Blog do Flavio Gomes
F-1

ALÁ MEU BOM ALÁ (4)

SÃO PAULO (vão se acostumando) – Vamos lá, aos números logo para não esquecer nada: 56 vitórias na carreira, nove seguidas, segunda em duas corridas neste ano. Max Verstappen confirmou todas as previsões, hoje muito fáceis de fazer, e venceu o GP da Arábia Saudita em Jedá. Sergio Pérez ficou em segundo, repetindo a dobradinha […]

Absoluto: Verstappen chega a 56 vitórias na carreira

SÃO PAULO (vão se acostumando) – Vamos lá, aos números logo para não esquecer nada: 56 vitórias na carreira, nove seguidas, segunda em duas corridas neste ano. Max Verstappen confirmou todas as previsões, hoje muito fáceis de fazer, e venceu o GP da Arábia Saudita em Jedá. Sergio Pérez ficou em segundo, repetindo a dobradinha da Red Bull na abertura do campeonato, no Bahrein. O domínio da equipe é absoluto e humilhante para o resto do grid. Charles Leclerc, da Ferrari, foi o terceiro colocado. Verstappen lidera o Mundial com 51 pontos, seguido por Checo, com 36, e Leclerc, com 18. Entre as equipes, a Red Bull tem 87, à frente de Ferrari (49) e McLaren (28). E do resto.

Mas o personagem do dia acabou sendo Oliver Bearman, mal saído da adolescência. Estreou pela Ferrari no lugar de Carlos Sainz, que teve uma crise de apendicite ontem e foi submetido a uma cirurgia. Largou em 11º e terminou em sétimo. Contou com apenas um abandono entre os que estavam à sua frente na largada, Lance Stroll, que bateu sozinho. Passou quem deu para passar. Não cometeu erros. E, no final, lidou bem com a possibilidade de uma possível pressão de Lando Norris e Lewis Hamilton, que tinham pneus melhores que os seus e ameaçavam chegar para uma briga indesejável. Apertou o pé, manteve o ritmo e evitou a briga. Sua melhor volta na corrida foi a última, mostrando que tinha alguma reserva, ainda. Ao final, disse que ficou “um pouco cansado”.

E vamos ao GP, que o dia é curto e o tempo, idem!

Largada limpa: Max salta na frente e vai embora

A largada foi limpa e cristalina. Verstappen pulou na ponta, Pérez tentou vir junto, mas Leclerc se segurou em segundo. Bearman se manteve em 11º, embora tivesse pneus macios para tentar ganhar alguma posição no início – só ele e Bottas largaram com esses; os demais, com médios. Era para dar um salto, mas foi cauteloso. Chegou a ser ultrapassado por Albon, mas o tailandês se atrapalhou na primeira curva e o garoto recuperou a posição.

A única nota dissonante neste mar de tranquilidade foi a Alpine chamar Gasly para os boxes, depois que ele mesmo relatou um problema no câmbio. Abandono na primeira volta. Uma tragédia, a Alpine de 2024. E teve também uma suposta largada queimada de Norris, devidamente alcaguetada por Russell. Mais tarde a direção de prova anunciou que não puniria o inglês da McLaren, porque ele deu um pulinho com o carro, é verdade, depois parou e largou direitinho. Não levou vantagem alguma.

Na turma da ponta, Piastri passou Alonso e ganhou o quarto lugar. Foi a única movimentação relevante no comecinho da prova. E na quarta volta Pérez passou Leclerc para assumir o segundo lugar. Uma nova dobradinha da Red Bull começou a ser rascunhada no guardanapo de Helmut Marko, que tomava um café no escritorinho da equipe depois de afirmar, à TV alemã, que iria continuar na casa. Passou essa informação à imprensa depois de se reunir com o CEO da empresa, Oliver Mintzlaff, que entrou no circuito para dar uma acalmada na crise.

Na sétima volta, o único safety-car da corrida foi acionado quando Stroll deu de frente numa barreira de proteção na curva 22. Pouco antes ele tocou a roda esquerda no muro, quebrando a suspensão. Barbeiragem pura.

Quase todo mundo aproveitou o ensejo para ir aos boxes e colocar pneus novos. Com muita movimentação no pitlane, algumas paradas pareceram lentas. Mas isso aconteceu porque para liberar os pilotos os mecânicos precisavam, claro, ficar atentos a quem estava passando por ali.

Hülkenberg: pontinho graças à ajuda de Magnussen

Apenas quatro pilotos não fizeram pit stop: Norris, Hamilton, Hülkenberg e Zhou. Para Nico, deu muito certo. Ao longo da corrida ele contou com seu companheiro Magnussen atrapalhando meio mundo para que ele, quando fizesse sua parada, conseguisse entrar nos pontos. E foi exatamente o que aconteceu.

Como não parou, Landinho assumiu a ponta, com Verstappen em segundo e Hamilton em terceiro. Os pneus duros foram escolhidos por aqueles que pararam. A relargada aconteceu na volta 10. Pouco depois Bearman fez uma linda ultrapassagem sobre Tsunoda, se livrando do japonês da Quer Parcelar? e partiu para cima de Zhou, em décimo. O chinês tinha largado em último, mas era um dos que não tinham ido para os boxes no safety-car, daí sua boa colocação. Na 13ª volta, Verstappen retomou a liderança passando por Norris com enorme facilidade. Pérez passou Hamilton e foi para terceiro. A dupla L & L, Lando e Lewis, como Zhou, não tinha trocado pneus. Bearman se livrou rápido da Sauber e foi para décimo, entrando na zona de pontos.

Quem tomou um pênalti, coitado, foi Pérez. Sem culpa alguma. No pit stop, ele foi liberado em situação perigosa, quase batendo em Alonso. Os comissários lavraram a multa de 5s. Magnussen levou 10s, por ter batido em Albon. Mais tarde tomaria mais 10s por passar Tsunoda por fora da pista. Não mudaria a cotação do rial, a moeda da Arábia Saudita, mas moldaria o resultado final da equipem, uma vez que, atrapalhando todo mundo, ajudaria Hülkenberg.

Checo não enrolou muito, passou Norris e voltou à segunda posição. Sua missão, agora, era chegar mais de 5s à frente do terceiro colocado, que àquela altura ninguém sabia direito quem seria. Para a dupla da Red Bull, não importava muito. O mexicano não teria muita dificuldade para compensar a punição, como se veria ao final da corrida.

Bearman: melhor estreia desde Felipe Nasr, 5º na Austrália em 2015 com a Sauber

Bearman passou Hülkenberg na 21ª volta e foi para nono. O duelo mais interessante da corrida naquele momento era pelo quinto lugar, com Hamilton se segurando à frente de Piastri graças a uma configuração de seu carro que lhe dava uma boa velocidade nas retas. Nas curvas, ele que se virasse. Na metade da prova, Verstappen, Pérez, Norris, Leclerc, Hamilton, Piastri, Alonso, Russell, Bearman e Hulk eram os dez primeiros. Charlinho finalmente passou Norris na volta 27 e pulou para terceiro.

Na frente, Verstappen passeava com gigantesca tranquilidade, se divertindo em fazer voltas rápidas em cima de voltas rápidas. Pérez estava mais de 8s atrás, na volta 33. Leclerc, em terceiro, aparecia só 10s depois.

Piastri só conseguiu superar Hamilton na volta 35, mas errou a freada e perdeu a posição de novo. Bearman, por sua vez, corria sozinho e recebia afagos da Ferrari. “Tá ótimo, menino, continua assim”, dizia seu engenheiro pelo rádio. “Vai poder jogar videogame mais uma hora hoje à noite.” A equipe estava de olho, mesmo, em Norris e Hamilton, que quando parassem voltariam atrás de Ollie com pneus novos. Aí sim a onça iria beber água. Ou, pelo menos, estaria com sede.

Lewis parou, ufa!, na volta 37. Colocou pneus macios para as 13 voltas finais da corrida. Voltou em nono, como se previa, atrás do estreante da Ferrari. Teoricamente teria tempo para descontar a diferença, que era de 8s, com borracha mais nova e aderente. Norris fez seu pit stop obrigatório uma volta depois. Retornou à frente de Lewis e atrás de Bearman. Como o #44 da Mercedes, foi para pneus macios.

Bearman, em sétimo, precisava torcer para que Hamilton e Norris se pegassem de tapa, para não ser atacado pelos dois nas últimas voltas. Ambos se aproximavam rapidamente, uma clara ameaça à sua ótima posição. Zhou, em décimo, era o único piloto na pista com os pneus da largada. Teria de parar, dando a chance a Hülkenberg de fazer um pontinho para a Haas, uma vitória para a mambembe equipe americana. E parou mesmo, na volta 43. Um pit stop demoradíssimo, jogando o coitado para o lugar de onde ele começou: último.

A estrada de Norris e Hamilton até Bearman era longa, mas os dois seguiam avançando para alcançar o garoto. Na volta 45, a diferença de Ollie para Lando era de 3s1, com Hamilton grudado nele. As câmeras da TV foram para os boxes da Ferrari e flagraram John Elkann, o CEO da marca italiana, dando um tapinha no ombro do apreensivo David Bearman, pai do guri. “Norris e Hamilton estão brigando, talvez a gente consiga”, avisou o engenheiro da Ferrari ao pimpolho, que continuava acelerando sem dar nenhum sinal de nervosismo. “Que tal mais duas horas de videogame?”

E não é que deu?

Resultado final: dois abandonos

Bearman terminou em sétimo, sem ter de passar pelo sofrimento de precisar se defender de uma McLaren e uma Mercedes com pneus macios. Foi uma festa danada na garagem da Ferrari, justíssima. Até Sainz, que arrancou o apêndice ontem e hoje já estava na pista para ver a corrida, aplaudiu.

O inglesinho se tornou o 352º piloto da história a marcar pontos na F-1 e o 79º a pontuar no GP na estreia. Aos 18 anos, dez meses e um dia de idade, entrou para as estatísticas como o terceiro mais jovem pontuador de todos os tempos. O recordista é Verstappen, sétimo na Malásia em 2015 pela Toro Rosso aos 17 anos, cinco meses e 29 dias de vida. Stroll é o segundo nessa lista de jovens pontuadores, com um nono lugar no Canadá em 2017 pela Williams. Tinha, na ocasião, 18 anos, sete meses e 13 dias de gloriosa existência neste planeta.

De quebra, Bearman ainda foi abraçado carinhosamente por Hamilton e ganhou de lavada o voto do amigo internauta, escolhido o “Piloto do Dia”.

Verstappen venceu com 13s643 de vantagem sobre Pérez. Leclerc fechou o pódio e ainda fez a melhor volta da corrida ficando com um ponto extra. Piastri, Alonso, Russell, Bearman, Norris, Hamilton e Hülkenberg terminaram na zona de pontos. Foi a 30ª dobradinha da história da Red Bull e o centésimo troféu que Max levou para casa.

Vai faltar estante na casa do moço.