Blog do Flavio Gomes
F-1

BAKU NA MÃO (3)

SÃO PAULO (sorry, guys) – Não aconteceu nada do que eu previ ontem nesse GP do Baku. Verstappen não partiu para cima de Pérez na largada porque Pérez, sim, partiu para cima de Leclerc e almoçou o monegasco na primeira curva para liderar a primeira parte da corrida. Depois, Charlinho quebrou. E quando Max chegou […]

Verstappen: quinta vitória no ano, uma das mais fáceis

SÃO PAULO (sorry, guys) – Não aconteceu nada do que eu previ ontem nesse GP do Baku. Verstappen não partiu para cima de Pérez na largada porque Pérez, sim, partiu para cima de Leclerc e almoçou o monegasco na primeira curva para liderar a primeira parte da corrida. Depois, Charlinho quebrou. E quando Max chegou no companheiro, tinha um carro mais rápido, pneus melhores, e o rádio avisou o mexicano: sem briga, senão vai de castigo!

E foi sem briga nenhuma que Verstappen passou o parceiro e venceu o GP do Azerbaijão, oitava etapa do campeonato. Foi sua quinta vitória no ano e 25ª na carreira. Para não esquecer de mencionar esses números básicos e resolver logo a parada das estatísticas, caixinha colorida para alegria do leitor:

Verstappen, com 25 vitórias, entrou na lista dos 11 maiores vencedores de todos os tempos. Está empatado com Niki Lauda e Jim Clark. Deixou Juan Manuel Fangio para trás nas estatísticas. Precisa de mais duas para alcançar o próximo, Jackie Stewart. A Red Bull chegou a cinco vitórias seguidas em 2022. Fez sua terceira dobradinha no ano. Desde o GP da Bélgica de 2011 a equipe não ocupava primeira e segunda posições no Mundial de Pilotos — 11 anos atrás, com Vettel e Webber. Agora, Max é o líder com 150 e Pérez vem em segundo com 129. Baku viu um sexto vencedor diferente em seis corridas disputadas em seu circuito urbano. Pronto.

Como não precisaram brigar em momento algum, Verstappen e Pérez continuam se seguindo no Instagram e não saíram de grupo nenhum no WhatsApp. Ainda que o singelo e conciso “no fighting” pelo rádio a Pérez possa ter parecido uma ordem de equipe — daquelas que poderiam deixar o mexicano aborrecido e lastimoso –, foi mais uma recomendação polida “just in case”.

De fato, Max tinha pneus melhores que os de seu parceiro naquela altura da corrida, a 15ª volta, quando assumiu a liderança para não mais perdê-la. “A degradação dos meus pneus traseiros foi maior. Ele tinha um ritmo mais forte que eu e mereceu a vitória”, disse um conformadíssimo Checo ao final do GP. Os dois se abraçaram assim que estacionaram os carros, distribuíram sorrisos e foram buscar seus troféus no pódio. Zero sinal de crise. Errei feio. Escrevi ontem que iam se bater na primeira volta e nunca mais se falariam. Teria sido mais divertido.

Contribuiu muito para a “pax redbúllica”, sem dúvida, o fiasco da Ferrari em Baku. Foram duas quebras num intervalo de 11 voltas. Sainz estacionou o carro na área de escape na nona passagem e avisou que tinha parado de funcionar tudo. Diagnóstico oferecido pela equipe: hidráulica. É problema hidráulico ou motor que aquece, como dizia aquela canção. No caso de Sainz, foi hidráulico.

Leclerc, que largou na pole nas últimas quatro corridas e não ganhou nenhuma, estava em segundo sofrendo um certo aperto de Verstappen e vendo Pérez se distanciar quando o companheiro quebrou. Aproveitou o safety-car virtual e correu para os boxes para trocar pneus. Foi esperto. Os dois carros da Red Bull ficaram na pista e perderam a chance de fazer um pit stop com todos lentos na pista. Teriam de parar depois com a corrida em ritmo normal.

Quando a prova foi retomada, Max estava cerca de 2s5 atrás de Pérez. Isso na volta 10. Charlinho voltou em terceiro, a 12s do holandês. Verstappen se aproximou rápido e tomou a liderança do parceiro cinco voltas depois como se tirasse uma fajita da boca de uma criança. Pérez parou na volta 17, um pit stop meio demorado, e voltou em terceiro. Max veio para os boxes na volta 19 e Leclerc assumiu a ponta. Mas…

Falando à imprensa após a quebra: vice-liderança perdida

…mas não deu nem tempo de comemorar a liderança — promissora, até, com 13s de vantagem para o Red Bull #1 e ambos com um pit stop cada já cumprido. Na volta 20, puf! As entranhas da Ferrari #16 expeliram uma nuvem de fumaça branca e o monegasco abandonou com o motor moído. Foi sua segunda quebra nas últimas três corridas. Em Barcelona, um problema no turbo o tirou da prova. Verstappen passou à liderança com Pérez, distante, em segundo. E a corrida, na prática, acabou.

Dois carros vermelhos fora de combate com duas dezenas de voltas. Clamoroso!, gritariam os jornais italianos amanhã, se jornais ainda houvesse no mundo. Até há, mas não são mais estrepitosos como em outros tempos. As crises da Ferrari nunca mais foram as mesmas depois do advento da internet. Agora, tem até videozinho oficial da tristeza em rede social.

Mattia Binotto, o chefe, procurou manter a calma. “Nossos carros não são completamente confiáveis”, falou, e a declaração entrou imediatamente na briga pelo título de Frase Mais Óbvia do Ano. Sainz saiu falando que essas coisas são boas para “crescimento interno” da equipe. “Machuca. Mas não vamos desistir”, escreveu Leclerc no Twitter.

Caixinha pra explicar o que significou esse abandono duplo do time de Maranello, cujos muros, amanhã, deveriam amanhecer pichados com frases como “La pace è finita!” e “Se non vinci per amore, sarà nel terrore!”:

Além de perder a vice-liderança do campeonato para Pérez, Leclerc, com 116 pontos, vê uma aproximação perigosa de Russell, que ficou em terceiro hoje e foi a 99 na tabela. Charles, na terceira etapa do campeonato, era o primeiro com 46 pontos de vantagem para Verstappen. Agora está 34 atrás do holandês. No Mundial de Construtores, a Red Bull disparou e abriu 80 da Ferrari: 279 x 199. A Mercedes, que fez também um quarto lugar em Baku com Hamilton, subiu para 161 e já começa a ameaçar os italianos. Nas últimas três provas, o time alemão fez 66 pontos, contra 42 da Ferrari.

Russell: terceiro pódio no ano

As menções a Russell na caixinha acima impõem a necessidade de se falar do piloto e da Mercedes. Terceiro e quarto para a equipe não chega a ser um mau resultado, mas esqueçam qualquer tentação de sair pelas ruas de Stuttgart gritando “ô-ô, a Mercedes voltô!”. George chegou 45s995 atrás de Verstappen. Hamilton recebeu a bandeirada 1min11s679 atrás do holandês. E levou outro minuto e alguma coisa para sair do carro assim que estacionou no Parque Fechado.

Hamilton saindo do carro: dores horríveis

“Eu estava rezando para acabar logo”, falou Lewis. Suas costas estavam em frangalhos. O efeito “porpoising”, com o carro batendo no solo enlouquecidamente, fez com que o heptacampeão descrevesse o GP do Azerbaijão como “o mais doloroso” de sua vida. Não dá para pilotar assim, resumiram, em coro, os dois pilotos da Mercedes. “É brutal ficar uma hora e meia chacoalhando dentro do carro”, disse Russell. “Vamos ter de fazer algo em relação a isso”, concordou um terceiro, Daniel Ricciardo, da McLaren. Ele também sofreu horrores na corrida.

Mercedes em terceiro (Russell, acima) e quarto: sem grandes ilusões

Russell segue sendo o único piloto a pontuar em todas as corridas do ano e continua com um ótimo retrospecto: terminou todas entre os cinco primeiros. Foi seu terceiro pódio no ano. Hamilton fez uma boa corrida com algumas ultrapassagens e muito esforço. Mas ouviu novamente, por parte da equipe, um pedido de desculpas. Desta vez, pelas dores nas costas e “pela merda de carro que fizemos”, nas palavras de Toto Wolff. “Todos os pilotos concordam que esse negócio de quicar nas retas é um problema. Menos o Alonso”, falou o chefe da Mercedes.

O espanhol da Alpine chegou em sétimo, atrás ainda de Gasly e Vettel, que vieram depois de Hamilton. Todos eles merecem aplausos pela boa participação nas ruas de Baku, especialmente o francês da AlphaTauri — que perdeu o quarto lugar no fim para Lewis depois de uma das raras batalhas do GP. Sebastian também teve seus momentos, chegou a escapar numa curva, deu cavalo-de-pau, voltou, se recuperou e fez pontos importantes para a Aston Martin. Ricciardo, Norris e Ocon fecharam a lista dos dez primeiros colocados na prova.

Vettel, sexto: combativo, bons pontos para a Aston Martin

Para Alonso, o domingo foi satisfatório e histórico. Foi sua terceira corrida seguida nos pontos, com dois sétimos lugares consecutivos. Um acerto da Alpine para seu carro andar bem nas retas, comprometendo os trechos de baixa velocidade, acabou se pagando. O asturiano registrou a maior velocidade no “speed trap” com 332 km/h e a segunda maior na reta dos boxes, 347,4 km/h.

No quesito “fazer história”, Fernandinho tornou-se o piloto mais longevo da categoria ao estabelecer o maior intervalo entre primeiro e último GPs disputados, superando marca que pertencia a Michael Schumacher: 21 anos, três meses e oito dias desde a estreia pela Minardi no dia 4 de março de 2001, na Austrália.

Lista das melhores voltas: Red Bull milhas à frente

Sergio Pérez ficou com o ponto extra da melhor volta da prova com um tempo apenas 0s004 mais rápido que o de Verstappen, que tentou amealhar a honraria no final da corrida, mas não conseguiu. Pela lista acima, nota-se que a Mercedes fez terceira e quarta melhores voltas, mas percebe-se também que não há motivos para se animar: Hamilton foi quase 1s pior que Checo e Russell, 1s131. Há um abismo de performance ainda a ser superado pelo time prateado.

A próxima etapa do campeonato acontece domingo que vem no Canadá. É uma pista que guarda algumas semelhanças com Baku — montada num parque, mezzo rua-mezzo de verdade. Tem uma reta enorme, também, onde os carros que seguem sofrendo de “quiques cronicus” — moléstia que acometeu a F-1 no início do ano e contra a qual nem todo mundo se vacinou — submeterão seus motoristas a mais uma dura prova de resistência.

Os Red Bulls já estão imunizados. Não percam dinheiro. Se tiverem de apostar em alguém para Montreal, escolham entre o #1 e o #11.