Blog do Flavio Gomes
F-1

MONACOU (3)

SÃO PAULO (sem fim) – Sergio Pérez venceu o tumultuado GP de Mônaco de hoje na charmosa & chuvosa Riviera Francesa. Carlos Sainz e Max Verstappen fecharam o pódio mais de três horas depois do horário previsto para o início da corrida. Foi a terceira vitória da carreira do mexicano e a quinta da Red […]

Pérez vence em Mônaco: primeiro latino-americano desde Montoya, em 2003

SÃO PAULO (sem fim) – Sergio Pérez venceu o tumultuado GP de Mônaco de hoje na charmosa & chuvosa Riviera Francesa. Carlos Sainz e Max Verstappen fecharam o pódio mais de três horas depois do horário previsto para o início da corrida. Foi a terceira vitória da carreira do mexicano e a quinta da Red Bull nesta temporada, em sete provas. Max segue na liderança do campeonato, agora com 125 pontos. Charles Leclerc, que largou na pole e terminou em quarto com uma tromba do tamanho do mundo por conta das trapalhadas estratégicas da Ferrari, continua em segundo com 116. Checo chegou perto: em terceiro, tem 110.

A possibilidade de chuva esteve presente em Monte Carlo desde o fim da manhã, quando nuvens pesadas se acercaram das montanhas em torno de Principado. E dez minutos antes do horário previsto para a largada veio a primeira pancada, nem muito forte nem muito fraca. Rápida, tipo uma ducha no asfalto e nada mais. Foi aquele corre-corre típico de momentos já vividos no passado, a água que chega na hora em que uma corrida vai começar. “Eu amo isso, mas não tenho a menor ideia do que vamos fazer”, disse rindo o chefe da Mercedes, Toto Wolff, ao repórter Felipe Kieling, da TV Bandeirantes.

A direção de prova, de cara, atrasou o procedimento de largada em nove minutos e determinou que a volta de apresentação seria percorrida atrás do safety-car. A chuva parou por alguns instantes, mas o céu muito escuro logo mandou seu recado. Às 10h05, pelo horário de Brasília, as torneiras foram abertas e a água veio com gosto. A largada foi atrasada mais um pouco, para as 10h16 – pelo fuso, 15h16 em Monte Carlo.

Por motivos de segurança, a direção de prova decidiu que todos deveriam largar com pneus para chuva forte. Nada de intermediários. As estratégias pensadas para o seco foram todas, literalmente, água abaixo. A Ferrari, com dois carros na primeira fila, foi quem mais odiou a chuva. Sem água, em Monte Carlo, a chance de vitória para Leclerc largando da pole era enorme. A maioria do grid adorou.

O vencedor Pérez já com intermediários: no início, não daria

Mas, de novo, foi uma pancada rápida – embora suficiente para encharcar os poucos mais de 3 km da pista. Uma deliciosa expectativa de caos percorria o Principado.

Precisamente às 10h16 o Mercedão vermelho escalado como safety-car saiu à frente do pelotão. A pista estava muito escorregadia. Muito mesmo. A chuva voltou a apertar e o carro de segurança seguiu puxando o grid para uma segunda volta de apresentação. E antes de abrir a terceira, a direção de prova mostrou a bandeira vermelha e abortou o procedimento. “Tá chovendo loucamente”, tinha dito pouco antes, pelo rádio, Leclerc. E caiu o mundo.

Pelos padrões atuais de segurança da F-1, não havia mesmo condições de largar. Alguns anos atrás, o único critério para cancelar uma corrida por causa de chuva seria uma aparição da arca de Noé — e isso se ela estivesse quase naufragando em meio a ondas nazarenas. “Perigoso” não fazia parte do dicionário da categoria. Para quem assistia, era divertido. Para quem sentava a bunda num cockpit, um horror.

A chuva ia e voltava, apertava e aliviava, e quase uma hora depois do horário previsto para o início da corrida nada acontecia. A direção de prova esperava, apenas. Foi inevitável lembrar de Spa no ano passado – onde depois de seguidos adiamentos por causa da água na pista o diretor Michael Masi autorizou duas voltas atrás do safety-car e deu a corrida como realizada e encerrada.

Russell no piso molhado: asfalto muito escorregadio

Às 10h55, partiu um sinal de vida da torre de controle: uma mensagem nos computadores e uma placa desfilando pelo grid avisaram que dali a dez minutos o procedimento de largada seria retomado. Naquele momento, não chovia. Os pneus permaneceram os mesmos, para pista muito molhada. Às 11h05, mais uma vez atrás do safety-car, foram todos para as ruas lavadas de Monte Carlo.

O número original de voltas, 78, caiu para 77 por conta da volta de apresentação extra pouco menos de uma hora antes. A largada seria dada com os carros em movimento assim que a direção de prova considerasse que havia condições para tal. Antes disso, na Loews, Latifi bateu de leve no guard-rail. Stroll lambeu a proteção de metal e furou um pneu. A corrida ainda nem tinha começado.

Ao final da segunda volta puxando o pelotão, o safety-car recolheu para os boxes e a prova, finalmente, pôde ser iniciada. Schumacher, Latifi, Gasly e Stroll foram para os boxes e colocaram pneus intermediários. As primeiras voltas eram completadas acima de 1min40s – a pole de Leclerc, no seco, veio na casa de 1min11s.

Na sétima volta, Vettel e Tsunoda fizeram o mesmo que seus companheiros e também colocaram pneus intermediários. As demais equipes colaram o olho na cronometragem. Se seus tempos de volta começassem a cair rapidamente, era a senha para todo mundo fazer o mesmo. Já não havia mais spray na maior parte da pista e um trilho mais seco se formava.

Leclerc lidera no início: na chuva, tudo bem para a Ferrari

De início, ninguém se empolgou muito com os intermediários usados pela meia-dúzia lá do fundão. A corrida não passava de um desfile de carros de F-1 em baixa velocidade. Mas na volta 12, Gasly conseguiu ultrapassar a Alfa de Zhou. Opa, vamos ver melhor esses pneus aí, pensaram engenheiros e estrategistas espalhados pelo pitwall. Na seguinte, Pierre deixou Ricciardo para trás e assumiu o 12º lugar. O asfalto já estava bom para os “inter”. A ponto de Sainz, pelo rádio, ousar: “Quando a gente parar, vamos direto para os slicks”.

Gasly passou a virar na casa de 1min31s. Definitivamente, os pneus de faixas azuis, para piso muito molhado, não serviam mais. Hamilton parou na volta 16 e colocou intermediários. Estava em oitavo, caiu para nono. A Red Bull chamou Pérez, que estava em terceiro atrás da dupla da Ferrari. “Inter”, também. Voltou em quarto, numa boa posição para atacar quando os carros vermelhos parassem.

Sainz foi chamado, mas a equipe mudou de ideia e abortou a parada. Convocou Leclerc para parar antes, que não arriscou os slicks e colocou intermediários. Voltou atrás de Pérez, depois de uma parada ruim. Checo começou a virar na casa de 1min25s. Na 21ª volta, cinco pilotos chutaram o balde e arriscaram os pneus slicks duros: Ricciardo, Zhou, Albon, Schumacher e Latifi, os últimos cinco colocados. Enquanto isso, o povo se divertia com Hamilton brigando com Ocon pela oitava posição.

Então, os ponteiros se renderam às evidências. Sainz parou na volta 22 e colocou pneus slicks duros direto, sem passar pelos intermediários, como tinha sugerido algumas voltas antes. A Ferrari se atrapalhou e chamou Leclerc junto. Quando ele entrava no box, alguém berrou pelo rádio: “Não entra agora, fica!”. Mas ele já tinha entrado. O monegasco xingou muito, porque o ideal seria ficar mais uma volta na pista com intermediários para tentar recuperar a posição do colega — já tinha levado um “undercut” de Pérez na primeira parada.

Charles acabou perdendo muito tempo. Uma volta depois, Pérez e Verstappen pararam juntos e colocaram pneus para pista seca. O mexicano voltou na liderança, seguido por Sainz, Max e Charlinho – este, o que mais se deu mal, caindo da liderança no molhado para a quarta posição no seco. Nesgas de sol se insinuavam aqui e ali. A pista secava rapidamente, mas ainda era traiçoeira – fora do trilho, seguia molhada e escorregadia. Na volta 26, não havia mais nenhum pneu de chuva na pista.

Slicks para Sainz: ousadia & alegria

Na volta 27, porém, por alguns instantes ninguém mais pensou em pneus. A tensão se espalhou pelo circuito porque Mick Schumacher deu uma pancada fortíssima nos “esses” da piscina, partindo seu carro em dois. O alemão da Haas, felizmente, saiu andando sem maiores problemas. Alívio geral. O safety-car foi acionado para a retirada dos destroços e recuperação do “soft-wall”, o muro de proteção que absorve impactos com grande eficiência.

Depois de três voltas, a direção de prova decidiu parar tudo para que o pessoal de pista pudesse arrumar o muro direito. A bandeira vermelha foi agitada e todos os pilotos recolheram para os boxes. Leclerc saiu de seu carro cuspindo marimbondos. No molhado, era líder. No seco, caíra para quarto. Não tinha muito o que fazer. Era respirar fundo e tentar dar a volta por cima.

A corrida foi reiniciada cerca de meia hora depois, às 12h15, atrás do safety-car. Pérez, Sainz, Verstappen, Leclerc, Russell, Norris, Alonso, Hamilton, Ocon e Bottas eram os dez primeiros na volta 31. Alguns pilotos optaram pelos pneus duros – como os da Ferrari. Outros, pelos médios – foi a escolha da Red Bull. Pelo regulamento, a prova teria mais 41 minutos, sem atingir o número original de voltas.

A relargada aconteceu na volta 33 sem maiores problemas. Com o asfalto quase totalmente seco, os tempos caíam rapidamente para abaixo de 1min20s por volta. Virou uma procissão de novo. Ninguém arriscava nada, apesar das condições distintas de pneus. Nem a possibilidade de usar asa móvel ajudava muito – em Mônaco, o dispositivo é de pouca serventia.

Quadriculada para Pérez: primeira vitória no ano

Faltando dez minutos para o fim da corrida, o ritmo de Pérez caiu bastante porque seus pneus começaram a abrir o bico. Sainz colou no mexicano e trouxe com ele Verstappen e Leclerc. Os quatro ficaram empilhados ameaçando os adversários – como naquelas brigas de escola em que os moleques ficam ensaiando dar uma muqueta na fuça do outro, mas ninguém bate. Pérez precisava, basicamente, de sangue frio para se manter em primeiro. Teve.

Assim, Checo ganhou pela primeira vez no ano. Sainz e Verstappen fecharam o pódio, seguidos por Leclerc, Russell, Norris, Alonso, Hamilton, Bottas e Vettel (Ocon recebeu a quadriculada em nono, mas foi punido por um toque em Hamilton e perdeu 5s, caindo para 12º). As posições na pista eram exatamente iguais às da volta 31, quando a prova foi interrompida pelo acidente de Schumaquinho. Não adianta. Em Mônaco, é assim e pronto. Ninguém passa ninguém.

No total, a corrida teve 64 voltas e foi encerrada no limite de tempo.

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Se Pérez tivesse conquistado a auto-reivindicada vitória de Barcelona, semana passada, estaria apenas um ponto atrás de Verstappen no campeonato. “Ele está na briga pelo título tanto quanto Max”, garantiu o chefe Christian Horner. Ninguém acreditou, mas não se pode tirar o direito do piloto de sonhar. A próxima etapa acontece no Azerbaijão daqui a duas semanas, onde ele venceu no ano passado — vitória que caiu no seu colo quando o pneu de Verstappen furou um pneu no fim e Hamilton cometeu um erro besta na relargada.

Entre os derrotados, Leclerc era o mais frustrado do dia na comunidade monegasca. Pela primeira vez terminou uma corrida em casa, mas não ficou nada satisfeito. “A temporada é longa, mas a gente não pode mais errar desse jeito”, disse pelo rádio à Ferrari assim que recebeu a bandeirada. Mattia Binotto, o chefe, assumiu a responsabilidade pelos erros estratégicos que, segundo ele, custaram uma vitória ao time que poderia ter sido de Leclerc ou mesmo de Sainz.

No pódio, Pérez festejou muito e, depois chorou. Algumas horas depois, soube que a Ferrari entrara com um protesto contra ele e Verstappen alegando que ambos cruzaram irregularmente a linha de saída dos boxes nos pit stops e não foram punidos. Somente às 16h30 daqui, 21h30 pelo horário local, mais de quatro horas depois do fim da corrida, os comissários informaram que o protesto havia sido rejeitado porque Max não colocou a roda inteira além da linha e Pérez, segundo sua análise, nem beliscou a dita-cuja.

A vitória, enfim, estava confirmada. E o mexicano pôde dormir em paz.