Blog do Flavio Gomes
F-1

QUEBEQUIANAS (3)

SÃO PAULO (normal) – Max Verstappen ganhou de novo. Deu um pouco de trabalho, por causa de um safety-car no fim. Mas nada que arranhasse seu favoritismo no Canadá. Foi a sexta vitória dele no ano, 26ª na carreira – deixando Clark e Lauda para trás nas estatísticas, colocando-se isoladamente como nono maior vencedor da […]

Pressão de Sainz no final: gelado, Max resistiu

SÃO PAULO (normal) – Max Verstappen ganhou de novo. Deu um pouco de trabalho, por causa de um safety-car no fim. Mas nada que arranhasse seu favoritismo no Canadá. Foi a sexta vitória dele no ano, 26ª na carreira – deixando Clark e Lauda para trás nas estatísticas, colocando-se isoladamente como nono maior vencedor da história. Carlos Sainz terminou em segundo e Lewis Hamilton completou o pódio.

Fernando Alonso, atração maior do sábado com o segundo lugar no grid, terminou apenas em sétimo. Depois da corrida ainda levou uma punição de 5 segundos por ziguezaguear numa defesa de posição e foi rebaixado para nono. De quebra, ainda teve problemas no motor a partir da volta 20 e disse que passou a perder 0s8 por volta — a bateria não estava armazenando energia direito.

Acontece.

Max: 26 vitórias na carreira, mais que Lauda e Clark

A meteorologia acertou na previsão e a chuva do sábado ficou no passado. Montreal teve um domingo de sol e céu azul, temperatura agradabilíssima de 21°C, aquele ambiente festivo do verão canadense que dura mais ou menos uns dois dias.

Os pneus médios para a largada foram a opção da maioria. Bottas, Pérez, Norris, Stroll e Leclerc, todos mais para trás no grid, escolheram os duros para adiar a parada até onde fosse possível.

A largada foi das mais civilizadas, sem toques, refregas, encontrões, provocações ou desavenças. Verstappen pulou na frente e Alonso não deu moleza para ninguém, sustentando-se em segundo. Hamilton e Magnussen chegaram a se tocar levemente, mas o inglês não estava nem um pouco disposto a perder o quarto lugar no grid obtido às custas de sangue, suor e lágrimas na véspera. Sobrou para o dinamarquês.

Alonso persegue Sainz no início: problemas no motor

No fim da terceira volta, Sainz passou por Alonso sem muita dificuldade, assumindo o segundo lugar. Max estava 3s à frente, tranquilo e solitário. O pau iria comer longe dele, com Hamilton se aproximando de Alonso para buscar uma rara – neste ano – briga pelo pódio.

Quem esperava um Leclerc no início devastador, passando todo mundo lá no fundão a partir da última fila no grid, não teve grandes motivos para se empolgar nas primeiras vltas. Na sexta, ele só havia conquistado três posições. Mas foi só um começo discreto. Depois, o monegasco passaria a escalar o pelotão com ousadia e alegria.

Vettel e Gasly, também da turma de trás, fizeram paradas precoces na volta 7 para colocar pneus duros. Magnussen, que vinha em quinto, parou na volta seguinte para trocar o bico do carro, também, avariado no ligeiro toque com Hamilton.

Hamilton, terceiro: animado com a melhora da Mercedes

Logo depois, Pérez quebrou. O câmbio deixou de engatar as marchas e o mexicano estacionou na área de escape. Com o safety-car virtual acionado na volta 9 para tirar o carro do companheiro, Verstappen parou e trocou os pneus. Hamilton fez o mesmo. Sainz e Alonso ficaram na pista e assumiram primeira e segunda colocações. Max voltou em terceiro. Hamilton, em sexto. A bandeira verde foi mostrada na volta seguinte e Lewis não perdeu muito tempo para passar Ocon e subir para quinto.

Fernandinho não conseguia acompanhar o ritmo da Ferrari de Sainz, que na volta 14 já tinha 4s6 sobre o asturiano. Verstappen, por sua vez, se aproximava do #14 da Alpine e preparava o bote. Passou fácil na volta 15 sem nenhuma necessidade de fazer cara feia para o adversário. Alonso não dificultou, mais preocupado em fazer sua corridinha para buscar um troféu no final da tarde, tarefa que seria abirtada quando o ERS, que acumula energia na bateria, começou a falhar.

Sainz: pressionou no fim, mas não deu

Leclerc foi entrar na zona de pontos pela primeira vez na volta 20, quando Mick Schumacher abandonou e o safety-car virtual foi acionado de novo. Russell, que estava em quarto, correu para os boxes e voltou em quinto. Outros carros pararam e Charlinho subiu para oitavo com os pit stops. Sainz entrou na volta seguinte, a bandeira verde liberou a retomada da prova e o ferrarista voltou em terceiro, atrás de Verstappen e Alonso – entre os ponteiros, o único que não tinha feito nenhum pit stop. Hamilton, Russell e Ocon vinham atrás deles.

Com pneus já bem gastos e carro falhando, El Fodón não resistiu muito tempo e foi ultrapassado por Sainz na volta 22. Hamilton fez o mesmo na 23, deixando o espanhol em quarto. Lá na ponta, Max voltava a desfilar sem incomodar vizinhos com o barulho de seu carro – o mais próximo estava a 9s de distância, a Ferrari #55.

Alonso acabou parando na volta 29. Caiu de quarto para sétimo, pagando o preço pelo pit stop tardio e pelo carro defeituoso. Mas com pneus novos tentou uma aproximação para cima de Leclerc, empacado atrás de Ocon. Charlinho sofria com uma borracha já desgastada contra pneus mais novos do francês. “Não consigo passar”, lamentava o ferrarista pelo rádio.

Sainz e Verstappen no papo pós-corrida: nova vitória do holandês

Na metade da corrida, Leclerc, Bottas e Stroll, que largaram de pneus duros, eram os únicos que ainda não tinham visitado os boxes. Lá na frente Max reclamou da perda de aderência de seus pneus e Sainz começou a descontar segundos valiosos em relação ao holandês. Os 9s de algumas voltas antes caíram para 7s5. Nada muito assustador, mas preocupante. A Red Bull passou a considerar uma segunda parada, algo que também não estava totalmente fora do radar da Ferrari, embora os pneus de Sainz fossem 11 voltas mais novos que os do líder do campeonato.

Leclerc finalmente parou na volta 42. A parada foi lenta e ele caiu para 12º no fim de uma fila que tinha, pela ordem, Stroll, Zhou, Tsunoda e Ricciardo. Mas, com pneus médios novos, voltou a remar vigorosamente para recuperar as posições perdidas.

Na volta seguinte, a Red Bull chamou Verstappen. Colocou pneus duros em seu carro e o holandês voltou em terceiro, colado em Hamilton. Sainz assumiu a ponta, mais de 11s à frente. Max passou Lewis sem dificuldade e o inglês também foi para os boxes para fazer seu segundo pit stop. Voltou em quarto. Russell parou em seguida e Lewis retomou sua posição de pódio.

Segundo pódio de Hamilton no ano: “Estamos chegando”, disse

Max, com pneus novos, começou a pulverizar a diferença que o separava de Sainz. Na volta 47, o cronômetro apontava uma distância de 8s7. Na 49, 7s7. Foi quando Tsunoda bateu pateticamente, na saída dos boxes. O safety-car foi chamado e Sainz parou para ter pneus novos na parte final da prova. Colocou duros. A Ferrari disse que não tinha médios novos para usar. Poderia ter arriscado os macios, mas não o fez. Max assumiu a ponta e mais gente aproveitou o momento para novas paradas.

A condição de pneus de Verstappen e Sainz era semelhante – os do rubro-taurino, seis voltas mais velhos; o que no caso dos compostos duros não faz tanta diferença assim. Max, Sainz, Hamilton e Russell, todos com esses pneus, eram os quatro primeiros colocados. Ocon, Alonso, Leclerc e Bottas vinham atrás, todos de médios.

A relargada aconteceu no final da volta 54. Não houve hostilidades. Mas quando a asa móvel foi liberada, com distâncias ínfimas entre quase todos os carros, foi um festival de ultrapassagens. Zhou passou Vettel. Leclerc atropelou Alonso e calibrou a mira para o alvo seguinte, Ocon, que também foi superado pela Ferrari #16. Sainz partiu para cima de Max com decisão. Valia vitória. O holandês tinha de se defender sem abrir asa, porque era o único sem ninguém na frente.

Com sua proverbial frieza, Verstappen se manteve à frente até a bandeira quadriculada, mesmo sofrendo uma pressão insana do espanhol – a diferença entre eles, da relargada até o final, nunca chegou a 1s. Foram 16 voltas assim, com três trechos de asa móvel para Sainz tentar alguma coisa. Não passou. Max mostrou por que é campeão mundial. E por que será de novo, neste ano.

Verstappen, Sainz, Hamilton, Russell, Leclerc, Ocon, Bottas, Zhou, Alonso (já com a punição) e Stroll fecharam a zona de pontos. Palmas para a Alpine e para a Alfa Romeo com suas duplas nos pontos – embora para os franceses tenha tido um gostinho amargo, sem que o segundo lugar de Alonso no grid fosse convertido em algo mais marcante.

Max foi a 175 pontos no Mundial. O vice-líder segue sendo Pérez, com 129. Leclerc foi a 126. Daqui a duas semanas, Silverstone. A primeira de uma série de sete provas seguidas em autódromos de verdade. Depois tem uma de rua, em Singapura, e o resto em pistas permanentes. A fatura está liquidada.