Blog do Flavio Gomes
#69

AMAZING

SÃO PAULO (sono monstro) – Fosse o sistema de pontuação da nossa Classic Cup igual ao último da F-1, e o bravo Meianov teria feito seu primeiro ponto hoje. Na primeira corrida do ano, preliminar dos 1000 Km de Interlagos, o filhote da Mãe Rússia terminou em oitavo lugar. Na geral, entre 25 carros que largaram. […]

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SÃO PAULO (sono monstro) – Fosse o sistema de pontuação da nossa Classic Cup igual ao último da F-1, e o bravo Meianov teria feito seu primeiro ponto hoje. Na primeira corrida do ano, preliminar dos 1000 Km de Interlagos, o filhote da Mãe Rússia terminou em oitavo lugar. Na geral, entre 25 carros que largaram. Dá para acreditar? Acho que foi uma façanha… E na minha categoria, a Divisão B (para carros entre com motores de 1.401 cc a 1.600 cc), quarto colocado entre 13 participantes.

Nada mau, nada mau. Desconfio que fiz minha melhor corrida, embora não tenha tido essa sensação dentro do carro a partir da metade da prova. Saquei que tinha feito uma boa largada, boa mesmo. Pulei de 12º no grid para sétimo ou oitavo no S do Senna, e foi em quinto, quinto!, que fechei a primeira volta. Na minha categoria, em primeiro. Nunca tinha acontecido nada muito parecido comigo. Liderança, para mim, é algo mais distante que os anéis de Saturno.

O domingo amanheceu bonito, com sol, mas choveu a noite toda e a prova começava às 9h. Assim, pegamos o asfalto bem molhado. Gosto de andar na chuva, mas não gosto quando a pista vai secando. Ou molha ou sai de cima. Por isso, meu começo de prova foi melhor que a segunda metade — esta, apenas correta, e ainda com uma rodada que me custou uma posição no fim.

Para ganhar alguma coisa na largada, aproveitei meu equipamento proibido de fotocélula e o sistema de largada automática-digital, que consiste em olhar com atenção para o semáforo (fotocélula), enfiar o pé no acelerador de qualquer jeito (automático) e mandar o dedo do meio pra todo mundo (digital). Fui driblando alguns carros que vacilaram e estavam à minha frente, desviei da porrada feia entre o Adriano Xupisco e o Paulo Sousa (o vídeo está aqui e é impressionante) e, quando vi, estava atrás só do Nenê Finotti (Karmann-Ghia), dos dois Passats do Carlão e do Braz e do Chevette do André Mello. Uau.

Um pouco mais e o João Harmel me passou com o Passat #30, e o Fernando Daier chegou de Fusca AP, e tivemos uma briga das mais divertidas (tem uma sequência de fotos do Rodrigo Ruiz aqui), naquele sabão desgraçado que estava o asfalto. Os carros dos dois são mais rápidos, de 4 a 5s por volta no seco, mas no molhado equilibrei a coisa enquanto deu. Depois que me passaram, assim como o Rafael Preto com o Puma #43, a pista foi secando, embora nenhum deles conseguisse escapar demais. Só que acabei rodando no S do Senna, e se já estava difícil, depois disso alcançá-los seria impossível. Andei sozinho até o fim, mas me virando para não acabar na grama. A merda é que perdi 10s nessa cagada, e a duas voltas do fim outro Puma, do Ricardo Magnusson, me passou. Cheguei 8s atrás dele ao final da prova. Poderia ter ficado em terceiro na minha categoria e sétimo na geral. Paciência…

Mesmo assim, uma turma boa que ficou para trás na largada não conseguiu chegar no Meianov ao longo das 13 voltas da corrida. E, assim,  o oitavo lugar acabou sendo o melhor resultado de um carro russo em Interlagos desde 1940, e o melhor de um soviético no Brasil desde a queda do último czar. Amanhã é capaz de chegar um telegrama do Putin em casa.

Nunca na história deste piloto tantos cumprimentos foram recebidos no caminho de volta para os boxes, de gente que viu a corrida e de quem estava correndo. Fiquei contente, hoje. Carros de corrida sabem ser generosos, às vezes.

Apesar da rodada, consegui levar o russinho até o fim numa condição muito difícil. Minha melhor volta foi em 2min31s, 15s mais lento que na classificação, no seco. O Nenê, que venceu de ponta a ponta, virou 1min59s na classificação e 2m17s na corrida. Ou seja, como diria Luciano Burti: perdi menos que nosso melhor piloto, no molhado.

Como tínhamos combinado de entregar seis troféus por divisão, acabei beliscando unzinho com meu quarto lugar. E na divisão que tinha mais carros, 13, contra 7 da C (acima de 1.600 cc) e 5 da A (até 1.400 cc).

Piloto, ou gente metida a piloto, o que é meu caso, adora um elogio e por isso fiquei muito contente ao ouvir “corridão!” de um, “puta largada!” de outro, “que largada foi aquela?” de mais um. Esse “mais um” foi ninguém menos que o Rodrigo Mattar, da Sportv, e o “outro”, Lito Cavalcanti, seu colega. O Lito estava com um colega jornalista inglês, da “Autosport”, James. O cara tinha ficado encantado com o Meianov antes da corrida, não acreditava que havia um Lada correndo por aqui. Quando terminou, foi ao Parque Fechado junto com o Lito e, todo entusiasmado, disse que minha primeira volta foi “amazing!”.

Nunca imaginei que, a essa altura da minha vida, ainda fosse capaz de fazer alguma coisa “amazing”.