Blog do Flavio Gomes
F-1

BARCELONETAS (2)

SÃO PAULO (tudo explicado) – Acabo de desligar o celular. Gola Profonda telefonou de fora do autódromo. De um “orellón”, como disse. “Não seria ‘orejón’?”, perguntei. “Não, na Catalunha é ‘orellón’ mesmo, com dois L e acento no ‘o'”, respondeu. Falou que lá dentro está tudo grampeado. Por isso não quis correr riscos. Se a […]

SÃO PAULO (tudo explicado) – Acabo de desligar o celular. Gola Profonda telefonou de fora do autódromo. De um “orellón”, como disse. “Não seria ‘orejón’?”, perguntei. “Não, na Catalunha é ‘orellón’ mesmo, com dois L e acento no ‘o'”, respondeu. Falou que lá dentro está tudo grampeado. Por isso não quis correr riscos. Se a Ferrari souber que ele anda passando o serviço, perde o emprego. E olha que sua função é importante. Não sei direito o que faz, mas um dia me garantiu que, sem ele, carro nenhum sai do box. Desconfio que ele tenha a chave da porta do box. Às vezes acho suas informações meio fantasiosas, mas enfim…

Bem, que pasa?, perguntei. Vocês não levaram um pacote aerodinâmico, difusores duplos, motorhome novo, asas lindas e faceiras, carenagens exuberantes e tudo mais? Não era para começar a reação?

E começamos, ora! O clima era de muita alegria nos boxes, me garantiu Gola. Kimi estava feliz. Saiu do carro perguntando do Bourdais. Onde ficou o Bourdais, onde ficou o Bourdais?, ele repetia, e quando contaram que ficou uma posição atrás, nos tempos somados, abraçou seu engenheiro e gritou “chupa, palhaço francês quatro-olhos!”, para ouvir de volta “é isso aí, chupa, vesgo de merda!” e “toma, comedor de baguete!” de seus mecânicos.

Kimi ficou em 12º. Bourdais, 13º. Mas o Buemi ficou na frente, argumentei. “O Kimi está cagando para o Buemi. Acha o Buemi muito feio, diz que não come ninguém. É que nem o Kubica”, informou Gola. Perguntei se neste momento não seria o caso de Raikonen se preocupar não com a feiura do Buemi, nem com os óculos do Bourdais, mas sim com o desempenho do seu carro, que mesmo todo renovado e remodelado e redesenhado voltou a andar atrás. “Claro que sim. Mas nossa briga é com o Sutil e com o Fisichella, e por isso estamos aliviados. Andamos na frente dos dois hoje.” É verdade.

E o Felipe?, perguntei. “Satisfeitíssimo!”, respondeu de bate-pronto o Gola. Mas ficou em antepenúltimo nos tempos somados!, espantei-me. Gola nem esperou que eu continuasse. “Pode parar, vocês só veem o lado negativo. Felipe vai ser pai. Ainda não anunciou no Faustão, nem no Luciano Huck, nem no ‘Bem, Amigos’, mas vai ser pai. A Ferrari compreendeu este momento. Deu a ele um automóvel muito seguro. Um pouco mais lento, é verdade, mas a hora é de cuidar da prole que vem por aí. A mulher de Felipe não pode passar por nenhum susto. Ela tem de ver o marido pela TV guiando com tranquilidade e sem correr riscos. Só assim a criança vai nascer sem sobressaltos. O parâmetro para o acerto do carro foram as voltas do medical-car quinta-feira. Felipe ficou muito feliz ao saber que virou tempos semelhantes. Afinal, é uma Mercedes. Disse que estamos no caminho certo.”

Bem, se é assim, se estão todos alegres e com a sensação do dever cumprido, acho que não temos muito mais para conversar, disse a Gola, percebendo que o tempo da ligação já passava do razoável, telefonema internacional ainda é caro. Aliás, só me ligue amanhã se tiver algo bombástico para contar, porque essa felicidade contagiante não me serve, acrescentei. “Eu tenho, sim, uma notícia que vai abalar as estruturas”, respondeu Gola, depois de alguns instantes de silêncio. Também fiquei em silêncio do outro lado da linha, esperando o que viria. “Estamos pensando em impugnar o campeonato.” Continuei em silêncio. “Tem a ver com o Rubinho. Ele tinha jurado, quando saiu daqui, que nunca mais assinaria um contrato parecido. Temos provas, foi publicado nos jornais. E assinou. Isso não pode, é sacanagem. Já estamos atrás dos nossos advogados e…” nessa hora achei que Gola Profonda estava dando uma de Hortência e desliguei.