Blog do Flavio Gomes
F-1

RED BULL RB20: UMA FRASE DE CADA

SÃO PAULO (simples e direto) – Durou exatamente meia hora a apresentação online do novo carro da Red Bull, o RB20. Foi em Milton Keynes, onde fica a fábrica do time. Fiz questão de assistir tudo em busca de sinais. Traduzindo: queria ver como Christian Horner seria tratado. Pois ele aparece, e bastante, no clipe […]

SÃO PAULO (simples e direto) – Durou exatamente meia hora a apresentação online do novo carro da Red Bull, o RB20. Foi em Milton Keynes, onde fica a fábrica do time. Fiz questão de assistir tudo em busca de sinais. Traduzindo: queria ver como Christian Horner seria tratado.

Pois ele aparece, e bastante, no clipe mostrado no início da cerimônia, que celebrou os 20 anos da “cultura Red Bull de corrida”, como a empresa definiu suas duas décadas de F-1. A estreia se deu em 2005 e esta será a vigésima temporada dos rubrotaurinos na categoria.

Horner também esteve presente ao evento, que foi dos mais enxutos. Ele, Adrian Newey, Pierre Waché (francês, diretor-técnico da equipe) e os pilotos, além de David Coulthard, primeiro contratado pela marca de energéticos e seu embaixador até hoje. Logo de cara, a apresentadora mostrou a primeira taça conquistada pela Red Bull, com o terceiro lugar do escocês em Mônaco em 2006. Ao lado dela, o troféu de campeão mundial de Max Verstappen.

A transmissão pelo YouTube foi acompanhada, no auge, por 150 mil pessoas simultaneamente. Coulthard lembrou os primeiros passos da equipe e elogiou Newey, “que ainda usa lápis para desenhar” os carros que dominaram as duas últimas temporadas. Horner lembrou os recordes obtidos em 2023 — o mais impressionante, de 21 vitórias em 22 corridas — e disse que foi “um ano mágico”. Newey emendou: “Foi uma surpresa para a gente, porque o carro era só uma evolução do de 2022. Ficamos chocados”.

Horner, alvo de investigações internas da Red Bull por “comportamento inadequado”, ainda disse que a equipe soube ser resiliente depois de conquistar quatro títulos com Vettel, de 2010 a 2013, tendo de aguentar o domínio da Mercedes. “A partir de 2014, não tivemos um motor que nos permitisse lutar pelo campeonato. Ainda assim, ganhamos corridas. Quando tivemos de novo um motor competitivo, voltamos a vencer”, falou, espetando a Renault e exaltando a Honda, sem citar nenhuma das duas.

Às 16h54, horário de Brasília, apareceram o carro e Verstappen ao lado de Sergio Pérez. Junto deles, Horner de novo. Cada um disse exatamente uma frase. “É sempre legal ver um modelo novo, mas de minha parte só estou pensando nos testes do Bahrein, para entender o carro e começar a trabalhar”, falou o holandês. “Deve ser outra grande temporada”, acrescentou o mexicano. “O carro é uma evolução do que tivemos no ano passado, mas com uma abordagem agressiva, nada conservadora”, completou o dirigente.

E a solenidade terminou com um breve vídeo do RB1 pilotado por Coulthard andando ao lado do RB20, com Verstappen, em Silverstone, na chuva. Ponto final, transmissão encerrada.

Achei pouco, e fui atrás de gente que pudesse me dar mais detalhes sobre… tudo. Não conheço muitas pessoas na Red Bull de hoje, e depois de pedir alguns contatos a amigos, me passaram o telefone de um técnico — não sei bem qual sua área de atuação — que me deu breve entrevista. Pediu que seu nome não fosse revelado, e é claro que concordei em omitir sua identidade. Para todos os efeitos, apelidei o indigitado de “Peter Littlebox”. Segue a conversa.

O ano passado foi excepcional. Acho que é justo perguntar se vocês consideram possível repetir os resultados de 2023.
Peter Littlebox – A equipa é muito realista. Sabemos que a última época foi acima da média e que é difícil fazer tudo igual. Mas vamos nos esforçar para tal. Se conseguirmos, podemos considerar que fomos bem-sucedidos.
Mas aquele número de vitórias, as boas sequências… Não acha que a concorrência em 2024 pode vir mais forte?
Peter Littlebox – No desporto, as previsões vão por terra quando as competições começam. Conhecemos a força de nossos adversários. O que conseguimos em 2023 foi graças ao trabalho, não à sorte. Se ferradura trouxesse sorte, burro não puxava carroça.
No ano passado pudemos observar características muito próprias do time. Quais o senhor considera mais fortes, decisivas mesmo?
Peter Littlebox – A velocidade, antes de mais nada. Temos de atuar sempre com velocidade. Velocidade e consistência. E equilíbrio. Saber quando acelerar, saber quando dosar o ritmo. Essa é a chave para que nossos putos consigam os resultados que pretendemos. E não podemos cometer erros. Cometemos alguns na última época, erros individuais que não podem se repetir.
Em classificações, por exemplo…
Peter Littlebox – Exacto. Em algumas situações fomos eliminados precocemente. Mas prefiro não citar nomes.
Haveria alguma rivalidade interna na equipe?
Peter Littlebox
– Aqui falamos pouco e trabalhamos muito. A galinha que canta como o galo corta-lhe o gargalo. Temos de manter o bom ambiente.
Falando nisso, os últimos acontecimentos abalaram o moral do time?
Peter Littlebox
– Acho que não percebi o que estás a perguntar…
Falo desses episódios rumorosos envolvendo pessoas da alta cúpula da organização…
Peter Littlebox – Continuo sem perceber exactamente, mas para não alimentar mexericos, digo sempre: a roupa suja lava-se em casa. No mais, como dizemos, mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo.
O senhor diria que, no geral, o que vimos hoje é uma evolução ou uma revolução do que foi apresentado no ano passado?
Peter Littlebox – Não faria sentido mudar radicalmente o que pensámos e executámos em 2023. Sabemos a direção a seguir. Temos de fazer tudo com calma. Mais vale um pé no travão que dois no caixão, é o que digo sempre.
Nas últimas semanas, um rival direto fez uma contratação bombástica…
Peter Littlebox
– Pois fizeram muito bem. Com vinagre não se apanham moscas.