Blog do Flavio Gomes
F-1

BARCELONETAS (7)

SÃO PAULO (entendi) – Gola Profonda ligou. Na verdade, era ele bem cedinho, depois da dobradinha da Ferrari no último treino livre. Não atendi. O telefone estava lá embaixo, tive preguiça de descer. “Uma pena, você perdeu o champanhe”, me disse. Como, perdi? Não se bebe champanhe pelo telefone, argumentei. Mas teve champanhe? Por resultado […]

SÃO PAULO (entendi) – Gola Profonda ligou. Na verdade, era ele bem cedinho, depois da dobradinha da Ferrari no último treino livre. Não atendi. O telefone estava lá embaixo, tive preguiça de descer. “Uma pena, você perdeu o champanhe”, me disse. Como, perdi? Não se bebe champanhe pelo telefone, argumentei. Mas teve champanhe? Por resultado de treino livre? “A esta altura, amigo, a gente comemora até troca de pneu mais rápida em intervalo de treino. Quinta-feira, quando estávamos levando os carros para a vistoria, empurrando pelo pit-lane, nossos mecas ultrapassaram um carro da Brawn. Até o Luca ligou para dar os parabéns”, contou. Luca, o presidente?, perguntei. “Ele mesmo”, disse Gola.

Bom, e aí? Dobradinha em treino livre, quer dizer que deu tudo certo? A Ferrari voltou? Ganha amanhã? “Calma, calma”, falou o Gola. “Preciso te contar algumas coisas…”. E desandou a falar.

“Aquele vídeo de ontem no YouTube pegou muito mal. Hoje de manhã, quando chegamos ao autódromo, o engenheiro do Kimi veio falar comigo. Pediu para tirar o KERS do carro dele e colocar no do Felipe. Foi isso que aconteceu. Felipe andou com dois KERS. Por isso foi tão bem. Quando o Kimi foi para a pista, percebeu que estava sem KERS. Perguntou pelo rádio o que estava acontecendo. Três vezes. Aí o engenheiro respondeu: não precisa me perguntar a cada volta, a cada curva. Eu estou vendo que você está sem KERS, as luzes mostram. Aí ele cortava o rádio e cagava de rir. Então o Kimi voltou para os boxes. E perguntou onde estava o engenheiro. Queria encher ele de porrada. Aí entro eu de novo. Fiz um negócio no cinto de segurança dele, de manhã. Só abria com timer, depois do Q1. Ele ficou preso no carro. Quando abriu, o engenheiro já estava nas Ramblas. Mesmo assim, o Kimi ficou feliz. Em que posição está o Bourdais, aquele francês míope com cara de Kafka?, perguntou. Dissemos a ele que ficou em 17º. Atrás de mim ou na minha frente? Atrás, respondemos. Então Kimi abriu um sorriso e disse ‘chupa, comedor de crêpe au Grand Marnier’. Mas o Buemi está na frente, dissemos, uma na frente e outro atrás, e Kimi abriu outro sorriso: três Ferraris juntinhas, isso é que é equipe.”

E o Felipe?, perguntei. “Preocupadíssimo.” Silêncio. “O carro melhorou. E ele vinha dizendo que o campeonato tinha acabado, que só no ano que vem, que estava tudo perdido, que as outras equipes estavam melhorando também. Tanto que quando entrou nos boxes, nosso projetista entrou no rádio sem permissão e disse ‘chupa, palhaço’, e eles bateram boca, o Felipe falou que ele não projeta nem carrinho de rolimã, que fez esse carro copiando desenhos de crianças do pré-primário, que está com saudades do Ross Brawn e do Rory Byrne e do Jean Todt, aí entrou o Domenicali no rádio, o cara da cozinha, a moça da faxina, virou um puta bate-boca, e a gente escutando tudo, e foi quando o Schumacher mandou todo mundo calar a boca e acabou com aquela discussão. Felipe, ele disse, você está atrás do Rubinho. Ficou aquele puta silêncio no rádio, todo mundo parou de falar e, neste exato momento, estão todos muito deprimidos. Menos o Kimi, que ficou na frente do Bourdais e fica falando ‘chupa francês de mèrde’ o tempo todo.”

É uma equipe meio atrapalhada, a Ferrari. Mas melhorou, sem dúvida.