Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

A IMAGEM DA CORRIDA SÃO PAULO (só confusão) – As trapalhadas da Ferrari, que perdeu uma corrida teoricamente fácil, não podem ofuscar o brilho de Sergio Pérez em Mônaco. O mexicano mereceu a vitória por sua tenacidade e por ter conseguido, na pista, pulverizar a diferença que tinha para o líder Leclerc graças à antecipação […]

A IMAGEM DA CORRIDA

Pérez, o carro e a bandeira: vitória redentora

SÃO PAULO (só confusão) – As trapalhadas da Ferrari, que perdeu uma corrida teoricamente fácil, não podem ofuscar o brilho de Sergio Pérez em Mônaco. O mexicano mereceu a vitória por sua tenacidade e por ter conseguido, na pista, pulverizar a diferença que tinha para o líder Leclerc graças à antecipação de seu primeiro pit stop, para colocar pneus intermediários.

As paradas de Checo aconteceram nas voltas 16 e 22 — a segunda, para colocar pneus slicks. Charlinho parou na 18ª e na 21ª e fez a mesma coisa: intermediários e slicks. O tempo gasto pelo piloto da Red Bull nas duas paradas foi de 48s495. O monegasco perdeu 53s744. O atraso se deu no segundo pit stop por causa da confusão da equipe, que o chamou para os boxes com Sainz entrando na mesma hora. Quando desistiu e mandou o piloto ficar na pista, era tarde. Ele já tinha entrado. Mas não foram só esses quase cinco segundos que catapultaram Pérez à liderança. Suas primeiras voltas com intermediários foram fantásticas. Ali ele ganhou a corrida.

Depois, se manteve na frente sem cometer erros, o que é difícil em Mônaco, mais ainda numa condição de pista traiçoeira. E ganhou, uma semana depois de ser impedido de pelo menos tentar em Barcelona porque seu time priorizou Max Verstappen.

Assim, fiquemos com sua emoção aí em cima, junto do carro e da bandeira do México. E com as lágrimas e os sorrisos no pódio, que sempre se misturam nessas horas.

Vale a pena dar uma olhada no gráfico abaixo, da Pirelli, mostrando a dinâmica das paradas que acabou determinando o resultado final do GP de Mônaco. Ele traz uma curiosidade adicional: Tsunoda usou simplesmente todos os tipos de pneus disponíveis para a prova de Monte Carlo. Largou com os azuis, para chuva forte, trocou para os intermediários na sexta volta, colocou os slicks duros na 21ª, foi para os médios na 29ª (quando Mick Schumacher bateu) e ainda espetou os macios na 56ª. Não adiantou muita coisa, mas de tédio ele não pode se queixar.

No outro extremo, Valtteri Bottas usou apenas dois jogos de pneus: um para pista muita molhada e outro de slicks duros. Não trocou nem quando foi dada bandeira vermelha por causa do acidente com o piloto da Haas. Funcionou. Largou em 12º, chegou em nono. E marcou dois pontinhos valiosos.

Embora tenha colocado macios no fim, não foi de Tsunoda a melhor volta da corrida. Ela ficou com Lando Norris, da McLaren, 1min14s693, na 55ª das 64 percorridas até a bandeira quadriculada. A distância original de 78 voltas foi encurtada por causa do limite de tempo estabelecido para um evento, que agora é de três horas contadas a partir do horário previsto para a largada.

Ontem, o início do GP foi adiado duas vezes por causa da chuva, totalizando 16 minutos de atraso, e depois interrompido quando os carros já estavam atrás do safety-car prontos para uma largada em movimento. A chuva apertou e a prova só começaria 1h05 depois do horário original.

MÔNACO BY MASILI

E não foi só a chuva que molhou o rico asfalto monegasco, como notou nosso cartunista oficial Marcelo Masili. As lágrimas de Leclerc ajudaram…

Ah, Leclerc… Quanta infelicidade, rapaz! Mas, pelo menos, conseguiu terminar uma prova em casa, pequeno tabu pessoal que já vinha incomodando o piloto. Não serviu de consolo, porém. Era uma daquelas corridas para ganhar, ainda mais na chuva, sem spray na cara, podendo ditar o ritmo que quisesse sem ser ameaçado.

Leclerc, quarto colocado: ruim para quem largou na pole

Só que a Ferrari se atrapalhou. Claro que analisar os erros do time depois que tudo aconteceu é fácil. Devia ter feito isso, devia ter feito aquilo. Mas não fez. Na F-1, na maioria das vezes, é possível estabelecer estratégias e antever certas situações — como chamar um piloto para box na hora certa, simular tempos de volta em função do desgaste dos pneus e da redução do peso do carro na medida em que vai baixando o tanque, calcular onde e quando devolver um piloto à pista depois de um pit stop…

Mas quando chove, e quando a corrida é disputada numa pista como Mônaco, nem sempre a lógica aplicada no seco num circuito convencional funciona. É um retardatário que surge não se sabe de onde, é o tráfego que derruba os tempos de volta, é o piloto de outra equipe que bate e causa uma bandeira amarela, é o outro time que arrisca um movimento ousado e acaba dando certo.

Ontem, deu certo para Pérez. E não deu para os demais. Nem para Sainz, que mesmo com uma parada a menos — porque insistiu que iria dos pneus de chuva forte direto para os slicks — e tendo andado à frente do mexicano na primeira parte da corrida acabou chegando atrás dele.

Sainz persegue Pérez no final: tudo certo para o mexicano

O NÚMERO DE MONTE CARLO

7

…provas nos pontos tem George Russell, o único que terminou todas as corridas do ano na zona de pontuação. Mais impressionante ainda: todas elas entre os cinco primeiros colocados, com um carro reconhecidamente problemático como é o W13 da Mercedes. Em Mônaco, foi quinto. Com 84 pontos, é o quarto colocado no Mundial. Hamilton tem 50.

Russell: tirando leite de pedra da Mercedes

No Mundial de Construtores, a Red Bull ampliou sua vantagem sobre a Ferrari com o pódio duplo de Pérez e Verstappen. O time austríaco agora tem 235 pontos, contra 199 dos italianos. A Mercedes, aos trancos e barrancos, vai somando seus pontinhos. Já são 134. Longe dos vice-líderes, mas sem ser ameaçada por quem vem a seguir: McLaren (59), Alfa Romeo (41) e Alpine (40).

Como se sabe, ontem depois da corrida a Ferrari protestou o resultado acusando Verstappen e Pérez de terem cortado a linha de saída dos boxes após seus pit stops. Os comissários rejeitaram o protesto e explicaram. Até o ano passado, se um piloto “queimasse” a linha com qualquer parte do carro seria punido. Neste ano, o regulamento diz que é preciso ultrapassar a linha inteiramente com pelo menos um pneu para que ela seja considerada “cortada”.

Max e Checo passaram com seus pneus por cima da linha, é verdade, mas não inteiramente. O mal-entendido aconteceu porque a FIA, nos seus tradicionais lembretes distribuídos às equipes antes das corridas, deu um copy-paste no artigo sobre a saída de box usando o texto de 2021. A Ferrari se baseou nisso para reclamar. Mas lembrete é uma coisa. Outra é o regulamento em vigor, que segundo os comissários deve ser de conhecimento de todos e, obviamente, se impõe sobre os recadinhos emitidos apenas como forma de chamar atenção para algumas particularidades de cada circuito.

Tudo esclarecido, Mattia Binotto engoliu o choro e foi lamber suas feridas.

Verstappen sai dos boxes: tudo nas regras

A FRASE DE MÔNACO

“Aqui tudo é lindo, um espetáculo, um evento maravilhoso. Mas seria bom se a corrida também fosse do mesmo nível.”

Toto Wolff, chefe da Mercedes

Como acontece todos os anos, as dificuldades de ultrapassagem nas ruas estreitas de Monte Carlo foram alvo de críticas de muita gente, dando munição àqueles que defendem a exclusão do GP de Mônaco do Mundial. O contrato com a Liberty termina neste ano e está em processo de renovação.

As conversas não têm sido fáceis. O Principado não paga taxa nenhuma aos donos da F-1 — alguns países desembolsam até US$ 20 milhões só pelo direito de fazer um GP –, as placas de publicidade na pista são comercializadas pelo Automóvel Clube de Mônaco e até a geração das imagens de TV é feita localmente. Alguns termos terão de ser negociados. Mas, por enquanto, nenhuma das partes realmente envolvidas falou em tirar a corrida do calendário.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS de ver Fernando Alonso em sétimo, seu melhor resultado no ano. Ainda que tenha puxado um longo trenzinho da relargada até o final, não fez nada de ilegal e exerceu seu direito de lutar por pontos. Disse que foi fácil segurar Hamilton, que o perseguiu até o fim. O inglês não reclamou. “Em Mônaco é assim mesmo”, conformou-se.

NÃO GOSTAMOS de ver Mick Schumacher bater de novo. Ele vem abusando do direito de arrebentar os carros da Haas. Esse de ontem deu perda total. Em tempos de teto de gastos, prejudica todo o planejamento da equipe. O alemão já está saindo caro para o time.