Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE NELSINHO

SÃO PAULO (é lindo o sol no inverno) – No exato instante em que escrevo, Nelsinho Piquet ainda não foi oficialmente demitido pela Renault. Pode ser que nem seja, ou pode até já ter sido, mas nenhum anúncio oficial foi divulgado. Os indícios são fortes, porém, de que é só uma questão de tempo. O maior deles […]

SÃO PAULO (é lindo o sol no inverno) – No exato instante em que escrevo, Nelsinho Piquet ainda não foi oficialmente demitido pela Renault. Pode ser que nem seja, ou pode até já ter sido, mas nenhum anúncio oficial foi divulgado. Os indícios são fortes, porém, de que é só uma questão de tempo. O maior deles vem, curiosamente, da página do piloto no Twitter, que tem sido sua grande ferramenta de comunicação. Ele retirou a expressão “Renault driver” de sua biografia. E ficou quase dois dias sem “twittar”, o que indicaria que alguma coisa estava acontecendo. Voltou agora há pouco, dando indiretas sobre a quantidade de testes que fez na pré-temporada.

Fonte muito próxima ao piloto contou ao Victor Martins que a briga tem sido dura entre Nelson-pai e Flavio Briatore por causa da tal cláusula de performance. Argumento do pai: se os dois pilotos não têm equipamento igual, algo admitido pelo time em algumas corridas (na Alemanha foi assim), como é que se pode cobrar performance? A falta de equipamentos iguais anularia a tal cláusula.

Briatore e Piquet-pai se conhecem faz muito tempo. As discussões entre os dois são muito duras, de acordo com os relatos que temos. E o clima na Renault, pesadíssimo. Piquet-pimpolho, claro, não quer perder o emprego. Sabe que vai ser difícil arrumar outro na F-1. Mas, na prática, ficaria aliviado se deixasse o time francês. Onde não encontrou ambiente nem de longe parecido com o que sempre teve na carreira, nas equipes que o pai montou para ele.

Do ponto de vista técnico, Nelsinho, de fato, não vem fazendo nada que justifique sua permanência na F-1. No ano passado, teve um único momento de brilho, o segundo lugar na Alemanha. Mas foi muito circunstancial, graças a um safety-car etc. No mais, só decepções. Muitos erros, rodadas, batidas, classificações ruins. Na Alemanha, pela primeira vez conseguiu largar na frente de Alonso. Precisou de 27 GPs para isso. É muita coisa, mesmo sabendo-se que Alonso é um piloto muito melhor. Foram muitas degolas no Q1, raríssimas presenças no Q3.

O fato de ter equipamento pior em algumas corridas e de ter feito menos testes na pré-temporada que Fernando atenua, mas não justifica o mau desempenho em geral de Piquet-pimpolho. Em quase todos os times é assim, um testa mais, outro testa menos, um tem tratamento melhor, outro pior. Ainda mais agora que os testes são proibidos e que os times mexem nos carros a cada corrida, experimentando coisas novas para ver se elas funcionam. Até a McLaren fez isso em Nürburgring. O carro de Hamilton era completamente diferente do de Kovalainen.

Apesar das dificuldades, comuns a todos os estreantes, esperava-se mais de Piquet-filho. Não só pelo sobrenome, mas também pelo que fez nas categorias menores. É verdade que sempre teve equipamento bom e um time montado à sua volta, mas mesmo assim é preciso saber guiar para conseguir resultados. E ele teve bons resultados nas divisões de base do automobilismo.

Só que, na F-1, tem sido fraco demais. Neste ano, é um dos quatro pilotos que ainda não pontuaram, ao lado da dupla da Force India e de Kazuki Nakajima — uma versão nipônica de Nelsinho, por assim dizer. Uma dispensa no meio do ano, portanto, não representa injustiça alguma — insisto, do ponto de vista técnico. Não terá sido a primeira. Entre brasileiros, há o exemplo recente de Antonio Pizzonia, que também era o bicho nas categorias menores e, na F-1, foi um desastre.

O futuro de Nelsinho na profissão se complica com a demissão iminente. A imagem que deixou é péssima e duvido que alguma equipe queira contratá-lo para 2010. Mesmo com vagas sendo abertas no ano que vem em novos times, eu diria que a fila de candidatos tem gente com atrativos maiores do que alguém que, por enquanto, só possui um sobrenome famoso. O trabalho de Nelsão será árduo para recolocá-lo. E, se conseguir, Nelsinho terá de mudar radicalmente sua maneira de encarar a F-1. Será preciso, antes de mais nada, entender que os tempos em que era levado no colo do papai até o cockpit já terminaram.