Blog do Flavio Gomes
F-1

DE SAÍDA (2)

SÃO PAULO (será?) – Estou aqui com o comunicado emitido hoje pela Ferrari, ameaçando deixar a F-1 se passar a regra do teto orçamentário proposta por Max Mosley. Basicamente, para quem chegou de Marte hoje, a FIA quer estabelecer o máximo de 40 milhões de libras (dá quase 130 milhões de reais) como orçamento das […]

SÃO PAULO (será?) – Estou aqui com o comunicado emitido hoje pela Ferrari, ameaçando deixar a F-1 se passar a regra do teto orçamentário proposta por Max Mosley. Basicamente, para quem chegou de Marte hoje, a FIA quer estabelecer o máximo de 40 milhões de libras (dá quase 130 milhões de reais) como orçamento das equipes para o ano que vem. Quem topar vai ter várias liberdades técnicas, como mais tempo de uso de túnel de vento, possibilidade de mexer nos motores, testes, peças aerodinâmicas diferentes e sei lá mais o quê.

Quem não topar terá de correr numa camisa-de-força.

Com isso, teríamos dois regulamentos distintos: um para quem quer gastar menos, outro para quem quer gastar os tubos.

É uma sandice, evidentemente. Teríamos carros muito diferentes entre si e desempenhos igualmente díspares. Se com uma merdinha de um difusor a Brawn já voa em relação à Ferrari, por exemplo, imagine-se o que aconteceria se um carro pudesse, sei lá, usar uma asa flexível e o outro, não.

Na verdade, Mosley sabe que é uma coisa esdrúxula, e está forçando a barra para todos aceitarem e, assim, reduzir os custos e atrair mais equipes. É aspiração legítima, embora eu não consiga entender como ele pretende controlar os gastos de tanta gente em países distintos. Teríamos, por exemplo, um orçamento pré-determinado para a compra de macarrão e trufas? A Ferrari não poderia apresentar uma nota fiscal de trufas caríssimas e usar a grana para fabricar pistões de criptonita?

Não vai dar certo, é óbvio.

No passado, Mosley conseguiu o que queria sugerindo essas ideias doidas para, depois, negociar com todo mundo e chegar a soluções razoáveis. Mas no passado não existia a FOTA, a associação das equipes. Existia a FOCA nos tempos de Balestre, que era presidida por Bernie Ecclestone, e que deixou de ter função quando Bernie passou a comandar o negócio todo. Aliado a Mosley, ele resolvia o que iria passar ou não, em termos de regulamento. E comunicava aos times, que comiam em sua mão porque a chave do cofre era dele.

Com a FOTA, criada no ano passado, tudo mudou. Luca di Montezemolo é o presidente. Ele é a Ferrari. Sem Ferrari, o que seria da F-1?

E chegamos ao ponto inicial deste texto. A Ferrari está dizendo que sai se o teto passar. Já tem, como aliadas, a Red Bull, a Toro Rosso, a BMW Sauber e a Toyota.

O comunicado começa dizendo que nos três primeiros meses deste ano a fábrica italiana arrecadou 441 milhões de euros, apenas 3,2% menos do que no mesmo período do ano passado. O lucro foi de 54 milhões de euros, 8,5% menos do que nos três primeiros meses de 2008.

Apesar da crise, portanto, tudo corre bem pelos lados de Maranello.

Aí o texto diz que o “board” de diretores, depois de avaliar os ótimos resultados do trimestre etc e tal, examinou as últimas do Conselho Mundial da FIA, “que determinou que em 2010, pela primeira vez na história da F-1, o campeonato terá dois regulamentos baseados em um regulamento técnico arbitrário e em parâmetros econômicos”.

Diante disso, diz o corpo de diretores, se essa balbúrdia persistir, “a ininterrupta participação de mais de 60 anos da Ferrari, única que esteve em todos os Mundiais desde 1950, chegará ao fim”. E aí soltam-se os cães. A equipe diz que está decepcionada com os métodos da FIA, com sua recusa em ouvir os construtores, com a traição ao compromisso pela estabilidade da categoria estabelecido nos últimos 25 anos e tudo mais.

“As mesmas regras para todas as equipes, a estabilidade do regulamento, a continuidade no esforço da FOTA para reduzir os custos e o gerenciamento da F-1 são prioridades para o futuro. Se esses princípios indispensáveis não forem respeitados e as regras para 2010 não mudarem, a Ferrari não tem a intenção de inscrever seus carros para o próximo Campeonato Mundial de F-1”, continua o comunicado. E finaliza dizendo que seus fãs em todo o mundo haverão de compreender a decisão.

Bem, é a primeira vez que a Ferrari fala oficialmente em deixar a categoria depois do surto de Mosley em prol do teto orçamentário. A coisa começa a ficar séria. Não sei onde isso vai parar, mas imagino que Max vá negociar. Bernie acha que aos poucos, lentamente, em suas palavras, o teto vai desaparecer. Chegar-se-á a um acordo.

É o mais provável. Mas, até lá, vai ter briga. Ao final dela, alguém sairá muito fortalecido. Creio que as equipes. Max vai perder a força. E Ecclestone, como sempre, arrumará uma jeito de ganhar dinheiro com isso.

Bem, escrevi um monte para dizer a mesma coisa que, resumidamente, gravei hoje para a TViG. O vídeo está aí embaixo. Desconsiderem a falta de foco. Usei uma filmadora de Super-8 que acabou de chegar de Leipzig.