Blog do Flavio Gomes
F-1

MIAMI VICE (5)

SÃO PAULO (abaixo de zero) – “Ontem a gente achou que hoje poderia lutar pela pole. Hoje fico em 12º no grid. Nada faz sentido.” Russell, George. É, Jorginho… Nada faz sentido quando se pilota um carro esquisito. Hamilton ficou em sexto. Larga na terceira fila do GP de Miami. “Não acho que o carro […]

Leclerc na pole: 12ª na carreira

SÃO PAULO (abaixo de zero) – “Ontem a gente achou que hoje poderia lutar pela pole. Hoje fico em 12º no grid. Nada faz sentido.” Russell, George.

É, Jorginho… Nada faz sentido quando se pilota um carro esquisito. Hamilton ficou em sexto. Larga na terceira fila do GP de Miami. “Não acho que o carro está muito melhor do que antes, mas foi minha melhor classificação das últimas três corridas”, disse. “Sou grato por isso.”

Também não faz muito sentido.

O que fez sentido foi a pole de Charles Leclerc, terceira dele no ano, 12ª na carreira. O monegasco, líder do Mundial, já havia colocado a Ferrari #16 em primeiro no Q1 e no Q2 antes de fazer o tempo que lhe deu a primeira posição no grid, 1min28s796 — 0s190 à frente de Carlos Sainz, seu companheiro, que recuperou-se de uma sexta-feira ruim e conseguiu um lugarzinho na primeira fila como consolo.

Os tempos no sábado de Miami: poucas surpresas

Em terceiro ficou Max Verstappen, que chegou a ameaçar a pole de Leclerc quando se tornou o primeiro a entrar na casa de 1min28s na abertura do Q3. Mas na sua segunda tentativa de volta rápida, cometeu um errinho e não baixou o tempo. Terá a seu lado na segunda fila o outro carro da Red Bull, do bom compañero Sergio Pérez.

Bottas, em quinto, foi o grande nome do sábado. Perdeu um treino inteiro ontem depois de bater seu carro, mas foi à luta e colocou a Alfa Romeo numa excelente posição de grid. Foi aplaudido quando chegou às dependências da equipe. Ele tem sido aplaudido pelo pessoal da Alfa o tempo todo. Quando chega de manhã e diz buongiorno, aplausos. Quando pede um cafèlatte, palmas. Quando diz que precisa ir ao banheiro, aclamação. Nunca foi tão ovacionado, Valtteri. Nunca esteve tão feliz.

O sexto, já falamos dele, foi Hamilton. Completaram os dez primeiros, pela ordem, Gasly num bom sétimo lugar, Norris, Tsunoda e Stroll. Desses aí, só quem ficou meio emburrado foi Lando, que esperava largar um pouquinho à frente — fora o terceiro no Q2. Seu companheiro Daniel Ricciardo, em compensação, deu mais um vexame: 14º no grid. Seu estoque de desculpas acabou. O simpático australiano, e disso se fala abertamente no paddock, vai ter de buscar outro endereço no ano que vem se quiser ficar na F-1. Na McLaren, no más.

Bottas, quinto no grid: aplaudido 24 horas por dia

A sessão que definiu o grid do GP de Miami foi realizada com muito calor, 33°C, e asfalto escaldante, 53°C. Asfalto que, diga-se de passagem (Neto, Craque), teve de ser refeito durante a noite e a madrugada na curva 17, porque estava de desmilinguindo.

A pista em volta do estádio dos Dolphins ficou, realmente, uma porcaria. Mas o povo de capacete e sapatilha evitou muitas críticas hoje, depois que alguns deram seu veredito ontem — a saber: melhor mudar algumas coisas no ano que vem.

No Q1, apenas quatro pilotos foram limados porque um dos 20 nem andou. Foi o francês Esteban Ocon, que bateu no terceiro treino livre, rachou o chassi e fez a Alpine trabalhar dobrado para construir um carro novo para a corrida. Não se machucou, o francês. Mas a pancada deu perda total no automóvel. Estancaram na primeira parte da classificação Magnussen (desta vez decepcionou), Zhou (prejudicado pelo tráfego) e a dupla da Williams — Albon e Latifi.

Ocon no muro: deu PT

Quem foi ao Q2 feliz da vida foi Schumaquinho, que fez o 11º tempo na abertura dos trabalhos na Flórida. Mas acabou eliminado em seguida e larga em 15º. Com ele foram excluídos do Q3 Alonso, Russell, Vettel e Ricciardo.

O alemão da Aston Martin, até agora, vem se destacando em Miami pelo figurino. Ontem vestiu cuecas sobre o macacão para protestar contra a chatice da FIA, que promete verificar todas as roupas dos pilotos para saber se estão usando mesmo tecido antichama. Desnecessário, porque é claro que sim. Antes já havia vestido uma camiseta chamando a atenção para o aquecimento global e a elevação do nível dos oceanos. Nela, a inscrição: “Miami 2060: primeiro GP debaixo d’água”.

Leclerc venceu quatro corridas até hoje na F-1, e em todas elas largou na pole: Bélgica e Itália em 2019 e Bahrein e Austrália neste ano. O cenário ideal para ele amanhã é largar bem e contar com Sainz segurando Verstappen pelo menos por algumas voltas. Conhecendo Max, o holandês vai tentar dar o bote para cima do espanhol logo. Depois, parte para atazanar Leclerc. É meu candidato mais forte à vitória.

Mas é difícil fazer prognósticos para essa corrida. Faz muito calor na região e ninguém treinou o suficiente com carro pesado no horário da prova — 16h30 de Brasília, 15h30 locais. O comportamento dos pneus é uma incógnita. Fora do traçado, a pista é muito escorregadia e traiçoeira. Se o circuito não é bom — opinião geral de pilotos e integrantes das equipes –, isso não significa que a prova não possa ser divertida. Há muitas variáveis como desgaste e superaquecimento da borracha, muros próximos, possibilidades de safety-car, temperaturas altíssimas, asfalto ondulado e de baixa aderência… Enfim, pode acontecer tudo.

Miami, até agora, tem sido uma festa do lado de fora do autódromo. Dentro, ainda não empolgou. Quem sabe amanhã?