Blog do Flavio Gomes
Carros

INCLUAM A REVISTA

SÃO PAULO (com louvor) – As vastas legiões de seguidores da gloriosa indústria soviética ganharam uma nova guerreira, a blogueira Raíza Campregher. Que já estreia aqui em alto estilo, denunciando a ridícula revista “Mundo Estranho”, da Editora Abril (não diga…). Eu não conhecia o pasquim, mas ao entrar em seu site para ver do que […]

SÃO PAULO (com louvor) – As vastas legiões de seguidores da gloriosa indústria soviética ganharam uma nova guerreira, a blogueira Raíza Campregher. Que já estreia aqui em alto estilo, denunciando a ridícula revista “Mundo Estranho”, da Editora Abril (não diga…).

Eu não conhecia o pasquim, mas ao entrar em seu site para ver do que se tratava, encontrei, numa matéria sobre masturbação na Pré-história, a valiosíssima e profunda informação de que há uma estátua em Malta que “retrata um homem sentado descabelando o palhaço em 5000 a.C.”. Será que alguém acha isso realmente engraçado? Para qual público mesmo fala a “Mundo Estranho”?

Bem, a capa da edição deste mês versa sobre o que os brilhantes redatores consideram “as piores coisas do mundo”. O terceiro item, me conta a Raíza, trata do “carro mais tosco”. E, junto a uma foto do inesquecível Trabant, vem o texto que os estranhos do mundo certamente acharam o máximo:

“Para quem não se lembra, a Alemanha Oriental era a metade comunista da Alemanha que foi um país independente até 1989. Um dos ícones da indústria da Alemanha Oriental era o Trabant Sputnik, um carro que parecia mais uma carroça para os padrões ocidentais. Por causa da falta de aço nos países comunistas, o carro era fabricado com duroplast, uma resina feita de polpa de madeira, lã de ovelha e seiva de plantas! Seria, então, um belo carango ecológico? Que nada, apesar das matérias-primas naturais, as carcaças eram muito poluentes, pois não podiam ser recicladas. O motor, com só dois cilindros, também era um fiasco e produzia uma fumaça tóxica irrespirável. Felizmente, a fábrica fechou em 1991.”

Trabant Sputnik? De onde será que tiraram isso? Da Wikipedia? (Alguma dúvida? Olha aqui o que diz a mãe dos burros da internet: “The name Trabant means ‘fellow traveler’ (Satellite) in Latin; the name was inspired by Soviet Sputnik. The cars are often referred to as the Trabbi or Trabi, pronounced with a short a.” Aliás, se a foto da revista for a mesma que coloquei aí do lado, tiraram igualmente da Wikipedia. Haja preguiça.)

Ora, Trabi é Trabi. Qualquer um que conheça minimamente automóveis deveria saber disso. Sputnik é a puta que o pariu! E como é que chamam um Trabant de carroça? Porque não é de lata? O Duroplast foi uma grande criação da indústria alemã oriental, resistente, barato, fácil de fabricar e à prova de ferrugem. E me digam, estranhíssimos do mundo, qual carcaça de carro ocidental é reciclada? Vira tudo ferro-velho do mesmo jeito, não sejam ridículos.

O motor, por sua vez, não era fiasco algum, ao contrário. Eficientíssimo, dois tempos, refrigerado a ar. Uma obra-prima da engenharia, durava décadas. Vivia-se num mundo de verdade, lembrem-se disso, sem fartura, com dificuldades, sem essa orgia financeira que inundou o planeta de corollas e tucsons.

E esse “felizmente” na última frase é de causar estupor. Felizmente? Fecharam a Sachsenring e quantos operários perderam seus empregos? Quantas famílias foram afetadas? Como assim, “felizmente”? Cretinos…

Olha, depois de ler essas sandices, só posso concluir que o que produz “fumaça tóxica irrespirável” é burrice. Deve ser duro respirar na redação dessa revista. Que poderia se incluir na lista que propõe em sua capa.

E tenho dito.