Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

A IMAGEM DA CORRIDA SÃO PAULO (muita fofura) – Começo com a foto que mais gostei do fim de semana. Se a corrida não foi grande coisa, como disse ontem, muita gente ficou genuinamente feliz com o resultado. A turma da Aston Martin e a galerinha da Alpine, principalmente. Na Red Bull, o resultado foi […]

A IMAGEM DA CORRIDA

Alonso & Ocon: ex-companheiros de Alpine, juntos no pódio

SÃO PAULO (muita fofura) – Começo com a foto que mais gostei do fim de semana. Se a corrida não foi grande coisa, como disse ontem, muita gente ficou genuinamente feliz com o resultado. A turma da Aston Martin e a galerinha da Alpine, principalmente. Na Red Bull, o resultado foi recebido com naturalidade. Ainda que não tenha sido a mamata que muita gente imagina — explicamos adiante.

Alonso foi lá abraçar Ocon. Alonso foi lá abraçar Ocon na Hungria, também, quando o francês venceu seu único GP, em 2021. E era companheiro dele. Poderia ter ficado, hum…, ressentido. Lembro quando Johnny Herbert ganhou em Nürburgring/1999. Foi a primeira — e única — vitória da Stewart na F-1. Barrichello, um piloto muito melhor que o inglês, não teve essa honra. E posso testemunhar, porque estava lá. Não ficou feliz pelo companheiro de equipe. “Essa vitória era para ser minha”, falou, no túnel que passava debaixo da pista, ligando o paddock à antiga sala de imprensa.

Eis a lição, que deve valer para todo mundo. Ficar feliz pelo outro é bonito.

Abaixo, aproveitando o ensejo, uma galeria da felicidade. Com destaque para a última foto, de Alonso infiltrado junto ao pessoal da Red Bull. E, também, para a série publicada pela Aston Martin, com funcionários de várias áreas da equipe posando com o troféu de segundo lugar. Na F-1, outra lição, um troféu é de todos.

O NÚMERO DE MÔNACO

39

…vitórias agora tem Verstappen pela Red Bull, tornando-se o piloto que mais ganhou pelos energéticos. Estava empatado com Vettel.

Muita gente me perguntou (mentira, ninguém; só li um comentário aqui e algumas coisas no Twitter) se Alonso ganharia se em vez de colocar pneus médios na volta 54 tivesse optado pelos intermediários, o que evitaria uma segunda parada. Um rapaz aqui nos comentários disse que um perfil chamado Ressaca no YouTube (nunca assisti, portanto não posso opinar se é bom, ruim, interessante, cascateiro, nada; não sou usuário de YouTube e não vejo nada) fez as contas e “provou” que a Aston Martin perdeu a corrida aí.

Bom, Alonso e a própria Aston Martin disseram, depois da prova, que não venceriam de jeito nenhum, mesmo se não tivessem arriscado os slicks. Algo que considero um erro, embora a justificativa faça algum sentido: tentar algo diferente para buscar a vitória, caso a chuva ficasse só num cantinho da pista. Como a chuva se espalhou, o time foi obrigado a chamar o espanhol novamente para colocar intermediários. Perdeu tempo, claro. Mas não a corrida. Entre os cálculos realizados por um perfil no YouTube e as contas feitas por uma equipe com 800 funcionários e um piloto bicampeão mundial envolvidos no episódio, tendo a dar maior peso ao que informaram equipe e piloto.

O que aconteceria se Alonso colocasse intermediários direto? Terminaria o GP em segundo, mais perto de Verstappen. Isso porque estaria na mesmíssima estratégia que o rival, que parou uma volta depois. Não sei quais foram os números usados pelo canal no YouTube, mas os que tenho à disposição indicam que piloto e equipe tinham razão ao dizer que não iria mudar muita coisa. Vamos a eles.

Os tempos nas voltas decisivas: Alonso perdeu tempo, não a corrida

Na volta 51, a última com pista ainda seca, Verstappen (#1) virou 1min17s427, contra 1min19s991 de Alonso (#14). A diferença entre eles era de 11s444. Na volta 52, os tempos subiram dramaticamente, com o trecho entre a Mirabeau e a entrada do Túnel já molhado. Verstappen fez 1min24s046 e Alonso, 1min24s967. A diferença subiu para 12s365. Foi nessa volta que Bottas (#77) e Stroll (#18) pararam e foram os primeiros a colocar intermediários.

Na volta 53, ambos com slicks — Verstappen com médios, Alonso com duros –, os tempos subiram ainda mais: 1min29s919 para o holandês, 1min30s862 para o espanhol, diferença em 13s308. Bottas, com intermediários, virou 1min32s154. Como se vê, esse pneu ainda não era o ideal, mas seria instantes depois. Na volta 54, então, Alonso parou. Colocou slicks, um erro evidente pela condição em que o asfalto se encontrava. Verstappen, ainda na pista e também com slicks, fez sua volta em 1min38s946. Bottas, nossa referência de intermediários, virou 1min32s720.

Então, na 55, Verstappen parou e colocou os pneus de chuva. Alonso voltou aos boxes para fazer o mesmo. Bottas virou essa volta em 1min38s747. A pista tinha piorado bastante. Na volta 56, todos já com seus pneus intermediários, a diferença de Verstappen para Alonso subira para 23s141.

Alonso perdeu 25s916 em sua última parada. A tentação de fazer uma conta simples é enorme: se perdeu 25s916 nos boxes e a diferença depois do pit stop era de 23s141, se não tivesse parado uma segunda vez estaria 2s775 à frente de Verstappen se colocasse os pneus corretos!

Esse é o erro essencial, de querer simplificar as coisas e transformar uma corrida de carros, na chuva, em conta de somar e subtrair — sem considerar variáveis como o tempo necessário para aquecer pneus e tráfego, para ficar apenas com duas delas.

O que nos interessa aqui, damas & cavalheiros, é o momento da primeira parada para tentar imaginar o que aconteceria se Alonso colocasse pneus intermediários. E não o da segunda, quando a merda já estava feita.

Na volta 53, Alonso estava 13s308 atrás de Verstappen. Se colocasse intermediários na 54ª, para assumir a liderança teria de descontar essa diferença na volta de saída dos boxes enquanto Max completava a mesma com slicks e fazia seu pit stop. Considerando que a parada tomava cerca de 25s dos pilotos, o espanhol da Aston Martin saiu coisa de 38s atrás do holandês rubro-taurino — que, por sua vez, perderia esses 25s quando trocasse seus pneus. OK, Alonso estava com os pneus errados. Mas o que teria sido capaz de fazer com os pneus certos em uma única volta? Note-se que nessa volta (a 54), com slicks, Verstappen foi cerca de 6s mais lento que Bottas, que já estava com intermediários. Alonso precisaria descontar pelo menos 13s. Não conseguiria. O que não apaga o equívoco. Deveria, sim, ter colocado os intermediários. Mas não perdeu a corrida por isso. Apenas chegou mais longe do vencedor do que chegaria se tivesse usado os pneus mais apropriados para a ocasião.

Resumindo, a vantagem de Verstappen era muito grande, e só por isso a Red Bull demorou um pouco para chamá-lo. Também errou, porque o momento ideal de parada teria sido na volta 54, quando Alonso parou. Foi quando os intermediários se mostraram mais rápidos — é só ver o tempo de Bottas, cinco parágrafos acima. Mas quem é que vai adivinhar isso? Depois que a corrida termina, é fácil falar.

A ideia da Red Bull, durante a prova toda, foi marcar Alonso pelo retrovisor. Quando viu no grid que o asturiano tinha pneus duros, passou a tarefa para Verstappen, que largaria de médios. Se vira aí, bonitão. Porque seus pneus vão acabar antes, e se você parar antes que ele corre o risco de ser ultrapassado nos boxes se o cara estiver muito perto. Então, trata de construir uma vantagem legal sem destruir a borracha.

Foi o que Verstappen fez, com maestria. Esticou os médios até a volta 55. Alonso levou seus duros até a 54. E a vantagem legal de Max, mais de 13s, tornou-se insuperável.

O resto é conversa.

A FRASE DE MONTE CARLO

“Um ano atrás, aqui em Mônaco, nossos pilotos disseram que o carro era horrível. Hoje, disseram que não é muito bom. Nesse sentido, é um progresso.”

Toto wolff
Hamilton, quarto: “Não muito bom”

Recebi tantas fotos de Mônaco ontem que aí vai mais uma galeria, sem grandes explicações. Se a corrida foi ruim, as imagens foram boas. O Principado é belíssimo e os fotógrafos capricham. Agora, então, com drones por todos os lados, tudo fica ainda mais bonito.

Deleitem-se, e se quiserem ver as fotos em tamanho gigante, é só clicar nelas.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS… de Oscar Piastri (abaixo, à esquerda), que fez sua estreia em Mônaco num F-1 e já conseguiu pontuar. O menino da McLaren pode não ser um virtuoso, mas tem trabalhado direitinho numa equipe cujo chefe, Zak Brown, não consegue se concentrar em nada. Ontem, estava em Indianápolis.

NÃO GOSTAMOS… de Sergio Pérez (acima, à direita), com seus cinco pit stops, zero ponto e duas voltas atrás de Verstappen.