SOBRE ONTEM DE MANHÃ

A IMAGEM DA CORRIDA

Pérez, o carro e a bandeira: vitória redentora

SÃO PAULO (só confusão) – As trapalhadas da Ferrari, que perdeu uma corrida teoricamente fácil, não podem ofuscar o brilho de Sergio Pérez em Mônaco. O mexicano mereceu a vitória por sua tenacidade e por ter conseguido, na pista, pulverizar a diferença que tinha para o líder Leclerc graças à antecipação de seu primeiro pit stop, para colocar pneus intermediários.

As paradas de Checo aconteceram nas voltas 16 e 22 — a segunda, para colocar pneus slicks. Charlinho parou na 18ª e na 21ª e fez a mesma coisa: intermediários e slicks. O tempo gasto pelo piloto da Red Bull nas duas paradas foi de 48s495. O monegasco perdeu 53s744. O atraso se deu no segundo pit stop por causa da confusão da equipe, que o chamou para os boxes com Sainz entrando na mesma hora. Quando desistiu e mandou o piloto ficar na pista, era tarde. Ele já tinha entrado. Mas não foram só esses quase cinco segundos que catapultaram Pérez à liderança. Suas primeiras voltas com intermediários foram fantásticas. Ali ele ganhou a corrida.

Depois, se manteve na frente sem cometer erros, o que é difícil em Mônaco, mais ainda numa condição de pista traiçoeira. E ganhou, uma semana depois de ser impedido de pelo menos tentar em Barcelona porque seu time priorizou Max Verstappen.

Assim, fiquemos com sua emoção aí em cima, junto do carro e da bandeira do México. E com as lágrimas e os sorrisos no pódio, que sempre se misturam nessas horas.

Vale a pena dar uma olhada no gráfico abaixo, da Pirelli, mostrando a dinâmica das paradas que acabou determinando o resultado final do GP de Mônaco. Ele traz uma curiosidade adicional: Tsunoda usou simplesmente todos os tipos de pneus disponíveis para a prova de Monte Carlo. Largou com os azuis, para chuva forte, trocou para os intermediários na sexta volta, colocou os slicks duros na 21ª, foi para os médios na 29ª (quando Mick Schumacher bateu) e ainda espetou os macios na 56ª. Não adiantou muita coisa, mas de tédio ele não pode se queixar.

No outro extremo, Valtteri Bottas usou apenas dois jogos de pneus: um para pista muita molhada e outro de slicks duros. Não trocou nem quando foi dada bandeira vermelha por causa do acidente com o piloto da Haas. Funcionou. Largou em 12º, chegou em nono. E marcou dois pontinhos valiosos.

Embora tenha colocado macios no fim, não foi de Tsunoda a melhor volta da corrida. Ela ficou com Lando Norris, da McLaren, 1min14s693, na 55ª das 64 percorridas até a bandeira quadriculada. A distância original de 78 voltas foi encurtada por causa do limite de tempo estabelecido para um evento, que agora é de três horas contadas a partir do horário previsto para a largada.

Ontem, o início do GP foi adiado duas vezes por causa da chuva, totalizando 16 minutos de atraso, e depois interrompido quando os carros já estavam atrás do safety-car prontos para uma largada em movimento. A chuva apertou e a prova só começaria 1h05 depois do horário original.

MÔNACO BY MASILI

E não foi só a chuva que molhou o rico asfalto monegasco, como notou nosso cartunista oficial Marcelo Masili. As lágrimas de Leclerc ajudaram…

Ah, Leclerc… Quanta infelicidade, rapaz! Mas, pelo menos, conseguiu terminar uma prova em casa, pequeno tabu pessoal que já vinha incomodando o piloto. Não serviu de consolo, porém. Era uma daquelas corridas para ganhar, ainda mais na chuva, sem spray na cara, podendo ditar o ritmo que quisesse sem ser ameaçado.

Leclerc, quarto colocado: ruim para quem largou na pole

Só que a Ferrari se atrapalhou. Claro que analisar os erros do time depois que tudo aconteceu é fácil. Devia ter feito isso, devia ter feito aquilo. Mas não fez. Na F-1, na maioria das vezes, é possível estabelecer estratégias e antever certas situações — como chamar um piloto para box na hora certa, simular tempos de volta em função do desgaste dos pneus e da redução do peso do carro na medida em que vai baixando o tanque, calcular onde e quando devolver um piloto à pista depois de um pit stop…

Mas quando chove, e quando a corrida é disputada numa pista como Mônaco, nem sempre a lógica aplicada no seco num circuito convencional funciona. É um retardatário que surge não se sabe de onde, é o tráfego que derruba os tempos de volta, é o piloto de outra equipe que bate e causa uma bandeira amarela, é o outro time que arrisca um movimento ousado e acaba dando certo.

Ontem, deu certo para Pérez. E não deu para os demais. Nem para Sainz, que mesmo com uma parada a menos — porque insistiu que iria dos pneus de chuva forte direto para os slicks — e tendo andado à frente do mexicano na primeira parte da corrida acabou chegando atrás dele.

Sainz persegue Pérez no final: tudo certo para o mexicano

O NÚMERO DE MONTE CARLO

7

…provas nos pontos tem George Russell, o único que terminou todas as corridas do ano na zona de pontuação. Mais impressionante ainda: todas elas entre os cinco primeiros colocados, com um carro reconhecidamente problemático como é o W13 da Mercedes. Em Mônaco, foi quinto. Com 84 pontos, é o quarto colocado no Mundial. Hamilton tem 50.

Russell: tirando leite de pedra da Mercedes

No Mundial de Construtores, a Red Bull ampliou sua vantagem sobre a Ferrari com o pódio duplo de Pérez e Verstappen. O time austríaco agora tem 235 pontos, contra 199 dos italianos. A Mercedes, aos trancos e barrancos, vai somando seus pontinhos. Já são 134. Longe dos vice-líderes, mas sem ser ameaçada por quem vem a seguir: McLaren (59), Alfa Romeo (41) e Alpine (40).

Como se sabe, ontem depois da corrida a Ferrari protestou o resultado acusando Verstappen e Pérez de terem cortado a linha de saída dos boxes após seus pit stops. Os comissários rejeitaram o protesto e explicaram. Até o ano passado, se um piloto “queimasse” a linha com qualquer parte do carro seria punido. Neste ano, o regulamento diz que é preciso ultrapassar a linha inteiramente com pelo menos um pneu para que ela seja considerada “cortada”.

Max e Checo passaram com seus pneus por cima da linha, é verdade, mas não inteiramente. O mal-entendido aconteceu porque a FIA, nos seus tradicionais lembretes distribuídos às equipes antes das corridas, deu um copy-paste no artigo sobre a saída de box usando o texto de 2021. A Ferrari se baseou nisso para reclamar. Mas lembrete é uma coisa. Outra é o regulamento em vigor, que segundo os comissários deve ser de conhecimento de todos e, obviamente, se impõe sobre os recadinhos emitidos apenas como forma de chamar atenção para algumas particularidades de cada circuito.

Tudo esclarecido, Mattia Binotto engoliu o choro e foi lamber suas feridas.

Verstappen sai dos boxes: tudo nas regras

A FRASE DE MÔNACO

“Aqui tudo é lindo, um espetáculo, um evento maravilhoso. Mas seria bom se a corrida também fosse do mesmo nível.”

Toto Wolff, chefe da Mercedes

Como acontece todos os anos, as dificuldades de ultrapassagem nas ruas estreitas de Monte Carlo foram alvo de críticas de muita gente, dando munição àqueles que defendem a exclusão do GP de Mônaco do Mundial. O contrato com a Liberty termina neste ano e está em processo de renovação.

As conversas não têm sido fáceis. O Principado não paga taxa nenhuma aos donos da F-1 — alguns países desembolsam até US$ 20 milhões só pelo direito de fazer um GP –, as placas de publicidade na pista são comercializadas pelo Automóvel Clube de Mônaco e até a geração das imagens de TV é feita localmente. Alguns termos terão de ser negociados. Mas, por enquanto, nenhuma das partes realmente envolvidas falou em tirar a corrida do calendário.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS de ver Fernando Alonso em sétimo, seu melhor resultado no ano. Ainda que tenha puxado um longo trenzinho da relargada até o final, não fez nada de ilegal e exerceu seu direito de lutar por pontos. Disse que foi fácil segurar Hamilton, que o perseguiu até o fim. O inglês não reclamou. “Em Mônaco é assim mesmo”, conformou-se.

NÃO GOSTAMOS de ver Mick Schumacher bater de novo. Ele vem abusando do direito de arrebentar os carros da Haas. Esse de ontem deu perda total. Em tempos de teto de gastos, prejudica todo o planejamento da equipe. O alemão já está saindo caro para o time.

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Paulo Costa
Paulo Costa
1 ano atrás

Uma coisa que penso que ninguém falou foi sobre a tentativa de ultrapassagem do chinês. Ele, pelo menos eu acho, foi o único que realmente tentou passar alguém.

Rodrigo
Rodrigo
Reply to  Paulo Costa
1 ano atrás

Tá esquecendo do Gasly que passou 2 carros na pista.

Jonas Nunes
Jonas Nunes
1 ano atrás

Boa tarde,

Show de texto Flavio.

Obrigado

Torcedor Tedesco
Torcedor Tedesco
1 ano atrás

O motor Ferrari decidiu se divorciar da carroceria Haas. Resta saber quem vai pagar a pensão do Schumaquinho…

Mauricio Rocha
Mauricio Rocha
1 ano atrás

A única coisa legal do fim de semana foi Perez ganhar a corrida.

GUs
GUs
1 ano atrás

Uma volta antes do Pérez parar, eu já escrevia no grupo que acompanhava a corrida, que a Ferrari estava atrasando demais a sua troca de pneus, pois tinha gente – com intermediário – que já estava andando muito bem…rsrsrs (Ferrari, me contrata!).
Claro que foi apenas uma impressão, mas enfim, né?? Aposto que milhares de pessoas sentiram o mesmo, e ninguém tá na folha da Fiat, não. O slick foi uma aposta interessante com o espanhol, mas mesmo os intermediários, com o Leclerc duas ou três voltas antes, já o colocariam numa situação bem melhor.

Ricardo Bigliazzi
Ricardo Bigliazzi
1 ano atrás

Tudo dito.

Para mim o Russell está se tornando uma versão remixada do Mika Hakkinen. Quieto, sereno, discreto e rápido pacas.

obs.: Impressionante como esses caras da F-1 erram pouco.

Tales Bonato
Tales Bonato
Reply to  Ricardo Bigliazzi
1 ano atrás

Russell já me chamava a atenção quando disputava e ganhava do ótimo Norris na F2. Depois fez chover no Saara com a sofrível Williams. Hamilton está com Alonso 2007 feelings.

Last edited 1 ano atrás by Tales Bonato
Endrigo Cenzi
Endrigo Cenzi
1 ano atrás

Essa charge do Masili foi genial!

O campeonato do Leclerc me lembra muito o do Massa em 2008. Aliás, em Mônaco 2008 o Massa fez a pole e a Ferrari fez trapalhada. Fui buscar o que você escreveu à época:

SÃO PAULO (não foram poucas) – E vamos às cagadas da Ferrari no domingão de Monte Carlo. Primeiro, a equipe atrasou a montagem dos pneus de Raikkonen no grid. Deu um “drive-through” para o finlandês. Depois, algum gênio da lâmpada olhou para o céu, garantiu que voltaria a chover e decidiu trocar a estratégia de Felipe Massa de duas para uma parada. Se chovesse, daria certo. Mas a chuva não voltou, deu errado. E na segunda parada do brasileiro, tive a impressão que demoraram pacas para colocar os pneus “secos”.

O abandono na Espanha lembrou um pouco o que aconteceu com Felipe na Hungria em 2008 também. Agora só falta trazerem o reabastecimento de volta, pra Ferrari deixar uma mangueira engatada no carro do Leclerc.

Rodrigo
Rodrigo
1 ano atrás

Flavinho, se não me engano a F1 ganha alguma coisa com a taxa que os barcos pagam para atracar em Mônaco, não? Essa é a única fonte de receita deste GP?

CHAGAS
CHAGAS
1 ano atrás

A realidade: Perez elevou seu nível e está em sua melhor forma na F1. Perez jamais será campeão do mundo de F1.
O esforço em vão: Sainz se mata pra ganhar de Leclerc, mas quando olha pra frente vê Pérez. Não deixa de ser uma derrota do espanhol.
O choro: Leclerc até agora está tentando entender a matemática da corrida. Como que de primeiro com 5 segundos de vantagem ele termina a corrida em quarto? Ferrari, Ferrari.
O VAR roubando: Ocon foi punido injustamente, o incidente com Hamilton foi de corrida e tirou 2 pontos importantes do francês que colocariam a Alpine à frente da Alfa Romeo no mundial.
Os Fatos: São corridas como essas que nos mostram como Alonso é bom e Tsunoda é sofrível.
A Alfa Romeo: Zhou que começou a temporada tão bem, agora não rende. Alpine tem dois pilotos, passou da hora do chinesinho mostrar pra que veio.
A Decepção: Difícil escolher, Ricciardo ou Schumaquinho?
Mônaco: Reclama, criticam, até querem banir a corrida. Mas Mônaco é Mônaco e a corrida que tivemos vai dar assunto para uma semana.

Marcelo
Marcelo
1 ano atrás

Concordo com o que você disse sobre o Schumacher, já é o segundo carro que ele estraga em 2022 e está deixando escapar uma baita oportunidade de mostrar serviço no bom carro que a Haas fez para esse ano. Ele, Ricciardo e Latifi, na minha opinião, são os que vão perder seus lugares para 2023.

SULIVAN
SULIVAN
1 ano atrás

Flavito, O Michael Schumacher II já é chamado pelo dono da Hass de “Meu caro Micky” de tantos prejuízos causados pelo pimpolho… Filho de peixe é peixinho mas às vezes não sabe nadar tão bem…. Schumaquinho precisa firmar o braço e se concentrar porque já não é nenhum estreante e asa duas pancadas principais dele desse ano foram cagadas individuais tomara que o garoto engrene e marque finalmente seus pontinhos.
Alonso o veterano que segurou a turma no braço, boa atuação do Espanhol, Mõnaco é uma relíquia da Fórmula Um e por isso é um evento sui generis mas relíquia não combina com essas máquinas arrojadas então a permanência do circuito do principado na F1 é uma questão que demanda muita analise.
G Russel se tiver cabeça vai longe;
E sobre a prova vamos lembrar o que Sebastian Vettel disse alguns anos atrás sobre estratégias e pneus: “Quando você acerta você é o cara, quando erra voçê é o idiota; mas só sabemos se acertaremos ou não após tentar…”
Sérgio Peres venceu merecidamente como merecidamente seria qualquer um dos ferrarista ou rbr, nenhum deles fez besteiras durante a prova e o resultado foi em decorrência de ter dado certo pra RedBull e errado pra Ferari. Só uma coisa eu não gfostei do Sérgio Peres: ele fez uma cara muito feia quando chorou no pódio RsRsRsRsRs…. jà Sainz sempre está de cara feia: é o normal dele. Max Verstappen e o Team RedBull estavam todos sorridentes pelo lucro final numa corrida em que é dificil sequer tentar qualquer coisa, já os ferraristas desapontados e desconfortaveis e avexados.
E segue o campeonato, teremos sim ótimas corridas corridas, Peres deve vencer de novo, Sainz deve sair da maré baixa e vencer pelo menos 1 corrida esse ano, penso que no México ele ou Perez vencerão, Leclerc também deve faturar uma ou outra mas o grande vencedor será Max Emilian Verstappen, o campeonato parace que já pertence ao Holandês Voador pois nem em Mônaco Leclerc levou vantagem, a realidade é essa.

Tales Bonato
Tales Bonato
1 ano atrás

Se não me engano em 2021 Mick Schumacher já levou o troféu de piloto “mais caro” do ano em função das constantes batidas de elevada monta. E nesta temporada já foram duas perdas totais. Arábia Saudita e Mônaco. Deste jeito vão precisar dobrar o teto orçamentário da Hass. O moleque herdou o talento. Da mãe, talvez.

Paulo E T Vasconcellos
Paulo E T Vasconcellos
1 ano atrás

em homenagem ao cartunista.

Pra quem conhece….

O Rua do Principado
Vai jogar agua pra fora
Quando chegar a agua
Dos olhos de alguem que chora
Quando chega a agua
Dos olhos do Charlinho que chora

e assim vai