Blog do Flavio Gomes
F-1

NA COMUNIDADE (3)

SÃO PAULO (vamos pra próxima) – Max Verstappen ganhou fácil o GP de Mônaco, corridinha chata que só teve alguma emoção no final, quando choveu. Mas nem a chuva foi capaz de alterar demais o quadro da prova, que teve nas três primeiras colocações os três primeiros do grid. Fernando Alonso foi o segundo e […]

Chuva no fim não atrapalhou Verstappen: 39 vitórias na carreira

SÃO PAULO (vamos pra próxima) – Max Verstappen ganhou fácil o GP de Mônaco, corridinha chata que só teve alguma emoção no final, quando choveu. Mas nem a chuva foi capaz de alterar demais o quadro da prova, que teve nas três primeiras colocações os três primeiros do grid. Fernando Alonso foi o segundo e Esteban Ocon, o terceiro. O piloto da Red Bull ganhou pela segunda vez em Monte Carlo. Foi a 144 pontos contra 105 de Sergio Pérez, que terminou nem sei onde, duas voltas atrás do vencedor. Alonso, com 93, é o terceiro colocado.

No Mundial de Construtores, a Alpine deu um bom salto de 14 para 35 pontos, graças também ao sétimo lugar de Pierre Gasly. Quem vê a vice-liderança ameaçada é a Aston Martin, que vive de Alonso. O time verde tem 120 pontos contra 119 da Mercedes. O espanhol é responsável por 77,5% dos pontos da equipe. Lance Stroll, que abandonou, tem sido uma nulidade nas últimas etapas. Nas últimas três, macrou sete pontos. Alonso, 48.

Mas vamos à corrida.

Alonso no pódio: cinco taças em seis corridas

Com pista seca, sem chuva nenhuma durante boa parte do dia, a alternância entre pneus médios e duros na largada chamou a atenção. Tinha gente de macio, também, como Zhou, lá atrás. Fiquemos com quem importa, para não cansar os leitores: Verstappen partiu de médios; Alonso, de duros.

A largada foi civilizadíssima, com todos dando espaço para os colegas e evitando atritos que estragassem o domingo de alguém. Não houve mudanças de posição de cabo a rabo do grid, exceção feita a Stroll, que foi prensado no muro por Albon na freada para a Loews. Pérez, último no grid, parou ao final da primeira volta, colocou pneus duros e foi à luta para fazer a corrida inteira com a mesma borracha. No fim, terminou a prova com cinco paradas…

Nas primeiras voltas, o melhor da corrida foi observar com atenção o novo visual da transmissão televisiva, assumida pela FOM/Liberty. Até o ano passado, a Tele Montecarlo era responsável pelas imagens. O equipamento usado, a posição das câmeras e os cinegrafistas eram os mesmos desde 1297, quando Francisco Grimaldi se disfarçou de monge, sacou uma espada escondida sob o hábito, invadiu o castelo e tomou a fortaleza do rochedo, fundando Mônaco. Ficou melhor. Quem nunca esteve lá agora pode conhecer novos ângulos do Principado. E ver como aquele pedaço da Europa é belo e especial.

Na volta 11, Sainz, em quarto, deu uma esfregada em Ocon por trás na chicane da saída do Túnel – não entendam mal, foi isso mesmo – e entrou no rádio para perguntar se tinha quebrado alguma coisa. A Ferrari avisou que iria checar. A pontinha da asa dianteira foi danificada. Na liderança, Verstappen desfilava sozinho com mais de 5s de vantagem sobre Alonso, que por sua vez tinha mais de 10s sobre o francês da Alpine. Era o desfile em fila indiana de sempre, para gáudio dos que odeiam o GP monegasco.

Convinha olhar para o fundo do pelotão, onde estava Pérez. Mesmo com um carro muito bom, o mesmo da pole de Verstappen, o mexicano seguia sem conseguir passar ninguém, em 18º. Ganhara a posição de Zhou nos boxes e de Hülkenberg, que fora punido por um incidente na primeira volta. No final da volta 18, uma rara ultrapassagem: Stroll sobre o fraquíssimo Sargeant na Rascasse. Pérez aproveitou e foi junto. Posições irrelevantes, mas vale o registro, já que nada acontecia, mesmo.

Corrijo: acontecia uma tentativa burlesca da Ferrari de enganar a Alpine, chamando Sainz para os boxes “para passar Ocon”, e quando ele chegava perto da entrada vinha a contra-ordem, “fica, fica!”. Sabe no truco quando você pisca o olho deliberadamente para fingir que tem o zap? Pois é isso. Ninguém acredita. A Ferrari, às vezes, é constrangedora.

Início de prova: Max vai embora, Alonso só espera

Na volta 31 Verstappen colocou uma volta em Pérez, que estava em 16º. Menos de metade da corrida, um escândalo. OK, o mexicano tinha feito uma parada, mas a diferença era gritante. Na 32ª começaram as paradas do pessoal da frente. Hamilton foi o primeiro a trocar pneus. Tinha largado de médios, colocou duros. Caiu de quinto para oitavo. Ocon foi na volta seguinte e retornou em sétimo. Mas a parada foi um pouco lenta, o que poderia ter consequências. Quando Sainz fizesse sua troca, talvez voltasse na frente do francês. Carlos parou na 34ª. Voltou atrás de Esteban. E saiu disparando impropérios à equipe, que respondeu dizendo que tentou protegê-lo de Hamilton. “Não quero saber de Hamilton, não dou a mínima para ele, não gosto da Mercedes, meu pai corre de Audi, Lewis nunca conversa comigo, eu queria passar o Ocon, o Vasseur é francês, está protegendo ele, eu gostava mais do Binotto!”, desabafou o espanhol. (O conteúdo da conversa foi ligeiramente diferente, mas o que importa é a essência.)

Eu ia dizer de novo que nada acontecia, mas estaria mentindo porque omitiria duas presepadas de Pérez. Primeiro, cortou a chicane para passar Stroll. Teve de devolver a posição. Depois, bateu na traseira de Hülkenberg e quebrou o bico. Teve de voltar aos boxes. Uma lástima.

Na metade da prova, Verstappen, Alonso, Leclerc, Gasly e Russell eram os cinco primeiros, sem paradas. Ocon, Sainz e Hamilton vinham a seguir, já tendo trocado seus pneus. A diferença de Max para Fernandinho, que já tinha sido superior a 10s, mantinha-se estável na casa dos 9s.

Leclerc parou na volta 45, enquanto Verstappen, pelo rádio, conversava amenidades pelo rádio com a Red Bull. Perguntava sobre Alonso, sobre o tempo, sobre o pai, sobre a namorada. Alonso, por sua vez, questionava o time sobre a possibilidade de chuva. “Ainda neste mês, Fernando”, respondeu o engenheiro. “Então vou com este pneu até a última volta.”

Na real, a corrida estava um porre. De novo, para alegria e sádica satisfação dos detratores da prova mais tradicional e charmosa da F-1 – que às vezes é chata, fazer o quê? Na falta de outro assunto, a chuva virou tema das conversas. E parecia que estava vindo, mesmo. Na volta 52, Russell, sempre alarmista, avisou: “Preparem suas capas! Procurem as galochas! A arca de Noé será pequena!”.

Não era para tanto. Na entrada do Túnel, uma bandeira vermelha e amarela foi mostrada pelos fiscais. Ela indica pista escorregadia. No trecho entre a Mirabeau e a Poitier, o asfalto estava realmente molhado. Ah, chuva, que delícia! Obrigado, teremos uma corrida!

Sainz chegou em Ocon na volta 54, babando para ultrapassar o francês. Os carros dançavam por todos os lados em parte do circuito. Alonso parou e colocou pneus novos, médios, para pista seca. Ocon veio em seguida e espetou intermediários. Aí a prova ficou divertida (para quem vê) e tensa (para quem corre).

Água no fim: alguma emoção, mas não muita

A chuva apertou e tomou conta do Principado. Verstappen parou na volta 55 e colocou intermediários. Sainz escapou, rodou, perdeu a posição para Leclerc. Alonso, então, percebeu a bobagem que fizera. Voltou aos boxes e colocou intermediários, também. Mas como tinha boa vantagem para Ocon, acabou não perdendo a segunda posição. A Ferrari chamou seus dois pilotos e fez o mesmo. No frigir dos ovos, Verstappen seguia na ponta, agora com mais de 22s sobre Alonso. O espanhol se mantinha na vice-liderança, com Ocon em terceiro e agora Hamilton em quarto, seguido por seu companheiro Russell. Leclerc, Gasly, Sainz, Tsunoda e Piastri fechavam a turma dos pontos.

A pista estava um sabão. Russell deu uma escapada e quando retornou ao traçado não viu Pérez. Se tocaram. O inglês recebeu uma punição de 5s que ao final da prova não alteraria sua posição. Os tempos de volta subiram da casa de 1min15s no seco para mais de 1min40s no molhado. Todo cuidado era pouco. Na volta 60, o que se via era uma turma de pilotos tentando não bater em nada, rabeando para lá e para cá.

Uma briga interessante se desenhou a partir da volta 65, quando Hamilton se aproximou de Ocon. Valia uma posição no pódio. A diferença entre o carro da Alpine e o #44 da Mercedes estava na casa de 1s. Russell, em quinto, vinha na mesma balada. Mas Lewis não arriscou nada e preferiu se conformar com a quarta colocação. Desistiu rapidinho para voltar mais cedo para casa e dispensar cerimônia de pódio e entrevista coletiva obrigatória. Além do mais, o marceneiro não entregou ainda a estante nova. O troféu teria de ficar na cozinha, ao lado da cafeteira. E, todos sabem, aquele lugar é cativo do vasinho com suculentas.

Estie Bestie chegou lá: Ocon leva terceiro troféu para casa

O asfalto começava a melhorar um pouco e as voltas despencaram para a casa de 1min30s. Na 69ª das 78 previstas para concluir o GP, Tsunoda, em nono, perdeu duas posições para os pilotos da McLaren, Norris e Piastri. O japonês tinha problemas nos freios. A chuva parou, mas a pista continuava molhada e traiçoeira.

Nada mais aconteceu, porém. Russell, é verdade, seguia com seus discursos pelo rádio, descrevendo tudo que se passara nas voltas anteriores. “Gente, eu estive grudado na caixa de câmbio do Lewis, mas quando falei isso não estava pressionando nada, tá bom?” “Tá bom, George.” “Era só modo de falar, adoro Lewis, só não usaria aquelas roupas, mas vocês sabem que nos damos bem.” “Tá bom George.” “Sabe, pessoal, eu até poderia chegar em terceiro na frente do meu amigo Esteban e de nosso incrível Lewis, mas vi uma bandeira amarela, brequei e acabei saindo da pista. Espero que me perdoem.” Tá perdoado, George. “De mais a mais, uma quinta posição me parece satisfatória, considerando que estamos com um carro praticamente novo, o que mostra a força de nossa equipe e o empenho de t…” “Cala a boca, George, já acabou a corrida.”

Príncipe, princesa e agregados no pódio: festa de Max, Alonso e Ocon

Acabou a corrida com Verstappen recebendo a quadriculada com 27s9 de vantagem para Alonso, que por sua vez cruzou a linha cerca de 10s à frente de Ocon. Um belo pódio, merecido. Para o holandês da Red Bull, a 39ª vitória na carreira, quarta no ano em seis etapas – o time austríaco segue invicto. Para El Fodón de L’Astón, um segundo lugar não vinha desde o GP da Hungria de 2014, quando ainda corria pela Ferrari. Foi seu quinto troféu na temporada. Já Ocon conseguiu seu terceiro pódio na F-1 e pediu o telefone do marceneiro de Hamilton. Foi quem mais comemorou o resultado. “Estie Bestie está no pódio, bebê!”, gritou pelo microfone de David Coulthard, o entrevistador-mala oficial do dia. Nem todos entenderam, esclareço: “Estie Bestie” é como Ocon é chamado por seus torcedores.

Hamilton, Russell, Leclerc, Gasly, Sainz, Norris e Piastri foram os outros que marcaram pontos numa corrida que incrivelmente não teve nenhum safety-car e apenas dois abandonos, de Stroll e Magnussen. O príncipe Albert II entregou o troféu a Verstappen e a princesa Charlene, sua esposa, a Alonso. Andrea Casiraghi, filho da princesa Caroline, filha de Grace Kelly que já está no terceiro casamento, premiou o eufórico Ocon. “Estie Bestie está felizão, princesa!”, falou. No chá da tarde, Caroline perguntou ao marido quem era Estie Bestie. “Personagem de quadrinhos, querida.” Após uma pausa, Caroline perguntou: “Quadrinhos eróticos?”

Domingo que vem tem mais. Esperamos mais, também, de Barcelona. Mas sem grandes ilusões. Lá a lógica é mais lógica. Vai dar Verstappen de novo. Apreciemos a pilotagem do rapaz.

Final de prova: nenhum safety-car