Blog do Flavio Gomes
Gira mondo

GIRA MONDO, GIRA

SÃO PAULO (e daí?) – Isso deve ter algum significado histórico. Pela primeira vez em 77 anos a General Motors não foi a montadora que mais vendeu veículos no mundo. Divulgados os números de 2008, foram 8,35 milhões de trapizongas metálicas despejadas no mercado, contra 8,97 milhões de tranqueiras vendidas pela Toyota. Ambas apresentaram queda […]

SÃO PAULO (e daí?) – Isso deve ter algum significado histórico. Pela primeira vez em 77 anos a General Motors não foi a montadora que mais vendeu veículos no mundo. Divulgados os números de 2008, foram 8,35 milhões de trapizongas metálicas despejadas no mercado, contra 8,97 milhões de tranqueiras vendidas pela Toyota. Ambas apresentaram queda em relação a 2007, mas desde 1931, se minha calculadora estiver funcionando bem, que a GM não fechava um ano atrás de alguém (é óbvio que nos áureos tempos a Lada ocultava seus números para não deixar ninguém deprimido, então não conta).

A Toyota, dia desses anunciou que pela primeira vez em 15 séculos teve prejuízo — ou queda nos lucros, algo assim. A GM, no fim do ano, foi pedir arrego ao governo americano, porque estava para quebrar. Recebeu uma ajudinha de 13 bilhões de dólares. Das três grandes montadoras americanas, a única que ainda parece ter alguma saúde financeira é a Ford. A Chrysler, que parece bolinha de pingue-pongue, jogada de um lado para o outro, acaba de fazer uma parceria com a Fiat, depois de ter sido devolvida à sua origem ianque pela Mercedes — que sabe-se lá por quê, alguns anos atrás, resolveu se fundir com a fabricante de Dodge Dart.

Quem já foi para os EUA e quem assiste TV sabe que por aquelas bandas toda a produção dos últimos anos foi voltada para monstrengos enormes que consomem muito, têm lata de sobra e pneus gigantescos. Andam para lá e para cá em largas estradas e avenidas gastando muito mais do que deveriam, levando o motorista e vento na cabine, algo que qualquer romiseta faria do mesmo jeito. Um desperdício de combustível, espaço, borracha, tudo. É a obsessão americana por ultras e megas, tudo grande, monumental, exagerado.

O resultado dessa visão de mundo pouco razoável é a quebradeira geral de empresas que só sabem fazer porcarias sobre rodas. Será que ninguém nunca notou que concentrar marketing e produção em caminhões urbanos é uma burrice? Que andar sozinho numa pick up de dimensões continentais, que não cabe em lugar algum, torra gasolina que nem água, tem o triplo do tamanho que precisaria ter e é um estorvo até para ser destruída, representa uma agressão ao ambiente e ao bom-senso?

Eu só não digo bem-feito, porque grandes empresas, quando quebram, arrastam junto seus funcionários e geram desemprego e aflições. Não sei o que será da GM, da Chrysler, das outras. Mas me parece claro que essas bestas que dirigem tais companhias terão de mudar seus rumos e suas cabeças de melão. Baixar a bolinha, rever conceitos, fazer o que o presidente Barack Obama disse em seu discurso de posse: antes de pensar em mudar o mundo, mudar sua própria mentalidade.

Aliás, foi ótimo o discurso de Obama. É um cara bacana, decente, que vai fechar essa excrescência que é Guantánamo e devolver o Iraque aos iraquianos. Não fez um discurso belicista (OK, teve um “vamos derrotá-los” para o terrorismo internacional, mas foi meio retórico, apenas), injetou otimismo nas pessoas, deu uma esculachada básica nos gananciosos que transformaram a economia mundial em pó de merda, mostrou aos americanos, com delicadeza (e por isso pode ser que a maioria não tenha compreendido), que se existe um culpado pela situação em que o mundo está, este culpado é a América, como eles gostam de se chamar. Em inglês bem claro, ele poderia dizer apenas “fizemos um monte de cagadas e fodemos todo mundo, agora vamos tentar consertar”. Seria a mesma coisa, mas alguns não gostariam de ouvir.

Obama é um sujeito que vai entrar para a história e pela porta da frente, se for fiel ao que diz, e não pelos fundos como o idiota do Bush e sua secretária de Estado que tem a cara de Chuck, o boneco assassino. Vai ser interessante viver neste planeta nos próximos anos, para acompanhar de perto a trajetória dos EUA sob o governo de alguém que enxerga o mundo além do McDonald’s.

Talvez eu até renove meu visto.