Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM À TARDE

A IMAGEM DA CORRIDA SÃO PAULO (peso pesado) – Olhem bem para esse pódio aí em cima, a imagem que escolhi como mais marcante para o GP do Canadá. É uma foto comum, convencional. Do ponto de vista estético e artístico, nada demais. Porém… Porém aí tem tem 176 vitórias e 11 títulos mundiais. Dos […]

A IMAGEM DA CORRIDA

Alonso, Newey, Verstappen e Hamilton: maior pódio da história

SÃO PAULO (peso pesado) – Olhem bem para esse pódio aí em cima, a imagem que escolhi como mais marcante para o GP do Canadá. É uma foto comum, convencional. Do ponto de vista estético e artístico, nada demais. Porém…

Porém aí tem tem 176 vitórias e 11 títulos mundiais. Dos pilotos. Um pódio laureadíssimo. Desconfio (desculpem, não fui atrás dessa estatística) que o pódio com mais vitórias acumuladas em todos os tempos. As 103 de Hamilton ajudam bastante nessa conta. Com mais 32 de Alonso e 41 de Verstappen, não lembro de outro com tantos triunfos. Se deixei escapar algum, me corrijam.

Mas quero falar, mesmo, é de Adrian Newey, que a Red Bull mandou lá para cima para receber o troféu da equipe vencedora. Porque é dele…

O NÚMERO DO CANADÁ

200

…vitórias alcançaram os carros concebidos pelo projetista na F-1. Assim, nosso pódio lá do alto bate em 376 vitórias. E, nesse caso, é sem dúvida o mais vitorioso de todos os tempos. Vamos falar de Newey a seguir.

Engenheiro aeronáutico que começou na Fittipaldi em 1981, Newey, 64 anos, passou com sucesso pela Indy (conquistou os títulos de 1985 e 1986 e as 500 Milhas de Indianápolis nos dois anos), voltando à Europa no final da década. Seu primeiro grande carro de F-1, embora não tenha ganhado corrida nenhuma, foi o March de 1988. Ficou na equipe, rebatizada como Leyton House, até 1990. Nesse período, o time levou quatro taças para sua sede, três de Ivan Capelli (terceiro na Bélgica e segundo em Portugal em 1988 e segundo na França em 1990) e uma de Maurício Gugelmin (terceiro no Brasil em 1989).

Mas foi na Williams que Newey se consagrou. Ficou na equipe de 1991 a 1997 e seus carros ganharam, nesse período, nada menos do que 59 GPs. A primeira vitória foi de Riccardo Patrese no México em 1991. Foram cinco títulos mundiais de construtores (1992, 1993, 1994, 1996 e 1997) e quatro de pilotos (Nigel Mansell/1992, Alain Prost/1993, Damon Hill/1996 e Jacques Villeneuve/1997).

Contratado pela McLaren a peso de ouro, serviu ao time de Ron Dennis de 1998 a 2005, assinando os projetos dos carros que, nesse período, venceram 41 provas e conquistaram as taças de 1998, entre as equipes, e de 1998 e 1999 entre os pilotos, com Mika Hakkinen.

Então, veio a Red Bull. Seu divórcio da McLaren foi rumoroso e Dennis não queria deixá-lo ir embora de jeito nenhum. Acabou saindo, juntando-se aos austríacos em 2006, a segunda temporada do time dos energéticos na F-1 — depois da compra da Jaguar em 2005. Está lá desde então. São dele os carros que levaram Sebastian Vettel ao tetracampeonato (2010 a 2013) e Max Verstappen ao bi (2021 e 2022). Nesse período, além dos seis títulos de pilotos, foram mais cinco entre as equipes. Facilito as contas para vocês: até esta data, são 11 taças de construtores e 12 de pilotos. A pilha aumentará no fim do ano, claro.

Na Red Bull, ontem, Newey chegou à 100ª vitória. Com as 59 da Williams e as 41 da McLaren, são 200 na F-1.

Se há um gênio na categoria hoje que não pilota carro nenhum, é Newey. Abaixo, um raio-X de suas vitórias, ano a ano, com negrito nos anos em que foi campeão ou de construtores, ou de pilotos:

NA WILLIAMS (59) – 7 em 1991; 10 em 1992; 10 em 1993; 7 em 1994; 5 em 1995; 12 em 1996; 8 em 1997

NA McLAREN (41) – 9 em 1998; 7 em 1999; 7 em 2000; 4 em 2001; 1 em 2002; 2 em 2003; 1 em 2004; 10 em 2005

NA RED BULL (100) – 6 em 2009; 9 em 2010; 12 em 2011; 7 em 2012; 13 em 2013; 3 em 2014; 2 em 2016; 3 em 2017; 4 em 2018; 3 em 2019; 2 em 2020; 11 em 2021; 17 em 2022; 8 em 2023

Verstappen igualou o número de vitórias de Senna e embora só tenha tocado no assunto porque alguém na coletiva perguntou, sua resposta merece, óbvio, um registro. “Não gosto de comparar gerações diferentes. Quando eu era moleque e corria de kart, só queria chegar à F-1. Nunca imaginei chegar a 41 vitórias. Empatar com Senna é incrível e me sinto muito orgulhoso. Mas espero que não pare por aqui”, foi o que disse.

Max não é dado a grandes arroubos emotivos, como se sabe. Sua relação com Senna e a história do piloto brasileiro é nula. Ele nasceu três anos depois da morte de Ayrton. E mais um detalhe, que não deve passar despercebido: Max é um sujeito acostumado com as vitórias. Ganhar faz parte de sua rotina. Uma a mais, uma a menos, é tudo igual. Não esperem dele, nunca, que se debulhe em lágrimas por um resultado, um título. É o jeito dele. Ponto.

No mais, ainda na corrida de ontem, um fato que só foi revelado bem tarde da noite: Verstappen atropelou um passarinho. Seus restos mortais foram encontrados atrás do duto de freio dianteiro direito.

A FRASE DE MONTREAL

De Hamilton, sobre Alonso:

“Isso aí é coisa da idade. As reações ficam mais lentas.”

Hamilton deu uma zoada em Alonso quando alguém perguntou a ele como tinha feito para ultrapassar o espanhol na largada. Fernando estava ao seu lado na zona mista de entrevistas e gargalhou com gosto. “Espera a Áustria, daqui a duas semanas”, falou, dando um tapa no ombro do ex-companheiro de McLaren. Depois, Lewis foi elegante: “Para mim, é uma honra estar no pódio ao lado de campeões icônicos como esses dois aqui”, disse, apontando para o veterano da Aston Martin e para o jovenzinho da Red Bull que está perto de seu terceiro título mundial.

Leclerc e Sainz: bom resultado, no fim das contas

Sobre a corrida em si, acho que não faltou falar muita coisa no textão de ontem. Talvez tenha sido econômico nos elogios à estratégia da Ferrari, que não parou no safety-car, fez apenas um pit stop com seus dois carros e converteu um décimo e um 11º no grid em um quarto e um quinto lugares na corrida. Assim, que fique consignado que este espaço reforça os elogios à estratégia da Ferrari. Até a próxima cagada, claro.

Com 22 pontos marcados por seus pilotos, o time italiano somou mais do que Mercedes e Aston Martin, que fizeram, respectivamente, 15 e 20. Isso não acontecia desde o GP do Azerbaijão, que teve Sprint. Em Baku, a Ferrari marcou 36, contra 20 da Mercedes e 22 da Aston Martin.

Stroll: nono lugar arrancado a fórceps

Falando em Aston Martin, uma menção à combatividade de Lance Stroll. Ele pode não encher os olhos de ninguém, mas não se deve negar ao canadense a qualidade de lutar até o fim. Ele conseguiu o nono lugar ao ultrapassar Bottas a poucos metros da linha de chegada. A diferença entre os dois foi de 0s030. O rapaz não desiste fácil.

O torcedor gostou. Afinal, Lance corria em casa. Segundo os organizadores, foram 345 mil pessoas nos três dias do evento no circuito Gilles Villeneuve.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS muito do sétimo lugar de Alexander Albon, injustamente dispensado pela Red Bull no final de 2020 depois de uma temporada e meia pela equipe que esteve longe de ser um fiasco. Em 2019, disputou nove GPs (subiu da Toro Rosso para o lugar de Gasly) e marcou 76 pontos. Nas mesmas nove provas, Verstappen fez 97. Em 2020, o placar foi favorável ao holandês, 214 x 105, mas Albon não cometeu nenhum erro idiota e disputava seu primeiro campeonato inteiro pelo time principal. Ficou um ano fora da F-1, voltou na temporada passada para correr na Williams e fez o que fez em Montreal. Hoje, na Red Bull, provavelmente estaria conseguindo mais do que Pérez.

NÃO GOSTAMOS da corrida de George Russell, que bateu sozinho quando estava em quarto lugar, esteve perto de desistir, mas conseguiu voltar e entrar na zona de pontos. Acabou abandonando com problemas nos freios. “Foi um erro meu [a batida] e por causa dele jogamos 12 pontos no lixo”, disse o inglês. A questão dos freios, segundo a equipe, não teve nada a ver com o incidente no início da prova. Mesmo assim, George perdeu, de fato, uma boa chance até de lutar pelo pódio com Hamilton.