Blog do Flavio Gomes
F-1

O QUE FALTA É PAIXÃO

SÃO PAULO (que céu é esse?) – Tudo que se ventilou durante o dia acabou confirmado de madrugada. Com aquela cara de “oh, como sofremos ao tomar essas decisões”, o presidente da Honda anunciou que a empresa está mesmo fora da F-1. Bem, quem sou eu para questionar decisões de empresas? Cada um sabe onde […]

SÃO PAULO (que céu é esse?) – Tudo que se ventilou durante o dia acabou confirmado de madrugada. Com aquela cara de “oh, como sofremos ao tomar essas decisões”, o presidente da Honda anunciou que a empresa está mesmo fora da F-1.

Bem, quem sou eu para questionar decisões de empresas? Cada um sabe onde dói o calo, como se diz. Mas está na cara que o desfecho dessa história apenas reforça as teses de Max Mosley. Fábricas de carros estão cagando para as corridas. São apenas um luxo para satisfazer egos, como patrocinar uma competição de pólo ou montar um stand opulento no Salão do Automóvel.

Não há comprometimento nenhum, porque essas companhias, hoje, não têm propriamente uma direção “humana” — um presidente/dono apaixonado por competições, uma trajetória, uma história nas pistas. Essas corporações têm conselhos de administração, acionistas e executivos engravatados indicados por head-hunters, gente que nunca entrou numa fábrica ou acelerou um carro. Não há paixão por nada. Se Soichiro Honda (acho que era esse o nome dele, o presidente da época de Senna) ainda fosse vivo, talvez essa deserção ridícula não acontecesse. Ele gostava de F-1, gostava de competir.

Digo que a deserção é ridícula porque se é verdade que os custos de uma temporada são altos, também é verdade que pouco representam no faturamento global da empresa (tanto que a Honda abriu mão de patrocínios nos últimos dois anos, uma cagada federal, porque a equipe deixa de ser auto-sustentável).

O fim da equipe significa o desemprego de quase mil pessoas. Na prática, é disso que se trata: demitir. As grandes montadoras encheram o rabo nos últimos anos, vendendo carros que nem água. Não sei se aumentaram os salários de seus operários por isso. Acho que não. Mas os bônus de seus executivos… Ah, esses devem ter sido generosos. Aí vem a crise. E ao primeiro sinal de dificuldades, o que se faz? Demite-se. Uma selvageria. Portanto, a carinha de triste do presidente da Honda não me comove.