Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MADRUGADA

A IMAGEM DA CORRIDA SÃO PAULO (já acabou?) – Não é, a foto acima, a que melhor representa que se passou no GP da Austrália. Teria de ser uma de bandeira vermelha, quem sabe a confusão da terceira largada (há uma sequência mais para baixo), algo que ao menos remotamente nos lembrasse do caos proposital […]

A IMAGEM DA CORRIDA

Alonso com Hamilton: amigos de novo?

SÃO PAULO (já acabou?) – Não é, a foto acima, a que melhor representa que se passou no GP da Austrália. Teria de ser uma de bandeira vermelha, quem sabe a confusão da terceira largada (há uma sequência mais para baixo), algo que ao menos remotamente nos lembrasse do caos proposital promovido pela dupla FIA/Liberty para tentar salvar uma corrida ruim — esforço desnecessário; ninguém iria deixar de ver F-1 por causa de uma corrida ruim, e não se conquistou um único fã novo com essa demonstração explícita de falta de critérios para conduzir uma competição esportiva.

Mas escolhi o abraço cheio de sorrisos de Alonso e Hamilton porque foram eles, a meu ver, os grandes personagens do fim de semana pelo que fizeram na pista. Lewis, ao conseguir um segundo lugar inesperado com um carro ruim — do qual, palavras dele, segue desconectado. Fernando, por chegar ao terceiro pódio seguido, o que não acontecia em sua carreira desde a sequência de três segundos lugares pela Ferrari em 2013, nos GPs da Bélgica, da Itália e de Singapura.

Nesse abraço aí tem nove títulos mundiais, 135 vitórias, 125 poles e 293 pódios. Alonso, 41 anos. Hamilton, 38. Correram juntos e brigaram juntos em 2007, na McLaren. Quanta coisa aconteceu desde então… Mas ambos seguem firmes e fortes atrás de seus sonhos.

Meio piegas, a frase, mas é isso mesmo. Um sonha em ser campeão de novo. O outro, em ganhar corridas. Têm objetivos claros. Sem eles, não se vai a lugar nenhum no esporte.

Hamilton, Verstappen e Alonso: três campeões

SÓ CAMPEÕES – E os dois aparecem na imagem seguinte deste rescaldão ladeando o bem mais jovem Max Verstappen, 25. Igualmente campeão. Bi, no caso. Acrescentemos aos nove títulos anteriores, pois, os dois do holandês, para chegar a 11. E sabem quando foi que a F-1 viu três campeões mundiais no pódio pela última vez? No GP da Hungria de 2018, vencido por Hamilton, já na Mercedes, com Vettel e Raikkonen em segundo e terceiro, ambos de Ferrari.

17 SEM TIRAR – Hamilton, diga-se, tornou-se o primeiro piloto na história a conseguir subir ao pódio em 17 temporadas seguidas. O inglês nunca passou um ano sequer na F-1 sem levar ao menos um trofeuzinho para casa desde a estreia, em 2007. São 192 com esse de Melbourne.

Verstappen: 80 pódios na carreira

COMO SENNA – E para encerrar a série “o que representou o pódio do GP da Austrália para os anais da categoria mais importante do automobilismo mundial” informo que Verstappen chegou a 80 taças e empatou nas estatísticas com Ayrton Senna na sétima posição do ranking. Eles só estão atrás, em número de troféus, de Hamilton (192), Schumacher (155), Vettel (122), Prost (106), Raikkonen (103) e Alonso (101). Curiosidade: Senna também conseguiu seu 80º pódio na Austrália, só que em Adelaide/1993. E Vettel também chegou a 80 pódios no mesmo país, em 2016. A Red Bull só tinha uma vitória na Austrália, na distante temporada de 2011 com Vettel.

Como prometido, aí está a sequência do acidente que parou a corrida depois da terceira largada com bandeira vermelha. Mais uma, a terceira do dia. Pela primeira vez na história da F-1 um GP foi interrompido três vezes com bandeira vermelha. E olha que foram muitas provas antes… Desde 1950, quando nasceu a categoria, já haviam sido disputados 1.081 GPs.

Tudo graças à absoluta falta de critérios do atual diretor de prova, o alemão Niels Wittich, que sob orientação da Liberty, a dona do evento, e diante da omissão da FIA, que deveria zelar pelo esporte e não o faz, decide quando parar uma corrida, usar o safety-car ou acionar o safety-car virtual a seu bel-prazer. Ontem, duas das bandeiras vermelhas poderiam facilmente ser substituídas por amarelas com safety-car na pista: a do acidente de Albon, no começo da prova, e a do pneu perdido de Magnussen, no final. Ninguém se machucou, não foi preciso atender feridos, nada ficou destruído, era só remover o carro e o pneu e seguir o baile.

Mas o cara quis dar emoção ao fim da corrida e evitar a última volta atrás do safety-car, inventando uma terceira largada a duas voltas do encerramento da prova. E deu no quê?

Última volta atrás do safety-car.

A FRASE DA AUSTRÁLIA

“Precisamos entender quais são as situações de bandeira vermelha, safety-car ou safety-car virtual. Não tenho problema com decisão nenhuma, desde que a gente saiba quais são os critérios e se prepare para elas.”

TOTO WOLFF, chefe da Mercedes
Motor de Russell em chamas: pódio perdido

No caso do incêndio aí em cima, deu só safety-car virtual. Porque Russell parou na saída dos boxes, facilitando o trabalho de retirada do carro da pista. Mas se fosse, sei lá, a cinco voltas do final… O que faria o diretor de prova? Inventaria uma bandeira vermelha?

Tem razão Toto Wolff. É preciso estabelecer critérios claros para as intervenções do diretor de prova. Não dá para tratar incidentes semelhantes com procedimentos distintos, dependendo do momento da corrida em que eles acontecem. Todo mundo gosta de fortes emoções. Mas não se pode criá-las artificialmente.

O NÚMERO DE MELBOURNE

26

…pontos tem a Ferrari em três corridas, seu pior início de temporada desde a adoção do atual sistema de pontos, com 25 para o primeiro colocado, 18 para o segundo, 15 para o terceiro etc. Tal sistema foi inaugurado em 2010. Sainz tem 20 e Leclerc marcou seis. A equipe italiana está em quarto no Mundial de Construtores. No ano passado, após três GPs, a Ferrari era líder com 104.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS… de sorrisos! As fotos acima foram escolhidas porque, afinal de contas, o GP da Austrália não foi apenas um amontoado de bobagens da direção de prova. Teve bons momentos e boas atuações, até. Como a do jovem Piastri, da McLaren. Em oitavo, fez seus primeiros pontos na categoria. Sua equipe estava zerada no ano e também pontuou com Norris em sexto. Alonso vem sendo o grande nome da temporada. E Verstappen segue desfilando seu incrível talento e empilhando números impressionantes. Será tricampeão. E merece.

Leclerc: péssimo começo de ano para a Ferrari

NÃO GOSTAMOS… de ver a Ferrari tão capenga quando neste início de ano. Lá no alto deste rescaldão, no “número de Melbourne”, mostramos: é seu pior começo de campeonato desde 2010. Não é coincidência. A gestão atrapalhada do time traz consequências. A saída de Binotto foi contestada por muita gente. É aquele negócio de trocar de técnico depois de duas ou três derrotas, como no futebol. Quase nunca funciona. Vasseur, que acabou de chegar, tem alguma culpa? Provavelmente não. Mas vai sobrar para ele? Provavelmente sim. Tem muita coisa errada em Maranello. E, na modesta opinião deste que vos escreve, os problemas passam pela dupla de pilotos. Que é fraca.