Blog do Flavio Gomes
F-1

PARQUE DO BETO (2)

SÃO PAULO (bom sono) – No fim, deu a lógica de novo. Max Verstappen larga na pole para o GP da Austrália, terceira etapa do Mundial de F-1. Mas teve de suar um pouco. O holandês, que lidera o campeonato, só acertou uma volta digna de seu talento na última tentativa no Q3. Então, correu […]

Verstappen absoluto: acertou uma volta e foi o bastante

SÃO PAULO (bom sono) – No fim, deu a lógica de novo. Max Verstappen larga na pole para o GP da Austrália, terceira etapa do Mundial de F-1. Mas teve de suar um pouco. O holandês, que lidera o campeonato, só acertou uma volta digna de seu talento na última tentativa no Q3. Então, correu para o abraço. A festa na Red Bull só não foi completa porque Sergio Pérez, em contraste absoluto com o companheiro de equipe, larga em último. Se você quer saber os motivos, mergulhe no relato a seguir. Aqui não tem spoiler.

Vamos, pois, a um resumão da tarde de sábado em Melbourne, alta madrugada para os mortais aqui no Brasil varonil.

Russell no início do treino: ameaça de chuva

Se o último treino livre, liderado por Verstappen (1min17s565) com Alonso em segundo, só teve chuva nos últimos cinco minutos, a classificação começou sob ameaça de água a qualquer momento, com temperatura de apenas 14°C e asfalto úmido em alguns pontos. Nada muito assustador, porém. Todos saíram dos boxes para suas primeiras voltas com pneus macios para pista seca. O risco estava apenas nas zebras molhadas aqui e ali. Traiçoeiras e escorregadias. Todo cuidado era pouco.

As atenções estavam voltadas para a dupla da Red Bull, claro. Especialmente para Pérez, que no terceiro treino livre saiu da pista umas 200 vezes. Tinha algum problema crônico no carro – ele não é tão ruim, evidente.

E não é que logo em sua primeira tentativa de volta rápida, Checo escapou na curva 3 e atolou na brita? A sessão foi interrompida faltando 11min44s para o fim do Q1, com bandeira vermelha. “Precisamos resolver esse negócio”, reclamou o mexicano pelo rádio. “É a mesma merda que aconteceu no outro treino!” Parecia algo nos freios. A roda dianteira direita travava o tempo inteiro. Uma desgraça para quem está no volante.

A remoção do #11 foi rápida. Àquela altura, a única certeza no Albert Park era a de que Pérez largaria em último. Verstappen foi o primeiro a sair dos boxes quando a luz verde se acendeu, autorizando o reinício da sessão. Fez 1min18s063, um tempo apenas razoável, sem arriscar muito — um pouco ressabiado, também, com o problema no carro do companheiro. Além do mais, a pista ainda estava um pouco tinhosa.

Alonso entrou na casa de 1min17s logo depois e Max, mais confiante, devolveu de bate-pronto, baixando seu tempo para 1min17s469 — até ali a melhor do fim de semana. Foi 0s363 mais rápido que o espanhol da Aston Martin. Depois, melhorou mais um pouco e fez 1min17s384. Russell fechou o Q1 em segundo, com Hamilton em terceiro e Ocon em quarto – surpresinhas. Foram eliminados Piastri, Zhou, Sargeant, Bottas e o desafortunado Pérez. Muito mal a Alfa Romeo, nem precisa dizer. O mesmo vale para os estreantes da McLaren e da Williams. Seus companheiros, Norris e Albon, avançaram sem maiores dramas.

O medo da chuva foi embora junto com a própria, que acabou não dando as caras. E o Q2 aconteceu já com a pista sequinha e um pouco mais emborrachada. Com temperatura ambiente baixa, os pilotos conseguiam dar algumas voltas em sequência para aquecer a borracha e melhorar seus tempos sem ter de trocar os pneus, já que o desgaste no asfalto de Melbourne é baixíssimo. Foi assim que Verstappen cravou 1min17s219 e, na sequência, 1min17s056. Alonso terminou em segundo, seguido por Sainz e Leclerc – para quem não lembrava que a Ferrari existia, ali estavam os carros vermelhos. Hülkenberg, atrás deles, surpreendeu com a Haas. Albon, em décimo, idem. Riscados no Q2: Ocon, Tsunoda, Norris, Magnussen e De Vries. Para o piloto da Alpine, foi ruim ver o parceiro Gasly passando em oitavo. Para o veterano da Haas, pior ainda engolir o incrível Hulk em quinto.

Hamilton, terceiro: Mercedes surpreendeu do começo ao fim

A primeira volta rápida de Verstappen, favoritíssimo à pole, não foi lá grande coisa: 1min17s578 – mais de meio segundo pior que seu tempo no Q2. Errou na última curva, permitindo que Alonso, Sainz, Leclerc, Hamilton e Russell o superassem em suas primeiras tentativas. A resposta veio imediatamente: 1min17s262, superando Lewis por 0s009 e pulando para a primeira posição. Ainda não era aquela volta matadora – já tinha feito coisa melhor minutos antes. Nada estava garantido.

Todos foram para os boxes, colocaram pneus novos e partiram para as voltas derradeiras. E, então, Max acertou tudo. Voando, cravou 1min16s732, a volta que vinha perseguindo o sábado inteiro. Foi sua primeira pole na Austrália, 22ª na carreira. Atrás dele, sorrindo de orelha a orelha, ficou Russell, a 0s236 do holandês. Hamilton terminou em terceiro. Depois vieram Alonso, Sainz, Stroll, Leclerc, Albon, Gasly e Hülkenberg.

O herói do dia, sem dúvida, foi o menino Albon, que corre com bandeira tailandesa – embora tenha nascido na Inglaterra – pela hoje pequenina Williams. Mas tinha mais gente plena de alegria no paddock. Um deles chamou a atenção: Hamilton. “Estou muito feliz, é um resultado inesperado para a gente”, falou o inglês, abrindo um raro sorriso, brincando com a torcida e elogiando a equipe. Tinha motivos. Com um carro problemático e praticamente excomungado pelo próprio time, a Mercedes ficou em segundo e terceiro no grid, à frente da sensação Aston Martin.

No placar das classificações, cinco pilotos estão invictos frente a seus companheiros de equipe nas três primeiras corridas do ano: Alonso, Russell, Hulk, Albon e Tsunoda. O grid definido hoje foi apertado, com 0s943 separando os nove primeiros colocados. A Austrália costuma oferecer boas corridas, e embora a tendência amanhã seja um sumiço de Verstappen na frente, o pega-pra-capar atrás dele deve ser bem divertido. Alonso vai querer mostrar que a Aston Martin é, sim, a segunda força do campeonato. Os dois mercêdicos estão loucos para dar alguma resposta aos seus incrédulos torcedores, que ainda não entendem como um time tão dominante por oito anos pôde fazer carros tão ruins em 2022 e 2023. E a Ferrari é sempre garantia de emoções – para o bem e para o mal.

Sendo assim, dê um jeito de estar acordado às duas da madrugada do domingo. Creio que valerá a pena.