Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE HOJE DE MADRUGADA

A IMAGEM DA CORRIDA SÃO PAULO (puxem o fio, puxem o fio que chega…) – Não consigo imaginar foto mais bacana para lembrar desse GP da Austrália do que essa aí em cima. Vejam como Sainz correu, exatos 16 dias depois de extrair o apêndice. E ganhou a corrida. Já falamos bastante dela, a corrida. […]

A IMAGEM DA CORRIDA

Sainz mostra o curativo da cirurgia a Norris: atuação heroica

SÃO PAULO (puxem o fio, puxem o fio que chega…) – Não consigo imaginar foto mais bacana para lembrar desse GP da Austrália do que essa aí em cima. Vejam como Sainz correu, exatos 16 dias depois de extrair o apêndice. E ganhou a corrida.

Já falamos bastante dela, a corrida. Sem Verstappen na pista, vimos mais sorrisos do que normalmente, todo mundo se sentiu no direito de sonhar com alguma coisa, e foi sonhando com a vitória que o espanhol se classificou muito bem e controlou a prova assim que Max saiu do caminho.

O triunfo de Carlos, “um desempregado no ano que vem”, em suas palavras, rendeu ótimas imagens. Teve muita festa no pódio, o abraço do pai, a comemoração da Ferrari, os cumprimentos de seu companheiro Leclerc. Fiquem com esta pequena galeria (cliquem nas fotos para vê-las em tamanho maior), que registra um dia histórico para o piloto. Voltamos na sequência com o assunto mais palpitante do pós-corrida, a punição a Alonso.

Para quem não acompanhou, na parte final da prova o espanhol da Aston Martin estava em sexto, sendo perseguido por Russell. O inglês da Mercedes tinha pneus um pouco mais novos. Fernando se defendia do jeito que dava, embora George não tivesse feito nenhuma tentativa real de ultrapassagem. Apenas chegava muito rápido, ameaçava com a asa móvel, aquelas coisas.

Na última volta, na curva 6, Alonso antecipou a freada e acelerou no meio da curva para sair melhor que seu rival, algo normalíssimo em qualquer corrida de qualquer categoria desde que o mundo é mundo. Russell se assustou com a aproximação repentina, saiu da pista, bateu no muro.

Os comissários chamaram os pilotos à torre. Depois de analisar os dados do carro de Alonso, aplicaram-lhe uma multa de 20s no tempo total de corrida, deslocando o piloto da sexta para a oitava colocação. A Aston Martin decidiu não apelar.

Veja aqui como se deu a batida:

A pancada de Russell no Instagram: clique no link para ver

Os homens da FIA informaram que Alonso foi punido por “pilotagem potencialmente perigosa”. Eis o texto da condenação:

A telemetria mostra que o piloto levantou levemente o pé do acelerador mais de 100 metros antes do que fizera em toda a corrida naquela curva. Também freou muito levemente num ponto onde usualmente não freava (embora tenha sido um toque tão leve no freio que não pode ser apontado como a razão principal para a diminuição de velocidade do carro). E reduziu marcha onde usualmente não reduzia, depois subiu a marcha de novo e acelerou para a curva antes de tirar o pé novamente e fazer a curva.

De acordo com artigo 33.4 do regulamento esportivo da F-1, “em nenhum momento um carro deve ser pilotado desnecessariamente de forma lenta, errática ou de maneira que possa ser considerada potencialmente perigosa para outros pilotos ou pessoas”. Foi esse artigo que determinou o tamanho da punição. De acordo com dados de telemetria analisados pelos comissários, na última volta Alonso passou pela curva 6 em velocidade 37 km/h mais baixa que na volta anterior.

Agora, a palavra de Alonso depois da punição, pelo Twitter (nunca vou chamar essa merda de “X”) e no Instagram:

A postagem de Alonso: “Surpreso”

O que Alonso diz é basicamente o que escrevi na caixona verde da postagem anterior a esta, no textão da corrida atualizado hoje por volta da hora do almoço, quando acordei. Repito a caixa e uso a mesma cor, para destacar bem suas palavras:

“Um pouco surpreso pela punição, porque na prática os comissários dizem como nós devemos nos aproximar das curvas ou como devemos pilotar carros de corrida. Não faz sentido achar somos capazes de fazer coisas erradas nessas velocidades. Acredito que se não houvesse brita naquela curva, em qualquer outra curva do mundo nós nunca seríamos investigados. Na F-1, com mais de 20 anos de experiência, com duelos épicos como em Ímola em 2005 e 2006, no Brasil em 2023, mudar o traçado, fazer linhas diferentes, sacrificar a velocidade de entrada para ter uma boa saída das curvas é parte da arte do automobilismo. Nós nunca pilotamos a 100% em cada volta e em todas as curvas de uma corrida, nós economizamos combustível, pneus, freios, e ser responsabilizado por não fazer todas as voltas da mesma maneira é um pouco surpreendente.”

Realmente, não tem cabimento. Não são os comissários que devem dizer como um piloto tem de pilotar, qual a melhor maneira de contornar uma curva, onde precisa frear, em qual momento convém acelerar.

Os pilotos dispõem de recursos — que qualquer um pode usar — para se defender, atacar, administrar uma posição, controlar uma corrida. É ridículo usar diferenças de parâmetros entre voltas diferentes para apontar a intenção de infração. Nenhuma volta é igual à outra. E, basicamente, é o que fizeram os homens da FIA no caso de Alonso. Disseram que a última volta de Alonso foi diferente das anteriores. E daí? Por acaso alguma outra havia sido igual?

Uma coisa é jogar o carro para cima do adversário como fez Schumacher com Villeneuve em Jerez/1997, enfiar o fé no breque no meio de uma reta (Verstappen com Hamilton em Jedá/2021), deixar bater na largada antes da primeira curva para ganhar um título (Senna com Prost em Suzuka/1990). Outra, bem diferente, é alternar estilos, tentar confundir o adversário, mudar a linha de contorno de uma curva, retardar uma freada, antecipá-la. Quem está atrás que se vire.

Citei mais cedo, cito novamente: lembram de Senna no GP de Mônaco de 1992 à frente de Mansell? Ele freava onde bem entendia e acelerava quando lhe desse na telha, porque sabia que a tarefa de passar era de quem estava atrás. Ninguém reclamou de nada. Muito menos Nigel. Que só não encheu a traseira do brasileiro porque estava atento e sabia que ele faria aquilo. E sabe por quê? Porque se estivesse na frente, faria exatamente o mesmo. Quem não viu, veja.

Russell se assustou quando viu o carro de Alonso crescendo, essa é a verdade. “Não estava esperando, me pegou de surpresa”, admitiu. No press-release da Mercedes, disse que “ficou claro que ele freou mais cedo que nas voltas anteriores e depois voltou a acelerar”. Ah, jura? Freou e voltou a acelerar? Que doideira, não? Queria o quê? Que freasse, saísse de sua frente e oferecesse a posição?

Erraram, os comissários. E erraram feio. Não estou aqui dizendo que Alonso é santo, que jamais faria algo parecido. Estou dizendo, apenas, que o que ele fez se chama automobilismo. Corridas de automóvel são assim. Parece que esses caras que julgam e decidem nunca pilotaram um carro na vida.

A FRASE DE MELBOURNE

“Vou tirar meu apêndice também, pra ver se ganho uma corrida.”

Lando Norris, terceiro colocado

O NÚMERO DA AUSTRÁLIA

14

…pódios tem Norris agora na F-1, mas sem vencer nenhum GP. Ele, assim, se torna recordista nessa estatística não muito abonadora. Estava empatado com o alemão Nick Heidfeld como maior frequentador de pódios sem-vitória da categoria.

Como vocês devem ter notado, o simpático e instagramável Norris foi personagem da frase e do número da corrida no nosso rescaldão, o que também é inédito, acho. Mas isso não tem importância. Vamos a algumas caixinhas coloridas para passar a régua nesse GP da Austrália.

NÃO DEU – Dissemos no textão da corrida. A quebra de Verstappen significou o fim de uma sequência de 43 provas sem abandonos, do GP da Emilia-Romagna de 2022 até o da Arábia Saudita deste ano. Dessas daí, venceu 35 e foi 39 vezes ao pódio. E fez pontos em todas. O recorde pertence a Hamilton, com 48 provas ininterruptas nos pontos entre os GPs da Inglaterra de 2018 e do Bahrein de 2020. Série interrompida pela covid, já que ele não participou da segunda prova do deserto naquele ano, chamado de GP do Sakhir. Dessas 48, Lewis ganhou 30 e foi 41 vezes ao pódio.

COINCIDÊNCIA – Alguém aí notou que nas três corridas que Sainz venceu Russell bateu? Aconteceu em Silverstone/2022, Singapura/2023 e hoje. Só para registrar.

TRAPALHÕES – Bottas e Zhou voltaram a ter problemas nos pit stops da Sauber. Quando não é a pistola pneumática que enrosca na roda, é porca que pula e sai voando, e essas trapalhadas aconteceram nas três corridas do ano nas paradas da dupla. A equipe pediu desculpas ao finlandês. “É duro ver que uma corrida que poderia ser muito boa não deu em nada”, lamentou o piloto. A Sauber está zerada no Mundial.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS de ver a Haas colocando seus dois pilotos nos pontos pela primeira vez desde o GP da Áustria de 2022 — naquela ocasião, Mick Schumacher terminou em sexto e Kevin Magnussen foi o oitavo. Sob a gestão de Ayao Komatsu, a equipe pontuou em duas das três corridas até agora. Com um limãozinho só, o japonês já fez um barril de limonada. “Ano passado a gente acordava domingo sabendo que o dia seria uma droga. Hoje, sabemos que temos a chance de lutar, pelo menos”, disse o dinamarquês, que terminou em décimo — uma posição atrás de Nico Hülkenberg.

NÃO GOSTAMOS da atuação apagadíssima de Sergio Pérez, que poderia ter aproveitado a ausência de Verstappen para mostrar algum serviço. Nada… Sexto no grid, ficou se arrastando no meio de carros que Max, normalmente, passa por cima. Terminou em quinto. Porque o companheiro abandonou. Se não fosse isso, chegaria exatamente onde começou. Um horror. Às vezes dá a impressão que o papel do carro da Red Bull no sucesso do holandês não é tão grande assim. Basta ver o que Checo faz com a mesma viatura.