Blog do Flavio Gomes
F-1

FISH AND CHIPS (7)

SÃO PAULO (lá vem marretada) – É verdade, no ano retrasado, como lembrou um blogueiro, eu não escrevi que Vettel já tinha feito mais do que Senna depois de um quarto lugar na China. Disse que tinha feito mais do que Hamilton, àquela altura já alçado à condição de gênio pela sequência de pódios e […]

SÃO PAULO (lá vem marretada) – É verdade, no ano retrasado, como lembrou um blogueiro, eu não escrevi que Vettel já tinha feito mais do que Senna depois de um quarto lugar na China. Disse que tinha feito mais do que Hamilton, àquela altura já alçado à condição de gênio pela sequência de pódios e pela luta para ser campeão logo no ano de estreia. Eu relutava um pouco em considerar Lewis um sobrenatural, porque afinal de contas o cara fazia sua primeira temporada com um canhão nas mãos, privilégio de poucos. Depois mostrou ser acima da média, sim. Ganhou o título no ano passado e, agora, está passando por aquilo que deveria ter passado antes, no começo da carreira: lidar com um carro ruim.

Mas Hamilton já é uma realidade, campeão do mundo, quando voltar a ter um carro bom voltará a ser protagonista. Voltemos a Vettel.

No mesmo texto linkado acima, eu dizia também que o quarto lugar em Xangai, na opinião deste modesto blogueiro, equivalia ao segundo lugar de Senna em Mônaco. Está no fim daquela coluna. O que, já à ocasião, despertou a ira da pachecada.

Para dizer a verdade, em 2006 eu já ficara muito impressionado com Tião Alemão, que aos 19 anos, com um carro da BMW Sauber, fizera o melhor tempo no treino de sexta na Turquia, naquela temporada em que os times podiam usar um terceiro piloto nos finais de semana de GP. Era a quarta vez que sentava num F-1. Por melhor que fosse o carro, não foi algo normal.

No ano passado, depois que venceu em Monza com a Toro Rosso, aí sim fiz um paralelo entre aquele resultado e, de novo, o segundo de Ayrton em Monte Carlo, sempre evocado por aqueles que consideram o brasileiro um ser acima do bem e do mal, o melhor de todos os tempos, o cara que foi capaz de fazer aquilo tudo com uma Toleman. Esse post é até hoje um dos cinco mais comentados da história do blog. A maioria achando que sou doido por ousar comparar alguém como Senna a um fedelho como Vettel. Como se sabe, comparar qualquer um a Senna, no Brasil, é um convite para ser esculhambado.

Paciência. Sebastian, com seu breve currículo de três vitórias em duas temporadas incompletas na F-1, já fez mais que Senna no mesmo período, digamos assim. E me parece com potencial para atingir números e marcas que o brasileiro alcançou. Ayrton era considerado muito promissor — e respondeu plenamente às expectativas com vitórias e títulos — pelas proezas que obtivera nas categorias menores e, também, com carros que não estavam entre os favoritos no seu início de carreira na F-1.

A passagem de Vettel pelas categorias menores foi mais fugaz, hoje começa-se mais cedo. Senna estreou na F-1 com 24 anos. Sebastian, com 19. Mas ele tem, no currículo, algumas temporadas impressionantes, sim, no kart e na F-BMW. E quando sentou como titular num F-1, começou a impressionar ainda mais. Como Ayrton, de certa forma. Por isso, não é nem um pouco descabida a comparação entre os dois. Que não tem como objetivo dizer “Vettel é melhor que Senna” ou “Vettel nunca será melhor que Senna”. Mas, sim, poder afirmar que estamos vendo o nascimento de um cara que pode vir a ser tão bom quanto, com uma trajetória semelhante.

Só isso. Vettel pode vir a ser um piloto com currículo mais expressivo do que Ayrton (e, se conseguir superar a folha corrida do brasileiro, mais expressivo do que a imensa maioria dos pilotos que já passaram pela F-1). É candidato a ser um dos grandes de todos os tempos, como em algum momento foram Alonso e Hamilton, por exemplo. Ambos, sem dúvida, já inscreveram seus nomes na história, mas ainda estão longe de entrar naquela seletíssima categoria de gênios de verdade — que tem meia-dúzia, se tanto (OK, querem lista, vamos a uma lista: Schumacher, Prost, Senna, Piquet, Lauda, Emerson, dos que vi).

Vettel está nascendo como grande estrela diante de nossos olhos. E é legal acompanhar o alvorecer de uma estrela.