Blog do Flavio Gomes
F-1

F-1 VAI VIRAR ESTOQUE?

SÃO PAULO (Max pirou) – Uma semana depois da reunião com as equipes na Suíça, onde em tese a história do motor-padrão tinha sido sepultada, Max Mosley fez publicar hoje no site da FIA um edital de concorrência buscando um fornecedor único de motores e sistemas de transmissão para a F-1 para os anos de […]

SÃO PAULO (Max pirou) – Uma semana depois da reunião com as equipes na Suíça, onde em tese a história do motor-padrão tinha sido sepultada, Max Mosley fez publicar hoje no site da FIA um edital de concorrência buscando um fornecedor único de motores e sistemas de transmissão para a F-1 para os anos de 2010, 2011 e 2012.

Como sempre, ele deixa uma brecha aberta para que as montadoras presentes na categoria tenham o direito de estampar suas marcas nos cabeçotes dos tais motores.

Mas vamos aos detalhes.

O edital afirma que a F-1 terá, a partir de 2010, um motor padronizado. O mesmo para todo mundo. O fabricante/fornecedor terá de ser capaz de entregar às equipes o conjunto completo ou, caso uma equipe assim prefira, os projetos, desenhos técnicos e especificações para que ela faça seu próprio motor. Trocando em miúdos, para a gente entender melhor… Digamos que a Lada apresente uma ótima proposta de um V8 bonitinho e ganhe a concorrência. A Lada terá de ser capaz de fornecer esses motores a todas as equipes. Mas se a Ferrari não quiser usar um motor Lada (acho difícil, mas…), ela poderá requerer aos russos o projeto completo, para fazer um motor idêntico em sua fábrica. O motor seria Ferrari “designed by Lada”.

Deu para entender?

OK, vamos em frente.

No caso dos sistemas de transmissão, eles terão de ser, sempre segundo a FIA, idênticos para todos. O fornecedor entrega e o cliente usa. Ponto final. Serão câmbios que terão de durar 6 mil km sem manutenção.

No caso dos motores, a FIA pede que as empresas que se candidatarem tenham em mente um campeonato que pode ter entre 18 e 20 corridas e ainda 30 mil km anuais de testes. E que sejam capazes de fornecer motores para um número que pode variar entre quatro e 12 equipes. Aqui, um detalhe: a entidade já está prevendo defecções.

A FIA diz ainda que os detalhes de projeto e construção dos novos motores serão passados a todas as equipes até 1º de maio do ano que vem, para que elas possam começar a projetar seus carros para 2010. E informa a entidade que o fornecedor tem de ser capaz de entregar motores a todo mundo até o dia 1º de novembro do ano que vem, para que possam começar os testes de pista.

Mais: o fornecedor não poderá usar a F-1 como peça de publicidade de seus produtos, nem associá-los ao Campeonato Mundial. Em outras palavras, para vocês entenderem melhor: se a Lada ganhar a concorrência, não vai poder colocar um anúncio no “Pravda” dizendo que seus carros usam a mesma tecnologia empregada na F-1. A relação será puramente comercial: a Lada faz o motor, as equipes compram, pagam os carnês em dia e vamos em frente.

Outro detalhe que deve estar deixando muita gente de cabelo em pé diz respeito a combustíveis e lubrificantes. Assim que o vencedor da concorrência concluir seu projeto, deve informar à FIA qual o tipo de gasolina ideal para seu funcionamento, assim como os lubrificantes. Feito isso, a FIA vai escolher um fornecedor único de gasolina e óleo para todas as equipes da F-1. Isso afeta diretamente Mobil, Shell, Petrobras e Elf, das que me lembro, que atuam na categoria como fornecedores e patrocinadores.

Há outros detalhes no edital de licitação, como peso máximo dos motores (100 kg), dos sistemas de transmissão (50 kg), adoção do KERS (sistema de reaproveitamento de energia) e manutenção da centralina única, que já é utilizada desde o início do ano.

Os prazos: até 7 de novembro, entrega das propostas; 10 de novembro, abertura dos envelopes; até 28 de novembro, resultado da concorrência, com definição do novo fornecedor único de motores e câmbios para a F-1 a partir de 2010.

Já tem gente gritando, claro. A Ferrari divulgou comunicado hoje com seus resultados financeiros deste ano (lucro de 70 milhões de euros até agora) e aproveitou para dizer, no “pé” do texto, que se a idéia do motor-padrão vingar, vai “reconsiderar sua presença neste esporte”. Ou seja: se esse negócio passar, cai fora. Ou, pelo menos, diz que cai.

Max endoidou de vez, ao que parece. O que pretende é uma espécie de Estoque de monopostos, ou uma GP2/A1 GP/Superleague de luxo, pelo menos no que diz respeito aos motores e câmbios. Às equipes restaria a incumbência de desenhar chassis e carrocerias.

O pau vai comer. Qual seria o interesse da Renault, por exemplo, em participar de um campeonato com um carro cujo motor, sei lá, é feito pela Lada em Togliatti? (No caso da Renault, até seria engraçado, afinal os franceses compraram 25% da Lada…) Ou da BMW em montar em seu chassi um motor fabricado, sei lá, pela Tata na Índia?

Vamos esperar pelos próximos capítulos, é o mais sensato.