Blog do Flavio Gomes
F-1

WILLIAMS FW46: CARRO DE OUTLET

SÃO PAULO (tem 39?) – Se você for a Nova York e quiser comprar tênis da Puma, dirija-se ao número 609 da Quinta Avenida. Fica pertinho do Rockefeller Center, na esquina da Rua 49, no mesmo quarteirão da loja de sapatos Aldo e da Intimissimi, que vende lingerie italiana. Se der sorte, perto das chuteiras […]

SÃO PAULO (tem 39?) – Se você for a Nova York e quiser comprar tênis da Puma, dirija-se ao número 609 da Quinta Avenida. Fica pertinho do Rockefeller Center, na esquina da Rua 49, no mesmo quarteirão da loja de sapatos Aldo e da Intimissimi, que vende lingerie italiana. Se der sorte, perto das chuteiras do Neymar e das camisetas do City, do Milan e do Palmeiras — que não tem Mundial — é capaz de encontrar um carro de F-1. Ou um carro fake de F-1, para ser mais preciso. Que, pelo menos, estará pintado com as cores que a Williams vai usar neste ano.

Foi nessa loja, em meio a pares de tênis coloridos, meias, agasalhos e moletons, que a equipe que era inglesa e hoje é americana apresentou o FW46. Que na verdade não era o FW46, mas seu “livery”, que a gente traduz grosseiramente por “pintura” no Brasil, na falta de palavra melhor para descrever “padrão gráfico/estético/publicitário” adotado para decorar um carro de F-1.

“Vejo a Williams. Ela é azul”, é o que diria Yuri Gagárin se fosse escalado pela TASS para cobrir o lançamento do automóvel fajuto, que serviu, basicamente, para apresentar o novo patrocinador máster do time, a Komatsu. É máster, mas até onde compreendi não significa que teremos de chamar a Williams de “Komatsu-Williams”, “Williams-Komatsu” ou algo do gênero. Os japoneses — a Komatsu é japonesa — são mais contidos que a Stake, a Visa e a Kick, marcas que aparecerão batizando carros e equipes em 2024.

Aliás, essa gigantesca companhia, segundo o press-release que recebi, já patrocinou a Williams nos anos 80 e 90 e fez até peças de câmbio dos carros campeões de 1996 e 1997. Eu não lembrava. “Com operações em mais de 140 países, a Komatsu é uma provedora global de equipamentos pesados premium, serviços e soluções. A empresa introduziu o primeiro caminhão basculante autônomo do mundo em 2008”, informa o texto. Serviços e soluções. Um grande mistério para mim, hoje todo mundo provê serviços e soluções. A Komatsu faz caminhões, tratores e máquinas gigantes. Pronto.

Os pilotos, ah, os pilotos. Como todas as outras, são os mesmos do ano passado: Logan Sargeant e Alexander Albon. Motores Mercedes. O nome é tradicionalíssimo: FW de Frank Williams, 46 por ser o 46º carro da equipe desde que adotou a nomenclatura que traz as iniciais de seu fundador.

Seguindo na nossa missão jornalística de entrevistar pessoas ligadas às equipes no dia dos lançamentos, fui atrás de uma figura de proa da Williams que hoje está meio afastado do dia a dia da fábrica — “só coloco meu dinheiro na poupança”, me disse, porque não confia em fundos de investimento. Chamá-lo-ei de “Patrício Cabeção”, uma vez que ele pediu para não ser identificado.

Quais suas primeiras impressões do novo carro?
Patrício Cabeção – Ele me parece tão ruim quanto os últimos.
Não seria uma visão um pouco pessimista? A equipe melhorou na temporada passada.
Patrício Cabeção – Pior era impossível. O problema desses americanos é que o modelo de carro para eles é SUV, caminhonete de agroboy e aquele horror que se chama Tesla. Sou de outra escola: Jaguar, Rolls-Royce, Aston Martin…
Bem, os tempos mudaram. Estamos na era dos motores elétricos e híbridos, há uma preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade.
Patrício Cabeção –
Se eles se preocupassem com essas coisas não apresentariam um carro numa loja de tênis fabricados por trabalhadores escravizados na Ásia.
As empresas hoje garantem que aplicam os conceitos de ESG, talvez o senhor não esteja acompanhando…
Patrício Cabeção –
O que é ESG? No caso desse carro aí deve ser “esquisito e sem graça”. Hahaha! Gostei disso: esquisito e sem graça!
O senhor foi consultado por alguém na fase de projetos?
Patrício Cabeção –
Sim, mas nada do que sugeri foi feito. Dei a eles um projeto de suspensão ativa que usamos no passado e funcionou muito bem. Disseram que não tinham dinheiro. Passei o contato de alguns amigos árabes que nos ajudaram lá nos anos 70 e falaram que o cara que indiquei já tinha morrido. Achei estranho, porque vi o nome dele no Big Brother aí do Brasil.
O senhor assiste a esse programa?
Patrício Cabeção –
Sim, minha ex-esposa emprestou a senha do Globoplay.
Do ponto de vista da aerodinâmica, quais foram as diretrizes dos engenheiros nesse projeto?
Patrício Cabeção –
Melhorar os fluxos de ar, foi o que me disseram. Parece que conseguiram. Tiraram as viseiras dos capacetes para que os pilotos andem de cara para o vento.
Bem, já que falou dos pilotos, gosta deles?
Patrício Cabeção –
O menino que pinta o cabelo é bom. O outro, que tem nome de carro, é muito ruim. Aliás, tem nome de carro ruim e feio. Logan é carro de Uber.
Por fim, o novo patrocinador parece forte e promete uma colaboração técnica com a equipe.
Patrício Cabeção –
São ótimos. Vou lhe mandar uma foto do que eles fazem que inspirou esse carro aí. Você usa e-mail?

Pouco depois chegou na minha caixa postal a foto abaixo. Entendo as aflições do velho amigo.