Blog do Flavio Gomes
F-1

LA CUCARACHA (3)

SÃO PAULO (deu pro gasto) – Max Verstappen jogou um balde de água gelada na cabeça de Sergio Pérez. Eu ia dizer “jogou água na tequila”, para fazer uma brincadeira com aquela história do chope e tal… Mas a imagem mais próxima da realidade é o banho gelado, mesmo. Pérez vinha de vitória dupla — […]

Verstappen: humilhou Pérez e venceu de novo

SÃO PAULO (deu pro gasto) – Max Verstappen jogou um balde de água gelada na cabeça de Sergio Pérez. Eu ia dizer “jogou água na tequila”, para fazer uma brincadeira com aquela história do chope e tal… Mas a imagem mais próxima da realidade é o banho gelado, mesmo.

Pérez vinha de vitória dupla — Sprint + GP — em Baku, fez a pole ontem, viu o companheiro se estrepando e tendo de largar em nono, e conseguiu não ganhar o GP de Miami. Foi humilhado. Chegou em segundo mais de 5s atrás, depois de liderar a prova até a volta 48. Se sonhava em lutar pelo título, acordou. Não vai. O holandês fez uma das melhores corridas de sua vida: cerebral, precisa, perfeita. Alcançou 38 vitórias na carreira, três delas neste ano. Estava seis pontos à frente do mexicano na classificação e corria o risco de perder a liderança. Como venceu e fez também a melhor volta, abriu 14 sobre o companheiro de equipe: 119 X 105. A Red Bull segue invicta na temporada, com cinco triunfos em cinco etapas.

Cafonice americana: não combina com a F-1

Não se pode contar a história do GP de Miami sem ao menos registrar a cafonice da apresentação dos pilotos num corredor de cheerleaders convocados por LL Cool J (não sei direito quem é) sob uma orquestra tocando uma música-tema do GP, composta por Will.i.am (que também não sei direito quem é). Os pilotos tiveram 15 minutos para entrarem nos carros, afivelarem os cintos e conectarem cabos em todos os cantos, depois da patuscada.

Quando as mantas térmicas dos pneus foram retiradas, notou-se que a maioria estava de pneus médios (os sete primeiros no grid, por exemplo), alguns de duros (Hamilton, Ocon e Verstappen, entre outros) e a dupla da McLaren de macios.

A largada foi muito tranquila, com Pérez sem ser incomodado por Alonso. Magnussen, de quarto para sétimo, foi quem largou pior. Verstappen fechou a primeira volta onde estava, em nono. Já na segunda, quando pôde identificar os carros no entorno, gente que só conhecia por foto, começou a passar quem estivesse à frente. O primeiro foi Bottas. Estranhou o bigode. “Ele não era assim, quando estava na Williams”, falou, pelo rádio. “Ele já saiu da Williams e foi para a Mercedes, Max.” “Mas esse carro aí não é da Mercedes, é da Ferrari.” “Não, Max, é vermelha, mas é Alfa Romeo, e o Bottas está na Alfa Romeo.” “Ah…”

Na quarta volta, Max fez uma ultrapassagem dupla sobre Leclerc e Magnussen. “Uai, não era o Mick que corria na Haas?”, perguntou pelo rádio, ao ver de soslaio o nome do piloto dinamarquês. “É Magnussen”, respondeu o engenheiro. “Ah, lembro dele. E aquele russinho?”, continuou. “Já saiu, Max.” “Ah…” Então Verstappen olhou no espelho para saber quem mais tinha passado e viu a Ferrari. “É Kimi?” “Não, Max. É Charles.” “Ah…”

Hamilton, sexto: resultado decente

Pouco depois, o bicampeão avistou um carro da Mercedes adiante. “Vou passar Lewis”, informou pelo rádio. “É George, Max.” “Mas George não é aquele da Williams?” “Já trocou, Max.” “Ah…” Passou na oitava volta. O seguinte era Gasly, da Alpine. “Vou passar Alonso”, avisou. “É Gasly, Max.” “Mas Gasly não era da Toro Rosso?” “AlphaTauri, Max. Mas já saiu.” “Ah…” Na nona volta, deixou o francês para trás e foi para a quarta colocação. O alvo seguinte era Sainz, da Ferrari. Com isso, sua diferença para o líder da prova, Pérez, era menor do que 5s. Estava voando. Com pneus duros. Teria médios depois que parasse. As trombetas começaram a soar nas orelhas de Checo. Max ia chegar. Ia passar. Ia ganhar.

Na 14ª volta, Verstappen ultrapassou Sainz. “Passei uma Alfa Romeo!”, comemorou, animado. “Agora vou pra cima do Seb!” “Era uma Ferrari, Max. E é Alonso, não Vettel.” “Mas ele não parou de correr?” “Não, Max, quem parou foi Vettel.” “Ah…” Alonso não resistiu meia volta. Na 15ª, o holandês era o segundo colocado, 3s8 atrás do companheiro de equipe.

Alguns pilotos, avisados por seus boxes de que os pneus duros estavam se comportando lindamente no carro de Verstappen, começaram a parar para trocar os compostos médios que haviam escolhido para começar a prova: Russell, Leclerc e Sainz, entre eles. Max seguia se aproximando do líder. “Quem está em primeiro?”, perguntou. “Seu parceiro”, respondeu o engenheiro. “Diga a Dany para não dificultar as coisas”, pediu. “Dany saiu da equipe em 2018, Max.” “Mas eu vi ele ontem com a mesma camisa que eu!”, surpreendeu-se. “Ele agora é nosso reserva, Max.” “Ah…” Seguiu-se um silêncio. “E quem é meu companheiro agora?”, acabou perguntando, um tanto envergonhado. “É Checo, Max. E ele acabou de parar no box.”

Pérez: segundo lugar amargo

Era a volta 21, e Pérez voltou em quarto, atrás de Max, Alonso e Ocon. Nenhum dos três havia trocado pneus ainda. Verstappen tinha um plano muito claro: fazer voltas rápidas uma em cima da outra, tentar abrir uma vantagem para Pérez, trocar de borracha e voltar na frente. E fazer seus pneus duros aguentarem o máximo possível. Checo estava 18s atrás, já em terceiro — superou Ocon sem nenhuma dificuldade.

A prova tinha alguma movimentação no pelotão intermediário, com lutas não muito esganiçadas por posições pouco relevantes. Hamilton, por exemplo, ficou um tempão brigando com Hülkenberg. Russell, com Stroll. Leclerc, com Magnussen. Alonso parou na volta 25 e voltou em quinto. Pérez, já em segundo com pneus novos, começou a andar mais que Verstappen e sabia que quando seu companheiro parasse, voltaria à ponta. Na volta 26, a diferença para o #1 era de pouco mais de 16s.

Alonso, de volta com pneus novos, passou Sainz rapidinho e foi para cima de Ocon, o terceiro, que ainda não tinha parado, assim como Verstappen. Este fazia uma corrida de precisão: mantinha Pérez sempre cerca de 15s atrás e ia levando, para ter a chance de, com pneus médios, atacar o parceiro depois de sua parada e ter borracha suficiente para se segurar na ponta. Quanto menos voltas tivesse de percorrer com os médios — mais rápidos, mas que se desgastam mais –, melhor.

Na volta 33, Max fez a melhor volta da prova. O ritmo, com aqueles pneus velhos e carcomidos, beirava o espantoso. Na 35ª, repetiu o feito. Pérez deu o troco — mas tinha uma borracha bem mais nova. E a melhor volta seguinte foi de… Hülkenberg, que estava lá atrás, em 15º. Explicação: acabara de colocar pneus médios. Aqueles que Verstappen teria à disposição na parte final da corrida.

Magnussen, décimo: pontinho suado

Quem fazia uma boa prova, para não dizer que meus olhos estavam voltados apenas para a dupla da Red Bull, era Russell. Na volta 40, aparecia em quarto e, coisa mais fofa, cantarolava quando fazia ultrapassagens. Seu companheiro Hamilton, em compensação… Um dos últimos a trocar pneus, se arrastava na metade do pelotão brigando com pilotos da Williams, Alfa Romeo e Haas. Só foi reagir nas voltas finais, terminando em sexto. No fim, um bom resultado para quem largara em 13º.

Voltando aos líderes, tudo indicava que Max, ao fazer seu pit stop, retornaria à pista atrás de Pérez. Tudo, menos o cronômetro. A partir da volta 40, o bicampeão começou a fazer tempos excelentes; o mexicano, medíocres. A diferença, na volta 43, passou dos 18s. Mais um pouquinho e ele conseguiria parar, colocar pneus médios e voltar à pista na frente. Não daria tempo de um cafezinho no pit stop, porém. Seria justinho, na conta do chá.

Alonso: quarto pódio em cinco corridas

Mas não deu. Na volta 46, Verstappen finalmente foi para os boxes. A parada foi OK, no padrão Red Bull. Pérez, no entanto, passou. A situação: Checo líder com pneus duros de 26 voltas; Max segundo, 1s5 atrás, com pneus médios novinhos em folha. A ultrapassagem era questão de tempo. Pouquíssimo tempo. “Vou passar o Albon”, alertou o time, pelo rádio. “É Sergio, Max. Sergio Pérez.” A primeira tentativa foi na volta 47. Não deu. A segunda, na 48. Deu. “Passei o Kvyatt da Toro Rosso!”, reportou. “Quem está em primeiro agora?” “Não é Kvyatt, Max. E não tem mais Toro Rosso. Era Pérez. Sergio Pérez, Max. Ele é da Red Bull, a nossa equipe. E você está em primeiro.” “Ah…”

Resultado final em Miami: nenhum abandono

Verstappen passou e foi embora, fez a melhor volta da corrida e ao final da prova parecia dizer: “Chega de conversinha, vamos acabar logo com esse negócio, dá meu troféu que preciso ir no shopping do jacaré”. Miamizeiros entenderão. Venceu, cumprimentou Pérez e Alonso, o terceiro colocado — pela quarta vez no ano –, e acenou para os demais que fecharam a zona de pontos: Russell, Sainz, Hamilton, Leclerc, Gasly, Ocon e Magnussen.

No momento em que encerrava este texto, os boatos eram de que Pérez tinha decidido abandonar a carreira. “Isso não é mais pra mim”, teria dito a um representante do cartel de Sinaloa, que perdeu uma grana nesse domingo e foi visto no paddock atrás de explicações.