Blog do Flavio Gomes
F-1

PÔ, RICARD! (3)

SÃO PAULO (já era) – Max Verstappen venceu o GP da França sem muita dificuldade em Paul Ricard. A maior ajuda que o holandês recebeu foi de seu principal adversário no Mundial: Charles Leclerc. Líder da corrida desde o início, o monegasco bateu sozinho na 18ª volta e abandonou. Assumiu o erro e foi dormir […]

Verstappen leva a sétima no ano: título na mão

SÃO PAULO (já era) – Max Verstappen venceu o GP da França sem muita dificuldade em Paul Ricard. A maior ajuda que o holandês recebeu foi de seu principal adversário no Mundial: Charles Leclerc. Líder da corrida desde o início, o monegasco bateu sozinho na 18ª volta e abandonou. Assumiu o erro e foi dormir 63 pontos atrás de Max na classificação. Não se perdoou: “Se eu continuar a cometer erros assim, não mereço ser campeão”. O holandês da Red Bull venceu pela sétima vez no ano, 27ª na carreira. Ao lado de Jackie Stewart, colocou-se na oitava posição entre os maiores vencedores da história.

Não foi um GP excepcional, principalmente porque Charlinho saiu da briga muito cedo. Não deu tempo de saber se a estratégia da Red Bull funcionaria, fosse nas paradas para troca de pneus, fosse no acerto do carro, muito veloz nas retas e um pouco menos nas curvas. No fim das contas, serviu para Verstappen dar um enorme passo rumo ao bicampeonato. A equipe voltou a vencer depois de duas derrotas para a Ferrari, na Inglaterra e na Áustria. Está disparada na frente tanto no Mundial de Pilotos quanto no de Construtores.

Lewis Hamilton e George Russell fecharam o pódio, no mais alvissareiro domingo da Mercedes no ano, com duas taças para a estante. O heptacampeão mundial conseguiu, da mesma forma, seu melhor resultado na temporada.

E vamos à corrida.

Bottas, Gasly e Sainz foram os três que optaram pelos pneus duros na largada, sob um calorão de 31,5°C, com 51° no asfalto, cenário muito semelhante, em termos climáticos, aos de sexta e sábado. Os demais foram de médios.

Leclerc saltou bem quando as luzes vermelhas desapareceram do semáforo, numa largada limpa e sem incidentes. Verstappen foi junto e segurou a segunda colocação. Hamilton passou Pérez e pulou para terceiro. Alonso, grande largador, saiu de sétimo para quinto. Magnussen, lá do fundão, ganhou nada menos do que oito posições e na segunda volta estava em 12º. Stroll, de 15º para décimo, também merece uma citação elogiosa.

Com exceção de uma rodada de Tsunoda, nada de mais sério aconteceu nos primeiros metros do GP francês. Mas teve consequências, claro: Ocon, considerado culpado, levou 5s de punição; Yuki, coitado, caiu para último.

Início de prova na França: os dois primeiros sumiram

Muito rapidamente Leclerc e Verstappen se descolaram do resto do pelotão, fazendo uma corrida à parte. Na quinta volta, a diferença de ambos para Hamilton, em terceiro, já esbarrava nos 5s. Pérez, colado no inglês, fustigava o Mercedão #44.

O carro de Max era claramente veloz nas retas, mais ainda com a possibilidade de abrir a asa móvel. A primeira ameaça de ultrapassagem aconteceu na sexta volta. “Olha eu aqui!”, dizia Verstappen no retrovisor de Charlinho. E começou a desferir uma série de jabs no monegasco, se me permitem a comparação da corrida a uma luta de boxe. Nenhum, no entanto, muito eloquente.

Convinha olhar também para a outra Ferrari, a de Sainz, que largara em penúltimo e na volta 8 aparecia em 13º. Com os pneus mais duráveis, teria a chance de se colocar nos pontos quando começassem os pit stops.

Mas voltemos à ponta.

Hamilton: o tempo todo na zona de pódio

Com 9 voltas, Hamilton já respirava em relação a Pérez, abrindo quase 2s de vantagem sobre o mexicano. Uma parada isolada aconteceu: Magnussen, trocando seus pneus médios por duros. Max seguia perseguindo Leclerc, sempre com menos de 1s separando os dois, asa abrindo e fechando, o piloto do carro vermelho se mantendo à frente sob a constante intimidação do holandês.

Mas os ataques não aconteciam da forma como desejariam os fãs mais sanguinários. A Red Bull dava a impressão de que deixaria para tentar a ultrapassagem na troca de pneus, deixando para a Ferrari a prerrogativa de escolher quando parar. Foi um momento da prova em que não havia brigas, mas perspectivas de: de Russell com Pérez, por exemplo; de Max com Leclerc, em algum momento; de Sainz pelos pontos, zona na qual entrou na volta 13 ao ultrapassar Stroll. A corrida acalmou.

Mas foi por pouco tempo. Os pneus começaram a dar sinais de esgarçamento por conta da temperatura e do tempo de vida de cada um. Verstappen desgrudou um pouco da Ferrari para poupar os seus. Era preciso ter paciência para preparar o bote. A janela de pit stops se aproximava.

E foi Verstappen o primeiro a parar, na volta 17. Colocou pneus duros e voltou em sétimo, atrás de Norris. A troca foi rápida, 2s4. Sem perder muito tempo, Max passou pela McLaren e viu pista limpa à frente para começar a descontar a diferença virtual para Leclerc. “Acelera!”, disse a Red Bull pelo rádio. Mas nem precisou.

Na volta 18, Charlinho bateu. Sozinho. Charles, Charles… Hamilton, líder por alguns segundos, correu para os boxes. Pérez e Russell, também. Alonso, idem. O safety-car entrou na pista. Líder? Verstappen, já de pit stop feito, lindo, perfumoso e de borracha nova, sem ter mais motivo algum para se preocupar.

A batida do monegasco foi, digamos, agônica. Pelo rádio, o time perguntou se ele estava OK. O piloto falou algo sobre o acelerador. E deu um berro gutural. Depois, tudo que se ouviu foi sua respiração ofegante. Explicações, mais tarde. E quando vieram, foram singelas: “A primeira impressão é que foi erro meu, mesmo. Perdi a traseira. Sei lá”.

A menção ao acelerador remeteu ao problema que Leclerc teve na Áustria, no final da corrida — o pedal travava. Mas a equipe explicou depois. Quando a mensagem de rádio foi ao ar, ele tinha engatado a marcha-à-ré e percebeu que o acelerador não respondia. “Foi uma questão técnica, um sistema de segurança, um negócio meio complexo de explicar. Não teve nada a ver com o acelerador. Foi um genuíno erro do piloto. Acontece”, explicou Mattia Binotto, chefe ferrarista, enquanto o piloto se autoimolava pelos microfones.

Alonso terminou em sexto: sete provas seguidas nos pontos

A relargada aconteceu na volta 21 com Verstappen, Hamilton, Pérez, Russell, Alonso e Sainz nas seis primeiras posições. O espanhol da Ferrari tinha uma situação interessante, já com pneus médios novos contra duros de todos os outros. Enquanto o pau comia lá dentro, Leclerc voltava aos boxes de carona sem tirar chinfra numa lambreta. Adentrou a área de box com o macacão arriado, mas ainda de capacete, escondendo a frustração no rosto.

Sem ser incomodado por Hamilton, que não tinha carro para isso, Max foi embora. Na mesma hora, Sainz, em quinto, foi avisado de que seria punido com 5s porque, em seu pit stop, os mecânicos o liberaram após a troca de forma perigosa – quase bateu em Albon, que vinha entrando nos boxes.

Assim, na metade da corrida tudo parecia definido em favor da Red Bull e do campeão mundial. Sua maior preocupação dali em diante seria administrar bem a borracha e, se possível, garantir o pontinho extra da melhor volta da prova.

Na volta 30, Sainz assumiu a quarta posição em cima de Russell. Era o que restava de esperança para a Ferrari fazer algo num domingo trágico em termos de luta pelo título – possibilidade distante que se tornou remota. E o duelo Ferrari x Red Bull, de verdade, só foi acontecer na volta 37, e com os segundos pilotos das duas equipes. Carlos, depois de muito remar, chegou em Pérez e foi em busca do terceiro lugar. “Não consigo passar”, resmungou pelo rádio. A equipe devolveu: “OK, então vamos para o plano D”. Não se sabe qual era esse plano, mas o fato é que na volta 41 Carlos atacou o mexicano, tentou duas vezes, e na segunda passou. Logo depois, parou, pagou a punição, colocou pneus médios novos e voltou em nono.

Russell, que acompanhava o embate de perto, se animou e foi para cima de Pérez, também. Levou um chega-pra-lá de Checo, que foi para fora da pista, voltou na frente e deixou no ar a possibilidade de punição. Jorginho ficou irado, fez toda uma peroração radiofônica sobre ética, esportividade, o papel dos espanhóis na colonização do México, Emiliano Zapata e o sargento Garcia. E voltou à carga sobre o mariachi rubro-taurino quando Toto Wolff entrou no rádio e lhe deu uma dura. A direção de prova achou que foi tudo normal e não aplicou penalidade nenhuma a Pérez. Segue o jogo, diria Milton Leite.

Com borracha novinha, Sainz foi à luta. Passou Ricciardo, Ocon, Norris e Alonso sem dificuldades, escalando o pelotão até o quinto lugar. De quebra, roubou o ponto extra da melhor volta de Verstappen. Russell seguia em sua cruzada sobre Pérez como se buscasse o último prato de guacamole do planeta.

Houve um sustinho para Verstappen a três voltas do final, quando Zhou quebrou. Um safety-car, ali, poderia mudar o destino do GP da França. Mas, corretamente, apenas o safety-car virtual foi acionado para que a Alfa do chinês fosse retirada da pista. Tudo muito rápido, bandeira verde na volta seguinte, tchau e bênção. No caso, tchau para o dorminhoco Pérez e bênção para o esperto Russell, que deu um bote digno de Juma Marruá e passou o mexicano. Dois carros da Mercedes no pódio. Toto foi à loucura.

Max no pódio: 27 vitórias na carreira, como Stewart

Depois da prova, Pérez explicou que houve duas mensagens de fim de safety-car virtual, o que a FIA confirmou, por um pequeno erro técnico. Ele achou que seria na curva 9. Foi na 12. Se atrapalhou. “Dormiu. Deve ter tomado muita tequila ontem à noite”, rosnou, com sua conhecida elegância, Helmut Marko, guru da Red Bull.

Verstappen recebeu a quadriculada com mais de 10s de vantagem sobre Hamilton, o segundo – o inglês, em seu 300º GP, subiu ao pódio pela quarta vez seguida, quinta no ano. Na salinha pré-pódio, desabou no chão. “Estou morto!”, falou. Tinha ficado sem água durante a corrida. Jorginho foi o terceiro, seguido por Pérez, Sainz, Alonso, Norris, Ocon, Ricciardo e Stroll na zona de pontos.

Com os 63 pontos que abriu sobre Leclerc na classificação, Max foi para casa com as duas mãos na taça, ainda que faltem dez corridas até o fim da temporada. É que a Ferrari tem ajudado. E quando não é a equipe que faz besteira, é o piloto.

Hoje à noite, a partir das 19h, falaremos disso tudo no “Fórmula Gomes”, lá naquela plataforma de vídeos chamada VocêTubo.