A Toyota, dia desses anunciou que pela primeira vez em 15 séculos teve prejuízo — ou queda nos lucros, algo assim. A GM, no fim do ano, foi pedir arrego ao governo americano, porque estava para quebrar. Recebeu uma ajudinha de 13 bilhões de dólares. Das três grandes montadoras americanas, a única que ainda parece ter alguma saúde financeira é a Ford. A Chrysler, que parece bolinha de pingue-pongue, jogada de um lado para o outro, acaba de fazer uma parceria com a Fiat, depois de ter sido devolvida à sua origem ianque pela Mercedes — que sabe-se lá por quê, alguns anos atrás, resolveu se fundir com a fabricante de Dodge Dart.
Quem já foi para os EUA e quem assiste TV sabe que por aquelas bandas toda a produção dos últimos anos foi voltada para monstrengos enormes que consomem muito, têm lata de sobra e pneus gigantescos. Andam para lá e para cá em largas estradas e avenidas gastando muito mais do que deveriam, levando o motorista e vento na cabine, algo que qualquer romiseta faria do mesmo jeito. Um desperdício de combustível, espaço, borracha, tudo. É a obsessão americana por ultras e megas, tudo grande, monumental, exagerado.
Eu só não digo bem-feito, porque grandes empresas, quando quebram, arrastam junto seus funcionários e geram desemprego e aflições. Não sei o que será da GM, da Chrysler, das outras. Mas me parece claro que essas bestas que dirigem tais companhias terão de mudar seus rumos e suas cabeças de melão. Baixar a bolinha, rever conceitos, fazer o que o presidente Barack Obama disse em seu discurso de posse: antes de pensar em mudar o mundo, mudar sua própria mentalidade.
Aliás, foi ótimo o discurso de Obama. É um cara bacana, decente, que vai fechar essa excrescência que é Guantánamo e devolver o Iraque aos iraquianos. Não fez um discurso belicista (OK, teve um “vamos derrotá-los” para o terrorismo internacional, mas foi meio retórico, apenas), injetou otimismo nas pessoas, deu uma esculachada básica nos gananciosos que transformaram a economia mundial em pó de merda, mostrou aos americanos, com delicadeza (e por isso pode ser que a maioria não tenha compreendido), que se existe um culpado pela situação em que o mundo está, este culpado é a América, como eles gostam de se chamar. Em inglês bem claro, ele poderia dizer apenas “fizemos um monte de cagadas e fodemos todo mundo, agora vamos tentar consertar”. Seria a mesma coisa, mas alguns não gostariam de ouvir.
Obama é um sujeito que vai entrar para a história e pela porta da frente, se for fiel ao que diz, e não pelos fundos como o idiota do Bush e sua secretária de Estado que tem a cara de Chuck, o boneco assassino. Vai ser interessante viver neste planeta nos próximos anos, para acompanhar de perto a trajetória dos EUA sob o governo de alguém que enxerga o mundo além do McDonald’s.
Talvez eu até renove meu visto.