Blog do Flavio Gomes
F-1

AS REGRAS, AS REGRAS

SÃO PAULO (explicando) – Finalmente o Conselho Mundial da FIA se reuniu para aprovar as regras de motores para 2026. Porsche e Audi só estavam esperando isso para anunciar sua entrada na F-1. Deve acontecer nos próximos dias. A primeira conversa com a Red Bull — pretende comprar metade do time — e a segunda […]

SÃO PAULO (explicando) – Finalmente o Conselho Mundial da FIA se reuniu para aprovar as regras de motores para 2026. Porsche e Audi só estavam esperando isso para anunciar sua entrada na F-1. Deve acontecer nos próximos dias. A primeira conversa com a Red Bull — pretende comprar metade do time — e a segunda assunta com a Sauber para assumir a estrutura que, hoje, opera com o nome Alfa Romeo.

A íntegra do comunicado da entidade está aqui (assim como algumas coisinhas para 2022 e 2023) e o regulamento de motores, com suas especifidades, aqui. Mas vou resumir, é para isso que serve este blog, não? Então vamos lá:

2022 – JÁ COMEÇA NA BÉLGICA!

Já a partir do GP da Bélgica a FIA vai medir as oscilações verticais dos carros — o efeito “porpoising” que faz os carros pularem nas retas e curvas de alta velocidade pela interrupção dos fluxos de ar sob o assoalho. A entidade já avisou que acha os carros saltitantes perigosos e não vai mais tolerar que continuem assim, embora admitindo que nas últimas provas o efeito foi menos percebido. Desde o GP do Canadá o efeito vem sendo medido para o estabelecimento de parâmetros aceitáveis. As equipes já sabem quais são esses parâmetros. Carros que não respeitarem os limites estabelecidos serão desclassificados por não oferecer segurança aos pilotos.

Também a partir da corrida de Spa os assoalhos flexíveis estão proibidos. A FIA vai medir a rigidez das peças. Red Bull e Ferrari vinham sendo “acusadas” de abusar da flexibilidade dos assoalhos para ganhar eficiência aerodinâmica.

2023 – LEVANTEM OS CARROS!

A altura mínima do assoalho dos carros em relação ao solo sobe 15 mm. O difusor traseiro também será colocado em posição mais elevada. As bordas do difusor serão mais rígidas. Sensores adicionais serão instalados para monitorar “porpoising”.

Ainda no quesito segurança, mudanças serão feitas nos santantônios. A FIA analisou o acidente de Guanyu Zhou em Silverstone e concluiu que seu formato pontiagudo levou à quebra da estrutura quando o carro bateu de ponta-cabeça no asfalto. Não houve irregularidade na peça, mas ela não atuou como deveria. Por isso, os santantônios serão mais curvos no ano que vem, reforçados e submetidos a testes de resistência mais rigorosos e específicos.

2026 – MOTORES & COMBUSTÍVEIS

O mais importante desse novo regulamento de motores que vale a partir de 2026 é o combustível. A F-1 vai adotar combustíveis sustentáveis, que não sejam produzidos a partir de componentes fósseis. Devem ser necessariamente renováveis e podem ser produzidos a partir de qualquer coisa — derivados biológicos não-alimentares, lixo, bagaço de tangerina, caroço de azeitona, ou sintéticos produzidos a partir de processos físico-químicos, ou extraplanetários, se for o caso. Não importa. A ideia é que a categoria seja emissora zero de carbono até 2030.

Hoje um motor de F-1 queima cerca de 100 kg de combustível numa corrida. Passará a consumir algo entre 70 kg e 80 kg, e o fluxo será limitado pela energia produzida, e não pela massa ou volume. Os motores seguem sendo V6 turbo com 1.600 cc de cilindrada. Mas um dos motores elétricos usados hoje para aumentar a potência, o MGU-H, será banido. Este acumula energia a partir dos gases do sistema de turbocompressor. Segue existindo o MGU-K, que recupera energia desperdiçada nas frenagens. Genericamente, o sistema passa a se chamar apenas ERS — Energy Recovery System.

Atualmente, os motores elétricos são responsáveis por 16% da potência de quase 1.000 HP dos carros. Em 2026 a eletricidade passará a responder por 50%. A outra metade fica a cargo do motor a combustão alimentado pelo novo combustível sustentável que ninguém sabe exatamente qual será, ainda. A FIA espera que as novas regras estimulem as petroleiras envolvidas com a F-1 a acelerar o desenvolvimento das novas gasolinas que não poderão mais ser feitas a partir de petróleo.

A parte de baixo dos motores não deve sofrer muitas alterações, mas a ideia é deixar os engenheiros mais livres para trabalhar na parte de cima — cabeçote e câmaras de combustão — justamente por conta dos novos combustíveis. O uso de materiais exóticos será limitado para reduzir custos. Alguns componentes e sistemas periféricos serão padronizados. Cada piloto poderá usar três motores e dois ERS por temporada. No primeiro ano, a FIA vai permitir uma unidade a mais de cada.

Os fabricantes terão uma quantidade definida de horas para trabalhar em banco de provas e dinamômetros a partir deste ano. Também terão de respeitar um teto de gastos anual estabelecido em US$ 95 milhões até 2025 e de US$ 130 milhões a partir de 2026.

De acordo com a FIA, as novas regras se apoiam no que a entidade chamou de quatro pilares: 1) Manter o nível do espetáculo, com carros tão velozes e potentes quanto hoje; 2) Sustentabilidade ambiental, com o uso dos novos combustíveis e o aumento da proporção elétrica na potência total dos motores; 3) Sustentabilidade financeira, com as regras rígidas de desenvolvimento dos novos motores; 4) Atrair novas montadoras para a F-1.

Ficou alguma dúvida? Se sim, mandem e-mail para sac@fia.com. Porque agora vou jantar.