Blog do Flavio Gomes
#69

MEU CORCEL AMARELO (2)

LONDRINA (fotografou?) – Fim de papo em mais um GP londrinense da Superclassic. E foi bem bacana. Domingo de sol, sem muito calor, feira de venda de usados na entrada do autódromo (vi uma Belina vermelha que… aaahhhhhh!), cheguei meio em cima da hora porque passei o início da manhã escrevendo sobre essa corrida de […]

LONDRINA (fotografou?) – Fim de papo em mais um GP londrinense da Superclassic. E foi bem bacana. Domingo de sol, sem muito calor, feira de venda de usados na entrada do autódromo (vi uma Belina vermelha que… aaahhhhhh!), cheguei meio em cima da hora porque passei o início da manhã escrevendo sobre essa corrida de araque da China, mas deu tudo certo.

Como contei ontem, o grid era invertido. Larguei em 17º de 20 carros, apenas com o Nenê (Topolino), o Fábio (Passat) e o Gulla (Puma) atrás de mim. Estou super-acostumado a largar atrás, então não me preocupei demais.

Era largada lançada, um negócio bem divertido. Quando apontamos na reta, dois a dois (bem mais disciplinados que os caras da Estoque!), as luzes vermelhas estavam acesas. Apagaram, fechei os olhos e acelerei o Corcel Pac-Man, aquele que vem comendo todo mundo.

E vem mesmo. Não sei bem em que posição passei na primeira volta, mas, para minha surpresa, acho que larguei bem, porque ficaram poucos carros na minha frente. Me encaixei atrás do Passat do Rogério, que também tinha feito ótima largada, e foi duro passar por ele, o cara não erra um centímetro em curva alguma.

Mas o motorzão do Pac-Man ajuda nesas horas. Depois de umas três ou quatro voltas estudando a conjuntura para não fazer merda, acabei consumando uma ultrapassagem muito criativa… Na reta dos boxes, mesmo, enfiando o pé no acelerador e indo frear lá onde dá um pouco de saudade de casa. De outro jeito não passava.

E quem veio atrás, na balada? O Braz, claro, meu adversário de DKW dos velhos tempos, com seu Passat bege #21. E fomos assim, um atrás do outro, eu sem saber direito em que posição estava, porque sempre aparecia um carro para ultrapassar, e eu não sabia se era gente que tinha largado lá na frente, por causa do grid invertido, ou se estava dando volta nos caras porque o Pac-Man é rápido pacas.

Meu manager Salomão, encarapitado numa colina, de óculos escuros e baleado por uma noite que deve ter sido bem longa, não me dava muitas informações. Fazia apenas um gesto que podia ser “vai, acelera”, como “vai, breca”, cada vez que eu passava. E, de qualquer forma, eu não enxergava direito porque meu banco era daqueles com proteção lateral.

E assim eu e o Braz fomos “fondo”, como se diz, até que de repente aparece no espelho o Puma vermelho do Gulla.

Achei esquisito, porque na minha cabeça de avestruz o Gulla era para estar na minha frente, e não me incomodei muito. Achei que tinha parado nos boxes e voltado, sei lá. Só fui descobrir depois da corrida que a gente estava disputando posição, porque ele tinha largado atrás de mim e ficou muito tempo no tráfego.

O Gulla me passou e não ofereci grande resistência, porque meu negócio era com o Braz. Aí, viemos os dois na balada do Puma vermelho, um carro bem rápido, que em Interlagos anda sempre entre os cinco primeiros. Ôpa, pensei, vai dar para brincar legal aqui. Achei que seria uma boa idéia tentar passá-lo e deixá-lo entre o Pac-Man e o Passat. Sou um grande estrategista. Aí fui atrás, e era um perereco, porque minhas almofadinhas escorregaram e eu já não enxergava a frente do carro. Não sabia onde começava o Pac-Man, se é que vocês me entendem. E quando chegava muito perto, parecia que o Pac-Man ia engolir o Gulla.

(Esqueci de dizer que a posição de dirigir estava bem melhor hoje, porque levei o travesseiro do hotel para colocar nas costas. Ficou bom, e já devolvi o travesseiro.)

Bom, lá pelas tantas, aparece o Puma preto do Carlão fumando, acho que ia quebrar. E quebrou mesmo. Só que, antes, ele deixou o carro no meio da reta dos boxes e deu sinal para o Gulla ir pela esquerda. Naquele momento, vi o Zonta em Spa, lembram? O Gulla era o Schumacher, de vermelho, e eu era o Hakkinen, de Pac-Man. Fui pela direita e passei os dois. E trouxe o Braz junto. Tem um vídeo disso; se me mandarem, coloco aqui.

E com o Hakkinen reencarnado no Pac-Man, fui embora, feliz porque achava que tinha apenas me divertido um pouco — para mim o Gulla estava fora da disputa, já. No fim, na última volta, pintou uma bandeira amarela na última curva, eu tirei o pé, mas acho que o Braz não viu e veio por dentro para passar. Para não depender de decisão da torre, nem dos comissários esportivos de Xangai, achei por bem resolver a parada ali mesmo. Enfiei segunda no Pac-Man, a frente levantou, tocou no paralama direito do Passat, quebrou minha lanterna, mas fiz a curva seguinte por dentro, meio na grama, e recebi a bandeirada 0s275 na frente dele. Achei legal.

Como sou uma zebra ambulante, não sabia em que lugar tinha terminado a prova. Quando estacionei no Parque Fechado é que me falaram. Fui terceiro na geral, atrás só do Nenê, que disparou lá na frente depois de largar em último, e do Gildo (Zé do Caixão), que largara em segundo no grid (ontem ele tinha quebrado). Terceiro na geral, e na soma dos pontos das duas corridas, terceiro também na Divisão 3, que não é minha praia, mas foi onde deu para correr neste fim de semana. Com um Corcel II que apelidei de Pac-Man, e que tem motor AP. Motor que, a pedidos dos meus mecânicos, não deve mais ser acompanhado da inequívoca expressão “argh”.

OK, é um motor legalzinho. Não tenho nada contra motor AP. Sou é contra seu uso em carros que em sua origem nunca foram empurrados por eles, como Puma, Corcel, Zé do Caixão, Karmann-Ghia, Chevette, Dodginho. Entendo a questão do custo/benefício, mas não gosto. Por isso meu Lada terá motor de Lada para toda a vida, assim como o #96 será DKW sempre. Não nego que foi bem legal andar com um carro forte e rápido, só que continuei morrendo de dó do #69 zoiudo, lá dentro dos boxes, vendo todo mundo se divertir sem poder fazer nada.

E foi isso.