Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM À TARDE

A IMAGEM DA CORRIDA SÃO PAULO (tem quem goste) – O certo era achar uma foto de Verstappen passando Pérez. Até tem uma, está mais abaixo, mas é “frame” da TV, imagem aérea, esteticamente pobre. Assim, depois de rasgar elogios ao rapaz ontem e explicar tintim por tintim como ele ganhou o GP de Miami, […]

A IMAGEM DA CORRIDA

Muito à vontade, Verstappen “entra em campo”: cafonice americana

SÃO PAULO (tem quem goste) – O certo era achar uma foto de Verstappen passando Pérez. Até tem uma, está mais abaixo, mas é “frame” da TV, imagem aérea, esteticamente pobre. Assim, depois de rasgar elogios ao rapaz ontem e explicar tintim por tintim como ele ganhou o GP de Miami, restam as irrelevâncias. Isso explica a foto escolhida para representar a corrida: essa coisa brega de americano que acha que todo evento esportivo tem de se parecer remotamente com o Super Bowl. E, no fim, tudo se parece mesmo é com aquelas competições colegiais que a gente vê nos filmes enlatados da TV.

Alguém avise a Liberty que faz anos que a F-1 baniu as grid girls.

Verstappen foi vaiado pelo público ontem no pódio e, como de costume, cagou e andou para os torcedores. “O importante é meu troféu, quem não gosta de quem ganhou vaia, não ligo muito para isso”, disse. Havia muitos mexicanos na torcida, por isso as vaias. Mexicanos são meio malas. Isso quem está dizendo sou eu. No caso da F-1, creem piamente que Pérez está sendo sacaneado pela Red Bull.

Pérez é pior que Verstappen. Ponto. Como Vettel era melhor que Webber. Hamilton, que Bottas. Senna, que Berger. Schumacher, que Barrichello. Não é preciso teorizar muito mais sobre o assunto.

O NÚMERO DE MIAMI

38

…vitórias tem Verstappen na carreira, todas elas pela Red Bull. Ontem ele igualou o maior vencedor da história da equipe, Sebastian Vettel. O alemão ganhou 53 corridas na F-1, sendo 38 pela Red Bull, 14 pela Ferrari e uma pela Toro Rosso.

Vitórias a partir da nona posição do grid não são muito comuns na F-1. Ontem, foi apenas a quinta vez na história que isso aconteceu. A última fora em 1984 com Niki Lauda no GP da França, de McLaren. Antes, Maurice Trintignant (Ferrari, Mônaco/1955), John Surtees (Honda, Itália/1967) e Jody Scheckter (Wolf, Canadá/1977). A Red Bull chegou a 97 vitórias na categoria. Fará uma linda festa na centésima. Pérez, por sua vez, completou o número redondo de 30 pódios.

Bela mierda.

A FRASE DE MIAMI

“Ele estava simplesmente inalcançável. Não consegui ter o mesmo ritmo. Precisamos entender por quê.”

Sergio Pérez

Bom, quando descobrir, avisa. Há quem diga que a tática de largar com duros e terminar com médios era melhor, e por isso foi aplicada no carro de Verstappen. Bobagem. Na Mercedes, Russell largou com médios, como Pérez, e terminou com duros. Estava na frente de Hamilton no grid. Lewis, como Verstappen, fez o inverso: largou com duros e terminou de médios. E quem chegou na frente? Russell.

Não faria sentido deixar Pérez na pole com pneus duros cercado de carros com pneus médios, que fatalmente conseguiriam ultrapassá-lo na largada. Isso atrasaria o mexicano. Se ele não conseguiu disparar na frente e depois, com pneus duros novos, não teve capacidade para ser mais rápido que Verstappen — que tinha os mesmos compostos desde o início da prova –, problema dele.

Acima, o panorama de momento da temporada depois de cinco corridas. O desempenho dos times abaixo da Ferrari é patético. Um GP distribui 102 pontos, quando o ponto extra da melhor volta fica com alguém que terminou entre os dez primeiros. Num fim de semana de Sprint, são 138. Nesta temporada, foram 545 pontos entregues até agora, porque em um GP a melhor volta ficou fora da zona de pontuação.

As quatro primeiras colocadas somam 500 — 91,7% do total. As outras seis, juntas, têm 45. Apenas um ponto a mais do que Sainz, sozinho, fez com a Ferrari. É uma vergonha.

Caixinhas, então, para não me irritar ainda mais.

GIL DE VOLTA – Gil de Ferran está de volta à McLaren, como consultor. O ex-piloto brasileiro, que fez carreira na Indy, já trabalhou no time entre 2018 e 2020. Ocupará um cargo não executivo ou operacional. Servirá de conselheiro para Andrea Stella, novo chefe da equipe. Gil é ótimo. Inteligente, de grande conhecimento técnico e capacidade de liderança. Vai acontecer alguma coisa na McLaren com sua chegada? Nada. Enquanto Zak Brown achar que é OK dividir esforços, dedicação e dinheiro entre F-1, Indy, Fórmula E, Extreme-E, videogames, autorama, Passa ou Repassa e Big Brother Brasil, a McLaren não vai sair do lugar.

O TAMANHO DA TROLHA – A Red Bull ganhou as cinco corridas do ano até aqui. Vejam a diferença do vencedor para o melhor carro não-Red Bull em cada uma delas: 38s6 (Bahrein), 20s7 (Arábia Saudita), 0s1 (Austrália, mas terminou com bandeira amarela), 21s2 (Azerbaijão), 26s3 (Miami).

O TAMANHO DA TROLHA II – A equipe austríaca, desde o GP da França do ano passado, ganhou 15 das 16 provas disputadas. Só perdeu em Interlagos para a Mercedes de Russell. O número tem certa magia. O melhor desempenho de uma equipe na história é o da McLaren em 1988, com 15 vitórias em 16 etapas. É o maior percentual já registrado numa única temporada, 93,75% do total de GPs. A Red Bull igualou a marca, ainda que em campeonatos diferentes. O resto que lute.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS de Fernando Alonso, claro, quatro pódios em cinco corridas, sempre em terceiro lugar. Com 75 pontos, é o terceiro colocado no campeonato — o “melhor dos outros” — e responsável por 73,5% dos pontos da Aston Martin. Está nas nuvens. “Não é que voltei a ser o que era antes”, falou. “Sempre fui o mesmo, a diferença é que agora estou numa equipe que acredita em mim e no que eu digo e faço.” O recado foi enviado para McLaren e Renault, em especial.

Alonso, terceiro de novo: só sorrisos

NÃO GOSTAMOS do evento como um todo. Público disperso, arquibancadas vazias na sexta e no sábado, asfalto refeito mas ainda ruim, traçado desinteressante, cafonice espalhada por todos os cantos. Tem gente que insiste no papo de que americano sabe fazer espetáculo. Sim, sabe. Mas americano também é muito bom em fazer espetáculo ruim, forçado, artificial. Corrida de carro não é circo. Nem parque de diversões.