Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE DOMINGO À TARDE

A IMAGEM DA CORRIDA SÃO PAULO (tristeza imensa por Isabel) – Ô ano que não acaba… Bom, temos de seguir em frente. GP de São Paulo, do Brasil, como queiram. Mas como foi rebatizada, a corrida, uso de minha prerrogativa de abrir mão do verde e do amarelo para colorir este rescaldão quase secreto, que […]

A IMAGEM DA CORRIDA

Refrega entre Verstappen e Hamilton: clássica (foto Rodrigo Berton)

SÃO PAULO (tristeza imensa por Isabel) – Ô ano que não acaba…

Bom, temos de seguir em frente. GP de São Paulo, do Brasil, como queiram. Mas como foi rebatizada, a corrida, uso de minha prerrogativa de abrir mão do verde e do amarelo para colorir este rescaldão quase secreto, que o ranço só aumenta.

A imagem da prova, claro, poderia der qualquer uma de Russell. Foi sua primeira vitória. É inesquecível. Adiante deixaremos algumas aqui, para a posteridade.

Mas ficarei com o clique de Rodrigo Berton, do Grande Prêmio, que pegou a sequência do esfrega-esfrega entre Verstappen e Hamilton no começo da prova. “Eu perdi cinco segundos, ele perdeu a corrida”, falou Max, que confessou: “Vi que ele não ia deixar espaço e que a gente ia bater, e deixei bater mesmo.”

Eu faria o mesmo. Na hora, achei que Lewis foi o culpado. Continuo achando. Fato é que quando Verstappen disputa posição com Hamilton, qualquer posição, seu comportamento na pista é, digamos, peculiar. Bem diferente de outras disputas com outros pilotos. E o mesmo pode-se dizer de Lewis: ele é um contra qualquer um, e outro contra Max.

Faz parte. Rivais se reconhecem e são mais duros que a média quando o embate é inevitável.

A FRASE DE INTERLAGOS

“Ele mostrou quem realmente é. Tem de lembrar que se se é bicampeão, deve isso a mim.”

Sergio Pérez
Pérez irritado: queria posição, Max não devolveu

A treta entre Pérez e Verstappen no fim da corrida pode ser explicada rapidamente assim: a Red Bull pediu que Max deixasse o mexicano passar para somar mais uns pontinhos na luta pelo vice-campeonato, o holandês não deixou, a equipe perguntou o que tinha acontecido, ele disse que já tinham discutido o assunto e que não queria mais que lhe pedissem para fazer aquilo, e que tinha suas razões e iria sustentá-las, ao que Pérez disse a frase acima, magoado e exagerado.

Agora, o que se chama de contexto…

Aparentemente tudo começou no dia 28 de maio deste ano, foto acima à esquerda. Faltava pouco para terminar o Q3 em Mônaco e Pérez, que estava na frente de Verstappen, bateu bisonhamente na entrada do túnel. Uma batida tão besta que Sainz, que vinha atrás, não conseguiu evitar o carro do mexicano ali atravessado. Max vinha numa volta boa, talvez para a pole, certamente bateria o mexicano. A sessão foi interrompida e ele não teve tempo de tentar superar o companheiro.

Desde então há suspeitas de que Pérez tenha batido de propósito, para garantir que largaria à frente de Verstappen, o que em Mônaco, é essencial — e ele, efetivamente, ganhou a corrida, embora na primeira fila estivessem os dois pilotos da Ferrari. Verstappen insinuou a desconfiança naquele dia mesmo pelo rádio. A imprensa holandesa, depois do GP de Interlagos, publicou informações, sem citar fontes, dando conta de que Pérez teria admitido a sacanagem para alguém no time.

Acho difícil, porque uma equipe sabe, apenas olhando dados de telemetria, se um piloto faz uma coisa dessas de propósito. E quem faz isso não merece respeito. E três dias depois, a Red Bull anunciou a extensão do contrato de Pérez até o fim de 2024. Faria isso se tivesse provas de que o cara é desonesto, antiético, um escroto? Duvido.

Mas que a desconfiança persiste, persiste. A Red Bull garante que conversou com ambos assim que terminou a prova e que Max vai ajudar Checo em Abu Dhabi, se precisar. Isso ainda vai dar pano pra manga, como se diz, e arrisco: nesse clima de animosidade, Pérez não chega ao fim de seu contrato.

O NÚMERO DE SÃO PAULO

235.617

…ingressos foram vendidos para o GP de São Paulo, 29,9% a mais que no ano passado. O público total é para os três dias do evento, e os organizadores da corrida esperam chegar a 300 mil em 2024.

Russell vence pela primeira vez em GP com recorde de público: sucesso em Interlagos

A organização do GP divulgou mais alguns dados interessantes sobre a corrida, que seguem abaixo:

FAIXA ETÁRIA – O público aumentou entre os jovens e caiu entre as pessoas mais velhas. Foram 21,3% de torcedores entre 18 e 24 anos e 22,8% entre 25 e 29 anos, taxas ligeiramente mais altas que em 2021. Caíram os espectadores entre 30 e 39 anos (28,3%), 40 e 59 anos (8,3%) e mais de 60 (4,1%).

DE ONDE VIERAM – 70,2% dos que estiveram no autódromo vivem fora da capital. Destes, 45,5% vieram de outros estados e 4,6%, de fora do país. Houve um importante aumento no público feminino, de 75,8% em relação ao ano passado: as mulheres representaram 36,4% do público total em Interlagos.

GRANA – De acordo com os organizadores e a Prefeitura de São Paulo, o impacto financeiro da corrida para a cidade foi de R$ 1,37 bilhão, sendo R$ 826,2 milhões de dinheiro que circulou efetivamente e R$ 545 milhões de impacto que se chama de indireto (valoração da imagem da cidade pelas transmissões de TV no mundo inteiro, assim como em mídia impressa e eletrônica). São Paulo arrecadou R$ 206,4 milhões em impostos, 15 mil empregos foram gerados (hotéis, restaurantes, bares, ambulantes, motoristas, garçons, cozinheiros etc.) e 13.708 pessoas trabalharam no evento. Os números são da Fundação Getúlio Vargas.

AUDIÊNCIA – Na Bandeirantes, a corrida teve 5.8 pontos de audiência média e 6.8 de pico, ficando na vice-liderança no horário.

Acima, alguns momentos para Russell guardar no coração. Foi a primeira dobradinha inglesa na F-1 desde o GP do Canadá de 2010, que teve Hamilton em primeiro e Button em segundo, ambos da McLaren. E foi a primeira vez, também, que o hino britânico foi executado com “king” em vez de “queen” na F-1 — a rainha Elizabeth, que morreu em setembro, assumiu o trono em 1952. E segue a escrita: desde 1953, quando Mike Hawthorn venceu o GP da França, nenhuma temporada tinha sido completada sem que ao menos um piloto ou equipe do Reino Unido vencesse um GP. A de 2022 corria o risco. Essa história completa está aqui.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS da atuação de Fernando Alonso, de 17º no grid para quinto no final. Foi uma de suas melhores corridas no ano. E com Ocon em oitavo, a Alpine fez 14 pontos em Interlagos, contra apenas dois da McLaren. Assim, os franceses praticamente garantiram o quarto lugar entre as equipes, abrindo 167 x 148 sobre o time papaia. Na briga pelo sexto, gostamos também da boa prova de Bottas, que adotou um bigodão, como ele disse, de ator pornô. Ficou em nono, a Alfa foi a 55 pontos, contra 50 da Aston Martin.

NÃO GOSTAMOS do desempenho pífio, mais um, da McLaren. Os dois pontinhos do fim de semana vieram da Sprint, sábado. Na corrida, zero. É meio repetitivo, mas o fim de Ricciardo tem sido, mesmo, melancólico. Ele bateu em Magnussen na primeira volta, estragando a corrida do dinamarquês e a sua própria. O abandono de Norris ainda não foi explicado. Se foi, não vi ainda.