conquista desde 2008. A Mercedes está em segundo com 65, seguida pela Red Bull com 55. McLaren (24) e Alpine (22) vêm na sequência. A Aston Martin é a única que ainda não pontuou.

Quem saiu com uma tromba do tamanho do mundo do Albert Park foi Alonso, que acabou zerando na corrida — foi o 17º. “Estou sem palavras. Sábado eu estava sonhando com um pódio. Hoje, se não fosse o safety-car, chegaria em sexto. E estou com dois pontos em três corridas”, lamentou. Já a turma da McLaren festejou quinto e sexto para Norris e Ricciardo, assim como Bottas não tinha do que reclamar após um oitavo lugar. Migalhas para os coadjuvantes.

Alonso, 17º: resultado frustrante

A próxima etapa do Mundial acontece no dia 24 em Ímola, a primeira corrida europeia do ano. Lá algumas equipes podem apresentar atualizações de seus carros, já que vai ser possível trabalhar direito nas fábricas depois de semanas longe de casa com testes e corrida no Bahrein e, depois, GPs na Arábia Saudita e na Austrália.

Red Bull e Mercedes terão muito trabalho. À Ferrari, resta torcer para que nenhuma delas consiga o milagre da multiplicação da velocidade. Do jeito que está, para os italianos, está bom demais.

Ferrari dominante: tudo que os italianos desejam