Blog do Flavio Gomes
#69

GUERRA À VISTA

NATAL (surpreendente) – Eu estava quietinho aqui, de férias, quando apareceu um estranho pacote na recepção do hotel endereçado a mim. Abri, desconfiado, pois não havia remetente no envelope pardo fechado com fita crepe. Podia ser antrax. Era uma fita de VHS. Arrumei um videocassete e consegui assistir. Fiquei estarrecido com as cenas que se […]

NATAL (surpreendente) – Eu estava quietinho aqui, de férias, quando apareceu um estranho pacote na recepção do hotel endereçado a mim. Abri, desconfiado, pois não havia remetente no envelope pardo fechado com fita crepe. Podia ser antrax. Era uma fita de VHS. Arrumei um videocassete e consegui assistir. Fiquei estarrecido com as cenas que se seguem, e que divido com vocês.

Os mais observadores haverão de perceber as semelhanças com as imagens que coloquei no ar aqui mesmo alguns dias atrás. Imagens que suscitaram ilimitada esculhambação deste que vos escreve e pilota por parte da blogaiada.

Mesmo diante de minha argumentação histórica, evocando o cerco a Leningrado e o eterno embate vodca x cerveja, fui condenado por vocês. Agora, todos terão de rever suas teses.

A fita VHS contém trechos que o outro vídeo não mostrava. É, digamos assim, uma edição sem cortes. Ampliada e revisada. Num DVD, diríamos que contém “extras”.

O mais importante, porém, não é notar que depois da espetacular ultrapassagem do Meianov sobre os dois minúsculos e ovalados agentes alemães com uma manobra ousada, arrojada, esteticamente impecável e absolutamente segura, mais um tedesco, este naturalizado brasileiro (o Puma #10 de Edson Furrier, motor alemão e casca tropical), foi devidamente engolido pelo combativo soviético. A ultrapassagem, portanto, foi tripla, e não dupla.

Mais importante do que isso foi o que descobri seguindo as instruções criptografadas que estavam dentro do envelope, que me foram traduzidas pelo tailandês que fazia os ovos mexidos no café da manhã. Elas diziam que se eu passasse a fita ao contrário numa determinada rotação, só encontrável no aparelho de videocassete do hotel, deparar-me-ia com gravíssimas revelações.

Fiz isso. Tentem fazer o mesmo. Há frases aparentemente proferidas de dentro da cabine do automóvel de Wolfsburg que poderão causar um sério incidente diplomático entre a URSS e a Alemanha, como “vou pegar aquele russo desgraçado”, “sai da frente, caixa de fósforos do Cáucaso”, “como pode ser tão feio?”, “vou transformar essa coisa numa salsicha”, “ah, se eu tivesse uma bazuca…”, “Lênin era um cretino, mesmo”, “ainda bem que teve glasnost e perestroika” e, por fim, o que pode ser uma atenuante, consegui entender algo como “como é que ele passou aí?”.

As frases estão em alemão com sotaque da Alsácia, talvez seja difícil para a maioria compreender. Mas se interessar a alguém, tenho a transcrição completa. Posso enviar pelo correio, junto com a transcrição do diálogo entre Barrichello, Jean Todt, a cadelinha Puffy e Enzo Ferrari na Áustria em 2002.