Blog do Flavio Gomes
#69

MAIS SOBRE ONTEM

SÃO PAULO (tudo passa) – Tem toda razão o comendador Claudio Ceregatti quando diz que o tempo ajuda a aplacar a raiva que um piloto (ou dublê de, como eu) faz uma cagada e bate quando tinha uma corrida na mão. Claro que eu não ia ganhar nada ontem, mas acho que chegaria entre os […]

SÃO PAULO (tudo passa) – Tem toda razão o comendador Claudio Ceregatti quando diz que o tempo ajuda a aplacar a raiva que um piloto (ou dublê de, como eu) faz uma cagada e bate quando tinha uma corrida na mão. Claro que eu não ia ganhar nada ontem, mas acho que chegaria entre os dez primeiros na geral, o que para meu carro seria uma vitória.

Passada, ou quase, a raiva, vamos lá… O treino aconteceu bem cedo depois da tempestade que atingiu a zona sul. O Antonio Chambel, de Passat, fez a pole com 2min23s680, na pista molhada. Ele vira normalmente, no seco, em 2min02s, algo assim. Larguei em 21º com 2min38s794. Estava sem o hot lap, e não tinha muita noção das minhas voltas. Mas foi bom. O Tranjan “Trovão Azul” vira no seco, em geral, coisa de 6s mais rápido que eu. E se classificou em 14º com 2min35s078. O Marcelo Giordano, de 147, virou 2min31s895. No seco, faz 2min08s. Estava razoável.

A largada foi lançada como no ano passado, com ultrapassagens liberadas a partir do apagar das luzes vermelhas. Larguei bem e na freada para o S do Senna ganhei algumas posições e ali passei o Tranjan. Era uma boa referência, porque sabia que ele tinha largado bem à minha frente. Quem vem de trás tem certa vantagem, pode observar melhor o que se passa à frente e encontrar atalhos.

Houve um baita esfrega-esfrega nessa primeira volta. Me espantei ao passar o André Mello, com seu Chevette vermelho que anda pacas — ambos, carro e piloto. Toquei em alguns carros e fui tocado por outros. Mas deu tudo certo.

Nessas condições, ultrapassar é questão de paciência e percepção. E de um pouco de sorte para escapar de rodadas e escapadas dos outros, que sempre acontecem. Foram sete ultrapassagens na primeira volta, e a partir daí fiquei num bolinho com o Sebastião Gulla (Puma vermelho), o Fábio Steinbruch (Dodge 1800), o Luiz Gomes (Chevette #11) e o Du Lauand (Fusca). Um pouco mais atrás, chegando e brigando com outros, o Tranjan & sua trupe. O Gulla à frente, e todos nós trocando de posições ao longo das voltas, cada um tendo dificuldade num ponto. Dava para perceber, pelo espelho, que o pelotão um pouco atrás estava sofrendo, também (a foto é do Dyonysyo Pyerotty).

Estava muito difícil parar na pista, molhada e com óleo em alguns pontos onde as manchas ficam invisíveis, por causa da chuva. Uma hora, finalmente, consegui passar o Du em definitivo e também o Luiz ficou para trás. A briga ficou com o Steinbruch, que chegava muito no Gulla no miolo. Na subida da Junção, Fábio patinou no óleo, o carro destracionou e eu passei sem grande dificuldade. Até lá, a corrida tinha sido muito, muito divertida. E limpa, apesar de um ou outro apoio para fazer uma curva, que com a pista-sabonete é inevitável — acho que toquei no Du e no Luiz, e peço desculpas por isso.

Com a pista daquele jeito, é difícil fazer uma volta igual à outra. Porque em cada ponto de freada pode estar um carro, a cada curva você tenta uma coisa ou outra, toma um susto, percebe que melhorou, e assim vai. Quando bati, estava sozinho, já com o Fábio bem atrás, e o Gulla no meu campo de visão. Eu iria chegar nele no miolo, talvez até passar, porque seu carro é muito potente e ele tinha dificuldades para controlá-lo nos trechos de baixa.

Na aproximação para o S do Senna, puxei quarta e terceira, como sempre, mas na freada as rodas devem ter travado. Ele foi reto, e ali a área de escape é ótima. É só não se desesperar, soltar o carro, que dá para voltar. Dá para pensar em tudo isso, na hora, só que quando entrei na parte pintada de verde, o carro escorregou em direção aos pneus. Pelo ângulo de entrada, talvez eu conseguisse só esfregar na barreira e continuar. Mas não deu. Virei a direção um pouco para a esquerda, para não dar de frente, e o carro simplesmente foi reto. Aqui tem um vídeo. Acabou.

É um saco. Você sai do carro sem ação, procura olhares lá nos boxes, ou no terraço onde o pessoal vê as provas, não encontra, fica sentindo que decepcionou um monte de gente. Uma merda sem tamanho. Fiquei ali vendo o resto da corrida e, pelo que percebi, pelo ritmo da turma, que não melhorou demais, daria para manter minha posição atrás do Gulla, ou quem sabe à frente. Ele terminou em décimo, uma posição realista para mim.

Depois, soube que para o Giordano o dia foi mais dramático ainda. Ele colocou o 147 em sexto na geral nas primeiras voltas! Mas aí quebrou o filtro de óleo e o capô abriu, perdeu tempo nos boxes, foi lá para trás. Mas marcou, com sua bolinha de pingue-pongue, a sétima melhor volta da prova! Um espanto, realmente. Até chorou quando terminou a corrida, vencida brilhantemente pelo João Harmel, de Passat. Nos tempos de volta, ele foi, na prova, 9s pior que na classificação. Eu também: 2min47s394 na minha melhor, contra 2min38s no treino. Ou seja, eu não estava mal, não.

E corrida é isso. A gente até chora. O bom é que tem sempre a próxima.